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PERCEPÇÃO EXTERNA
Estagnação e tensões sociais reduzem otimismo de analistas e investidores com economia brasileira
Wall Street perde o encanto com Lula
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Chegou ao fim a fase de otimismo dos mercados financeiros internacionais com o governo petista do presidente Lula.
Sem previsões de crescimento
otimistas para este ano e dúvidas
sobre 2004, alguns dos principais
analistas nos EUA voltados para o
Brasil acreditam que as tensões
sociais no país devem aumentar.
Além disso, começam a ficar
surpresos com as dificuldades
que Lula enfrenta, após sete meses de governo, para aprovar as
reformas previdenciária e tributária no Congresso.
Mesmo entre os que ainda consideram adequadas as medidas
macroeconômicas adotas pelo
PT, há fortes críticas em relação à
concepção de programas governamentais e ao gerenciamento da
máquina administrativa.
"Houve uma deterioração na
percepção dos mercados. Há
muito ruído político no Brasil, as
reformas estão paradas e não há
expectativa de crescimento", afirma Walter Molano, sócio e chefe
de pesquisas financeiras da corretora BCP Securities. "Há uma
frustração entre as pessoas que
votaram em Lula com esperança e
que começam a ver que se trata de
mais do mesmo."
Para Felipe Illanes, diretor-adjunto para o Brasil da corretora
Merrill Lynch, "há evidências cumulativas de que a lua-de-mel
com o governo Lula se esgota".
"As dificuldades com as reformas pegam de surpresa o governo, que começa a recuar como
um bloco menos coeso. Tensões,
como no caso do MST, também
fazem com que a análise política
seja considerada de maior risco."
A mesma percepção aparece
entre analistas de órgãos desvinculados do mercado financeiro.
"Os tempos difíceis chegaram, e
a lua-de-mel de sete meses parece
ter chegado ao fim. Lula deu todos os sinais corretos e disse as
coisas certas no início, mas chegou a hora de entregar o que prometeu", afirma Miguel Diaz, diretor para América do Sul do Centro Internacional de Estudos Estratégicos de Washington.
Para Joel Velasco, vice-presidente da Stonebridge International, que representa multinacionais com negócios no Brasil, "a
bolha de otimismo com Lula esvaziou". "Não é o caos, como às
vezes exageram alguns. Mas é um
alerta para que o governo não
perca o rumo no momento em
que os grandes problemas do Brasil voltaram a ficar em evidência."
Nó do crescimento
A principal preocupação econômica em relação ao Brasil é como
o país conseguirá desatar o nó que
o impede de crescer.
"Todas as previsões mostram
uma redução das expectativas de
crescimento, o que deixa o Brasil
vulnerável tendo em conta o tamanho e a composição de prazos
de suas dívidas interna e externa",
afirma Vincent Truglia, diretor-gerente da agência de classificação de risco Moody's.
"O pior é que o obstáculo atual
ao crescimento não é o FMI, as
empresas ou o MST. São os juros
determinados por Brasília", diz
Molano, da BCP.
Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe para a América Latina do banco HSBC, reconhece
que há uma "inversão de expectativas" em relação às perspectivas
da economia do país. Mas afirma
que isso ocorre, em boa medida,
como "resultado do fim da euforia que existia há poucos meses".
Cunha, assim como Illanes, da
Merrill Lynch, afirma que boa
parte da mudança de percepção
tem a ver com a melhora das previsões para a economia dos EUA,
que tenderá a canalizar investimentos hoje concentrados em
países emergentes para a segurança e rentabilidade crescentes dos
títulos do Tesouro americano.
O economista-chefe do HSBC
qualifica, no entanto, como "medíocres ou equivocadas" várias
das "concepções e projetos" do
governo Lula. "O "estrondoso" Fome Zero é mal concebido, o
BNDES continua com uma posição pouco clara sobre o que fará e
o governo não tem feito nada, em
geral, em outras áreas em que precisaria ser ativo."
O economista John Williamson,
do Institute for International Economics (IIE) e considerado o
"pai" da expressão Consenso de
Washington, diz reconhecer a
existência de uma "onda de pessimismo" no momento, mas afirma que ela não deveria ser "levada muito a sério". "É natural que
os problemas comecem a aparecer depois de algum tempo."
Para Frederick Jasperson, diretor do Institute of International
Finance (IIF), o Brasil, apesar das
dificuldades, ainda tem chances
de ingressar em um "círculo virtuoso" no médio prazo. "Mas isso
só ocorrerá se a política monetária continuar disciplinada e as reformas passarem sem que sejam
muito diluídas."
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