São Paulo, sábado, 31 de março de 2007

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PF desmonta "sistema bancário paralelo"

Organização criminosa atuava no Sul do país; 16 pessoas foram presas em Santa Catarina e 20 no Rio Grande do Sul

Grupo de SC movimentava cerca de US$ 10 mi por mês, e o do RS, cerca de R$ 1 mi por dia; advogado de presos evita comentar ação da PF


Ronaldo Bernardi/"Zero Hora"
Notas de dinheiro apreendidas pela PF em operação no Sul


CÍNTIA ACAYABA
SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal prendeu ontem pelo menos 36 pessoas -16 em Santa Catarina e 20 no Rio Grande do Sul- acusadas de integrar uma organização criminosa que controlava uma espécie de "sistema bancário paralelo" no Sul do Brasil.
Segundo a PF, a organização estava dividida em células, uma em cada Estado. O grupo catarinense movimentava cerca de US$ 10 milhões por mês, e o do Rio Grande do Sul, cerca de R$ 1 milhão por dia.
A Justiça Federal determinou ainda o bloqueio de 560 contas bancárias ligadas ao esquema.
De acordo com as investigações, a organização oferecia -sem o conhecimento do Banco Central- serviços bancários a empresários da região, como manutenção de conta corrente e investimentos e compra e venda de moeda estrangeira, além de envio de dinheiro para o exterior por meio de transações financeiras ilegais e não declaradas às autoridades.
Na manhã de ontem, a operação "Ouro Verde" -que ganhou esse nome em alusão à cor das cédulas de dólar- prendeu 16 pessoas em cidades catarinenses. Todas foram encaminhadas à sede da PF em Joinville (186 km de Florianópolis).
Das 16 prisões, 3 são preventivas (de 30 dias) -entre elas, a do acusado de liderar a quadrilha, Rogério Luiz Gonçalves, dono do grupo Roger, com cerca de dez empresas e sede em Jaraguá do Sul (187 km de Florianópolis).
Rogério e seu irmão Clóvis Gonçalves estão presos acusados de formação de quadrilha, descaminho, lavagem de dinheiro, funcionamento de instituição financeira sem autorização legal, entre outros.
Procurado pela Folha, o advogado dos irmãos Gonçalves disse que "não tem interesse em falar com a imprensa".
Segundo a delegada da PF Laura Tacca, que participou da coordenação da operação, uma das empresas que teria usado os serviços do "banco paralelo" era a AMC Têxtil Ltda., dona da marca de roupas Colcci.
Auditores da Receita foram até uma das empresas do grupo, em Jaraguá do Sul, com mandado de busca e apreensão para "recolher elementos de sonegação e evasão fiscal".
A reportagem entrou em contato com a sede da empresa, em Brusque, mas uma funcionária do setor de marketing disse que não sabia nada sobre o caso e que os diretores da empresa não estavam no local.
As investigações começaram em 2005 com a apreensão de US$ 20 mil que estavam sendo transportados para uma agência de turismo que atuava clandestinamente como casa de câmbio em Joinville.

Rio Grande do Sul
O esquema gaúcho de remessa ilegal de dinheiro ao exterior, com "braços financeiros" nos EUA e no Uruguai, baseado em importação de mercadorias, começou em 1996 e movimentou cerca de R$ 2,5 bilhões.
O superintendente da PF no Estado, José Francisco Mallmann, disse que as operações podem ter começado em 1986. Com isso, a movimentação financeira chegaria a um valor maior -R$ 5 bilhões.
Uma das financiadoras mais conhecidas de Porto Alegre, a Portocred, estaria supostamente envolvida nas remessas ilegais e reintrodução dos recursos no sistema financeiro brasileiro. Os três donos foram presos ontem. A reportagem não conseguiu falar com seus advogados.


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