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LUÍS NASSIF
Armínio Fraga e a crise
No início da noite de ontem, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, demonstrava tranquilidade que contrastava com o terremoto do câmbio durante o dia.
Em sua opinião, a estratégia geral para acalmar o mercado está definida e é uma combinação de fatores. O país como um todo está demonstrando maturidade e bom senso. A ida da missão do governo ao FMI será importante, só trará benefícios,
já que os recursos exercerão um efeito contracíclico sobre a falta de liquidez do mercado.
A tranquilidade de Armínio se explica pelos próprios argumentos que a missão levará aos EUA. O país tem um sistema financeiro sólido e um setor privado que, mesmo apertado pela falta de dólares, está se virando. A reconstrução da confiança
não se dará da noite para o dia,
diz ele, mas os elementos estão
aí, à mão. A economia está respondendo à desvalorização
cambial, o saldo comercial de
julho é enorme e, com o câmbio,
deverá aumentar mais ainda.
Por isso mesmo, esse "overshooting" do dólar não deverá se
manter, diz ele. A idéia com o
Fundo será montar um acordo
que garanta boa parte de 2003.
As diferenças serão mínimas
em relação ao acordo atual, diz
ele, nada que conflite com o que
os candidatos à Presidência
vêm defendendo em seus programas.
A idéia, agora, é que os candidatos aprofundem os debates,
especialmente no segundo turno, com o próximo presidente
se engajando no processo de
manutenção da estabilidade
econômica.
A redução das linhas comerciais não preocupa Armínio. O
estoque brasileiro de linhas de
comércio exterior é baixo. Antes da crise da Argentina, o estoque brasileiro era idêntico ao
do vizinho, com uma economia
quatro vezes maior. Agora, essa
desvantagem se transforma em
vantagem, com redução das
vulnerabilidades. Assim que
houver sinalização de entrada
de recursos, os bancos sairão da
retranca, recompondo as linhas
de crédito, acredita ele.
Armínio não considera relevantes os pré-pagamentos de
dívida externa que têm sido feitos, mas acredita que ajudarão
a reduzir as pressões futuras sobre o câmbio, assim como as
compras de dívida externa feitas pelo BC.
E ele evita definir prazo para
a conclusão do acordo com o
FMI. Conferir urgência às negociações fragilizaria a posição
negociadora do país. O acordo
tem de ser rápido, mas tem de
ser bom, diz ele. Mas a construção do acordo, aliada à virada
do balanço de pagamentos,
ajudará em breve a destravar
esse quadro de iliquidez, diz ele.
Quanto às declarações de
Paul O'Neill, o secretário do Tesouro norte-americano, Armínio continua sustentando que
se tratou, mais uma vez, de
mal-entendido, que não reflete
a posição do governo norte-americano. É chato porque não
é a primeira vez, diz ele, mas
não traz nenhuma consequência negativa para a missão brasileira que vai para o Fundo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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