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Aperto nos gastos supera meta do governo
União, Estados e municípios fazem economia de R$ 101 bi para pagar juros da dívida, R$ 10 bi acima do objetivo oficial
Tesouro vê resultado positivo para dívida pública,
que recua para R$ 1,150 tri, ou 42,8% do PIB, menor
proporção desde 98
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A exemplo do que ocorreu
nos últimos anos, o aperto fiscal feito pelo setor público em
2007 superou a meta fixada pelo governo. O conjunto formado por União, Estados, municípios e estatais economizou R$
101,606 bilhões para pagar os
juros de suas dívidas, uma folga
de mais de R$ 10 bilhões em relação à meta para 2007.
Inicialmente, a meta fiscal
previa que o setor público deveria acumular um superávit primário de R$ 95,89 bilhões em
2007, mas desse valor podia ser
descontado o dinheiro investido pelo governo federal em
projetos considerados prioritários incluídos no chamado PPI
(Programa Piloto de Investimento). Dos R$ 11,3 bilhões
previstos pelo PPI, foram efetivamente gastos R$ 5,1 bilhões.
Isso significa que o ajuste fiscal poderia ter sido de R$ 90,79
bilhões e, ainda assim, a meta
seria considerada cumprida. A
"sobra" de R$ 10,8 bilhões está
próxima, por exemplo, dos R$
10,4 bilhões previstos na proposta de Orçamento deste ano
para o Bolsa Família.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, o resultado fiscal de
2007 foi positivo, pois permite
a redução da dívida pública. Ao
final de 2007, ela havia chegado
a R$ 1,150 trilhão, o que equivale a 42,8% do PIB -essa proporção atingiu o nível mais baixo já registrado desde 1998.
"[Os números] mostram que a
responsabilidade fiscal existe,
que as metas estabelecidas são
cumpridas e que a dinâmica da
dívida é de queda", afirma.
Já o economista Francisco
Lopreato, da Unicamp, diz que
a distância entre o resultado e a
meta mostra que há espaço para um aumento nos investimentos públicos no país. "Não
precisa ser mais realista que o
rei. Não digo para abrir mão do
ajuste [fiscal], mas não é preciso fazer um superávit maior
que a meta. Poderiam aumentar um pouco o investimento
sem afetar a estabilidade", diz.
Segundo Lopreato, a folga de
R$ 10,8 bilhões entre o resultado e a meta original não faria
muita diferença para a dinâmica da dívida pública, já que, só
em 2007, os gastos do governo
com juros foram de R$ 159,532
bilhões, praticamente sem alterações em relação aos R$
160,027 bilhões de 2006. A folga, diz, seria mais bem aplicada
em investimentos.
O economista Bráulio Gomes, da LCA Consultores, lembra ainda os possíveis efeitos
que o agravamento da recente
crise nos mercados financeiros
pode ter sobre os resultados fiscais neste ano. Segundo Gomes, nos últimos meses já se vê
um aumento nos juros praticados no mercado, o que faz com
que o Tesouro Nacional gaste
mais para emitir seus títulos.
Essa alta dos juros, diz o economista, pode ser preocupante
porque, apesar da queda da dívida pública como um todo, a
dívida interna tem crescido,
chegando, em dezembro, a seu
valor mais elevado desde 1991.
Por outro lado, Gomes diz
que, devido ao grande volume
de reservas em moeda estrangeira acumulado pelo governo
nos últimos anos, uma eventual
desvalorização do real decorrente da atual crise não traria
grandes prejuízos, pois uma alta do dólar valoriza essas reservas e reduz o endividamento.
"Não se tem mais aquele círculo vicioso do passado, quando a
alta do dólar aumentava a dívida, o que aumentava a desconfiança do mercado, o que levava
a novas altas do dólar."
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