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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Reforçar as defesas externas
Seria prudente continuar o trabalho de reforço de nossas defesas externas e dos demais indicadores do país
A SEMANA aqui no Fundo Monetário está bastante pesada.
Peço desculpas, leitor, por escrever o artigo de hoje às pressas.
Na quinta-feira da semana passada, discuti a gravidade da crise nos
Estados Unidos. Nesse meio-tempo,
o FMI divulgou novas projeções,
mais pessimistas, sobre o crescimento da economia americana e das demais economias avançadas. A decisão de ontem do Federal Reserve de
reduzir a taxa básica em mais 0,5
ponto percentual, depois de tê-la
cortado em 0,75 ponto percentual
apenas oito dias antes, confirma que
o banco central americano está correndo atrás do tempo perdido e muito preocupado com o risco de uma
recessão e seus desdobramentos.
Hoje quero tratar das repercussões dessa crise no Brasil.
Ninguém imagina, é claro, que o
nosso país ficará imune à crise, especialmente se ela for longa e profunda. Temos não só ligações comerciais
e financeiras com o resto do mundo
mas pontos de vulnerabilidade.
Menciono alguns deles.
A dívida pública e os ativos financeiros domésticos, por exemplo, são
de prazo relativamente curto. A taxa
de câmbio, volto a insistir, sofreu valorização excessiva nos últimos anos,
o que vem contribuindo para enfraquecer gradualmente a nossa posição externa.
Outro problema: a excessiva e prematura abertura financeira externa.
Desde a década de 1990, o Brasil liberalizou demais os fluxos de capital,
ou seja, as restrições à entrada e à saída de capitais foram muito reduzidas. Isso pode se tornar uma fonte de
problemas, caso venham a ocorrer
choques externos de grande magnitude.
Alguns números. Em dezembro
último, a dívida externa de curto prazo por vencimento residual chegou a
US$ 64 bilhões. O estoque de investimentos de portfólio de não-residentes (basicamente ações e títulos de
renda fixa) alcançou US$ 204 bilhões. O passivo externo de curto totalizava, portanto, algo como US$
270 bilhões em fins de 2007.
As reservas estavam em US$ 180
bilhões em fins de dezembro e chegaram a US$ 186 bilhões anteontem.
Portanto, a relação reservas/passivo
externo de curto prazo era aproximadamente 67% em dezembro. Essa
relação vem aumentando, pois estava em 57% em dezembro de 2005 e
60% em dezembro de 2006. Ainda
assim, existe um risco de drenagem
externa, isto é, de pressão sobre as
reservas e/ou a taxa de câmbio, em
caso de saída de investimentos de
portfólio ou não renovação de dívidas de curto prazo.
Existe, além disso, um risco de drenagem interna, isto é, de pressão sobre as reservas ou o câmbio, se os residentes detentores de ativos financeiros líquidos ou de curto prazo em
reais resolverem convertê-los em
moeda estrangeira.
Não há dúvida de que a nossa posição econômica é mais forte do que
foi na década passada ou no início da
atual, por motivos que expliquei em
artigos anteriores neste espaço.
Mas seria prudente continuar o
trabalho de reforço das nossas defesas externas e dos demais indicadores econômicos do país. Isso inclui,
entre diversas outras providências:
a) fortalecer as contas do governo e
alongar gradualmente a dívida interna pública; b) garantir uma taxa
de câmbio competitiva, que favoreça o crescimento da economia e a
preservação de uma posição sólida
de balanço de pagamentos; c) uma
regulação cuidadosa e seletiva dos
movimentos de capital; e d) um esforço adicional para aumentar a razão reservas/passivos externos de
curto prazo.
Assunto indigesto para vocês que
estão felizes, aí no Brasil, já se preparando para o Carnaval.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa
um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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