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ANÁLISE/FRAUDES DO CAPITAL
A lei que Bush foi obrigado a assinar
DO "FINANCIAL TIMES"
Com uma penada vigorosa e aparentemente satisfeita, um dos presidentes norte-americanos mais conservadores do último meio século, George W. Bush,
assinou uma lei que representa uma das maiores expansões do papel do governo dos Estados Unidos na regulamentação do livre mercado.
É dessas ironias que a política moderna é feita. Mas a passagem da Lei Sarbanes-Oxley, que aumenta penas para executivos e endurece leis sobre a administração de empresas, por mais marcante que seja, não passa do primeiro
passo na satisfação de um apetite que parece cada vez maior, da parte do público norte-americano, por reforma ampla da governança corporativa dos EUA.
A despeito da súbita alta nos
preços das ações americanas registrada na semana passada, o governo, as agências regulatórias e o Congresso ainda têm muito que considerar antes que a confiança
no sistema de prestação de contas financeiras seja restaurada.
Como a lei vai funcionar
O primeiro desafio é implementar a estrutura legislativa mais ampla. A Lei Sarbanes-Oxley dá consideráveis poderes à Securities and Exchange Commission (SEC, agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza os
mercados de valores mobiliários) para executar os novos arranjos
de fiscalização corporativa.
Sob a presidência de Harvey Pitt, a organização [a SEC] não se distinguiu como instituição especialmente efetiva na defesa dos interesses dos investidores. A carga que ela terá de portar quanto à fiscalização da nova lei é especialmente pesada.
Uma tarefa imediata será indicar os membros do Conselho Supervisor de Contabilidade de Empresas Abertas. Essa nova organização terá poderes consideráveis de fiscalização sobre os balanços das empresas, e os contadores e
diretores que os produzem.
Independência
Garantir a independência do órgão deveria ser a maior prioridade da SEC. Sua posição se torna ainda mais importante à luz do fato de que dois dos cinco comissários da SEC eram sócios de empresas de auditoria, enquanto Pitt
mesmo ganhou milhões em honorários desse mesmo setor enquanto dirigia um escritório privado de advocacia. O novo conselho precisa ser composto por pessoas cuja independência não possa ser questionada.
Definir as fronteiras do trabalho
da nova agência é outra das tarefas da SEC. Questões até agora
não resolvidas -como a maneira
pela qual as empresas deveriam
tratar as operações de ações-
precisam ser decididas em favor
da máxima transparência.
A maior dúvida depois da Lei
Sarbanes-Oxley é o que mais deveria ser feito para corrigir alguns
dos defeitos que continuam a ser
expostos à medida que baixa a
maré da bolha dos anos 90. Diversas questões exigem escrutínio
mais aprofundado.
Promiscuidade no mercado
Os comitês do Senado mês estão
escavando novos detalhes sobre a
obscura e simbiótica relação entre
as empresas de Wall Street e as
companhias para as quais elas canalizam financiamentos. Os conflitos de interesse inerentes ao fato
de que as empresas de Wall Street
operam a um só tempo como
bancos de investimento e corretoras de valores deveriam ser solucionados.
Nesta semana, o "Financial Times" está relatando os saques
quase intoleráveis praticados por
executivos de primeiro escalão
contra empresas quase falidas, no
momento em que elas atravessavam crises graves. Diversas outras
questões da proteção das contas
de aposentadoria ao papel dos diretores precisam ser estudadas.
Todos esses problemas são críticos para a confiança do público
nas empresas norte-americanas.
O truque é como lidar com eles
sem criar uma camisa de força de
novos regulamentos, as quais restringiriam os executivos e sufocariam a inovação e o risco criativo.
Boa parte do trabalho pode ser
realizada por meio de um melhor
funcionamento das instituições
regulatórias já existentes, em lugar de novas e audaciosas iniciativas legislativas.
Tradução de Paulo Migliacci
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