São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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CAMINHONEIROS
Botelho calcula que metade da frota parou e repete que mobilização continuará durante 90 dias
Líder admite que greve perdia fôlego

free-lance para a Folha

e da enviada especial ao Rio

A greve dos caminhoneiros, encerrada anteontem após quatro dias de paralisação, não tinha mais fôlego para continuar, disse ontem o porta-voz do Movimento União Brasil Caminhoneiro, Nélio Botelho.
"Não tínhamos certeza de que haveria toda essa dimensão do movimento. Achávamos que não duraria mais de 48 horas", afirmou Botelho. Segundo ele, só a partir do desfecho da greve os caminhoneiros passaram a conhecer sua força. O líder do movimento estima que metade da frota de 1,5 milhão de caminhões de carga do país parou.
Botelho disse que os grevistas receberam doações de postos de gasolina e de pequenos comerciantes para financiar a greve, além da solidariedade de vários setores, incluindo empresas transportadoras. Negou, porém, que a greve tenha sido na verdade um movimento patronal.
Ele calcula que a paralisação -que gerou um prejuízo estimado de R$ 100 milhões, segundo avaliação de entidades de representação nacional de produtores agrícolas- tenha custado ao Movimento União Brasil Caminhoneiro menos de R$ 10 mil.
Botelho criticou o sindicalismo no Brasil, que considera "muito enfraquecido", e disse que a tendência dos caminhoneiros é um sindicalismo independente.
Ele afirmou não acreditar, no entanto, que a mobilização da classe sirva de base para um futuro movimento sindical. "Nenhum sindicato tem a força que os caminhoneiros têm."
Botelho disse que a categoria agora vai se empenhar em eleger candidatos e formar bancadas em todos os municípios e Estados. "Não sou candidato a nada, mas vamos nos empenhar em apoiar quem estiver disposto a defender nossos interesses, até para a Presidência da República". disse.
Ele atribuiu a responsabilidade pelo desabastecimento durante a greve ao governo federal, que, na avaliação de Botelho, foi "displicente pela falta de experiência em lidar com um movimento de tais proporções".
O porta-voz dos caminhoneiros reafirmou que a categoria permanecerá mobilizada e aguardará o prazo máximo de 90 dias previsto no acordo assinado com os ministros Eliseu Padilha (Transportes) e José Carlos Dias (Justiça) para que sejam cumpridos os seis itens propostos. Ele considerou que não é hora de falar na possibilidade de um retorno à greve.

Prazo
Botelho só arrancou palmas de seus liderados numa comemoração improvisada em frente à refinaria de petróleo de Duque de Caxias (RJ) depois de garantir que as principais reivindicações da categoria serão atendidas e não apenas estudadas pelo governo no prazo de 90 dias.
""O governo sabe que nasceu uma classe forte e vai cumprir tudo", disse, de cima da carroceria de um caminhão parado no acostamento da avenida Brasil, quase às 23h de anteontem.
Botelho prometeu até o que não foi formalmente acertado com o governo, como a liberação da ponte Rio-Niterói para o tráfego de caminhões a qualquer hora, o aumento da tabela de fretes, a recuperação de todas as estradas e o congelamento do preço do diesel por prazo indeterminado.
""E a aposentadoria?", cobraram no grupo de 30 caminhoneiros reunidos próximos a um posto de gasolina. ""Vamos tratar disso", afirmou.
Diante do receio de alguns caminhoneiros de sofrerem retaliações das empresas de cimento, o líder do movimento disse: "Não vou aceitar nenhuma represália".


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