|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMINHONEIROS
Botelho calcula que metade da frota parou e repete que mobilização continuará durante 90 dias
Líder admite que greve perdia fôlego
free-lance para a Folha
e da enviada especial ao Rio
A greve dos caminhoneiros, encerrada anteontem após quatro
dias de paralisação, não tinha
mais fôlego para continuar, disse
ontem o porta-voz do Movimento União Brasil Caminhoneiro,
Nélio Botelho.
"Não tínhamos certeza de que
haveria toda essa dimensão do
movimento. Achávamos que não
duraria mais de 48 horas", afirmou Botelho. Segundo ele, só a
partir do desfecho da greve os caminhoneiros passaram a conhecer sua força. O líder do movimento estima que metade da frota de 1,5 milhão de caminhões de
carga do país parou.
Botelho disse que os grevistas
receberam doações de postos de
gasolina e de pequenos comerciantes para financiar a greve,
além da solidariedade de vários
setores, incluindo empresas
transportadoras. Negou, porém,
que a greve tenha sido na verdade
um movimento patronal.
Ele calcula que a paralisação
-que gerou um prejuízo estimado de R$ 100 milhões, segundo
avaliação de entidades de representação nacional de produtores
agrícolas- tenha custado ao
Movimento União Brasil Caminhoneiro menos de R$ 10 mil.
Botelho criticou o sindicalismo
no Brasil, que considera "muito
enfraquecido", e disse que a tendência dos caminhoneiros é um
sindicalismo independente.
Ele afirmou não acreditar, no
entanto, que a mobilização da
classe sirva de base para um futuro movimento sindical. "Nenhum sindicato tem a força que
os caminhoneiros têm."
Botelho disse que a categoria
agora vai se empenhar em eleger
candidatos e formar bancadas em
todos os municípios e Estados.
"Não sou candidato a nada, mas
vamos nos empenhar em apoiar
quem estiver disposto a defender
nossos interesses, até para a Presidência da República". disse.
Ele atribuiu a responsabilidade
pelo desabastecimento durante a
greve ao governo federal, que, na
avaliação de Botelho, foi "displicente pela falta de experiência em
lidar com um movimento de tais
proporções".
O porta-voz dos caminhoneiros
reafirmou que a categoria permanecerá mobilizada e aguardará o
prazo máximo de 90 dias previsto
no acordo assinado com os ministros Eliseu Padilha (Transportes) e José Carlos Dias (Justiça)
para que sejam cumpridos os seis
itens propostos. Ele considerou
que não é hora de falar na possibilidade de um retorno à greve.
Prazo
Botelho só arrancou palmas de
seus liderados numa comemoração improvisada em frente à refinaria de petróleo de Duque de Caxias (RJ) depois de garantir que as
principais reivindicações da categoria serão atendidas e não apenas estudadas pelo governo no
prazo de 90 dias.
""O governo sabe que nasceu
uma classe forte e vai cumprir tudo", disse, de cima da carroceria
de um caminhão parado no acostamento da avenida Brasil, quase
às 23h de anteontem.
Botelho prometeu até o que não
foi formalmente acertado com o
governo, como a liberação da
ponte Rio-Niterói para o tráfego
de caminhões a qualquer hora, o
aumento da tabela de fretes, a recuperação de todas as estradas e o
congelamento do preço do diesel
por prazo indeterminado.
""E a aposentadoria?", cobraram
no grupo de 30 caminhoneiros
reunidos próximos a um posto de
gasolina. ""Vamos tratar disso",
afirmou.
Diante do receio de alguns caminhoneiros de sofrerem retaliações das empresas de cimento, o
líder do movimento disse: "Não
vou aceitar nenhuma represália".
Texto Anterior: Reclamação sobre a aposentadoria é geral Próximo Texto: Montadoras avaliam perda em RS$ 31 mi Índice
|