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AVIAÇÃO
OMC analisa se a companhia brasileira recebeu financiamentos incompatíveis
Subsídios à Embraer são julgados hoje
RICARDO GRINBAUM
de Londres
O governo brasileiro conhecerá hoje a decisão da OMC (Organização Mundial do Comércio)
sobre a disputa comercial mais
valiosa que o país trava nos tribunais internacionais. Três especialistas da OMC anunciarão
à missão brasileira em Genebra,
na Suíça, seu veredito sobre os
financiamentos para a venda de
jatos pela Embraer, a maior exportadora do país.
O julgamento foi pedido pelo
Canadá, que acusa o Brasil de
conceder à Embraer subsídios
incompatíveis com as normas
do comércio internacional. Uma
acusação semelhante feita pelo
Brasil contra os empréstimos do
governo canadense para a Bombardier, concorrente da Embraer, também será julgada hoje
pela OMC.
O que está em jogo em Genebra é a disputa pelo mercado de
jatos para vôos regionais, que
movimenta cerca de US$ 2 bilhões por ano. Essa é uma das especialidades em que a indústria
brasileira é mais competitiva.
Quarta maior fabricante mundial de aviões comerciais, a Embraer tem uma carteira de encomendas de mais de US$ 17 bilhões.
Uma decisão desfavorável no
julgamento de hoje abrirá uma
brecha para que um país peça,
na própria OMC, retaliações comerciais contra o outro. Nas
contas do governo canadense, os
subsídios brasileiros levaram a
Bombardier a perder US$ 6,7 bilhões em negócios.
O Brasil diz que os números
canadenses são mais uma arma
de propaganda, num lobby
(pressão política) que já envolveu até deputados e senadores
norte-americanos em defesa da
Bombardier.
A disputa começou em 1996,
quando a Embraer ganhou uma
concorrência para a venda de jatos regionais para a companhia
aérea Continental Express. Em
um julgamento, no final do ano
passado, a OMC condenou parcialmente os dois países. Brasil e
Canadá receberam a recomendação de mudar, em 90 dias, os
programas de financiamento de
exportações de aviões.
O que está sendo julgado hoje
é se os dois países efetuaram as
mudanças exigidas pela OMC. O
Brasil teve de mexer no programa em que assume os custos
adicionais das empresas que pagam taxas de juros mais altas no
exterior devido ao risco atribuído ao país. Esses subsídios, que
foram reduzidos, fazem parte do
Proex (programa de financiamento às exportações).
Ainda há dúvidas se os governos do Brasil e do Canadá podem recorrer, dentro da própria
OMC, caso percam o julgamento de hoje. A derrota pode afetar
os governos e as empresas. Um
país pode pedir a imposição de
sanções comerciais a outro. Para
as empresas, o risco não se limita
a perder os empréstimos subsidiados. Num julgamento no ano
passado, a OMC condenou uma
companhia australiana a devolver os subsídios que havia recebido do governo.
Com tantos interesses em jogo, as empresas e os governos
usam todo o seu poder de fogo
em Genebra. A Embraer contratou três escritórios de advocacia
para ajudar o governo brasileiro.
Um escritório internacional de
advogados cobra entre US$ 150 e
US$ 130 por hora de trabalho. Os
canadenses conseguiram que
deputados e senadores dos EUA
pedissem limites aos empréstimos do FMI para o Brasil caso o
país não acabasse com os subsídios para a Embraer.
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