São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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LUÍS NASSIF

Armínio Fraga e a crise

No início da noite de ontem, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, demonstrava tranquilidade que contrastava com o terremoto do câmbio durante o dia.
Em sua opinião, a estratégia geral para acalmar o mercado está definida e é uma combinação de fatores. O país como um todo está demonstrando maturidade e bom senso. A ida da missão do governo ao FMI será importante, só trará benefícios, já que os recursos exercerão um efeito contracíclico sobre a falta de liquidez do mercado.
A tranquilidade de Armínio se explica pelos próprios argumentos que a missão levará aos EUA. O país tem um sistema financeiro sólido e um setor privado que, mesmo apertado pela falta de dólares, está se virando. A reconstrução da confiança não se dará da noite para o dia, diz ele, mas os elementos estão aí, à mão. A economia está respondendo à desvalorização cambial, o saldo comercial de julho é enorme e, com o câmbio, deverá aumentar mais ainda.
Por isso mesmo, esse "overshooting" do dólar não deverá se manter, diz ele. A idéia com o Fundo será montar um acordo que garanta boa parte de 2003. As diferenças serão mínimas em relação ao acordo atual, diz ele, nada que conflite com o que os candidatos à Presidência vêm defendendo em seus programas.
A idéia, agora, é que os candidatos aprofundem os debates, especialmente no segundo turno, com o próximo presidente se engajando no processo de manutenção da estabilidade econômica.
A redução das linhas comerciais não preocupa Armínio. O estoque brasileiro de linhas de comércio exterior é baixo. Antes da crise da Argentina, o estoque brasileiro era idêntico ao do vizinho, com uma economia quatro vezes maior. Agora, essa desvantagem se transforma em vantagem, com redução das vulnerabilidades. Assim que houver sinalização de entrada de recursos, os bancos sairão da retranca, recompondo as linhas de crédito, acredita ele.
Armínio não considera relevantes os pré-pagamentos de dívida externa que têm sido feitos, mas acredita que ajudarão a reduzir as pressões futuras sobre o câmbio, assim como as compras de dívida externa feitas pelo BC.
E ele evita definir prazo para a conclusão do acordo com o FMI. Conferir urgência às negociações fragilizaria a posição negociadora do país. O acordo tem de ser rápido, mas tem de ser bom, diz ele. Mas a construção do acordo, aliada à virada do balanço de pagamentos, ajudará em breve a destravar esse quadro de iliquidez, diz ele.
Quanto às declarações de Paul O'Neill, o secretário do Tesouro norte-americano, Armínio continua sustentando que se tratou, mais uma vez, de mal-entendido, que não reflete a posição do governo norte-americano. É chato porque não é a primeira vez, diz ele, mas não traz nenhuma consequência negativa para a missão brasileira que vai para o Fundo.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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