São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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NEGÓCIOS
Após um ano de negociações, Globopar se desfaz das ações na indústria; valor teria sido de US$ 50 mi
Globo vende a Nec para os japoneses

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

Depois de quase um ano de negociações, a Globopar (Globo Participações, empresa-mãe das Organizações Globo, da família Marinho), vendeu o controle acionário da Nec do Brasil para a Nec Corporation, do Japão.
O acerto entre os sócios se deu na madrugada de terça-feira (horário do Brasil), mas o contrato de venda só foi assinado ontem à tarde no Rio. Em seguida à assinatura, o presidente da Nec, Sérvio Túlio Prado, e os diretores técnico e de logística, que eram indicados pela Globo, deixaram os cargos.
O valor do negócio não foi revelado, mas há informação de que a venda teria sido selada por cerca de US$ 50 milhões, ou seja, menos da metade da cifra cogitada no início das negociações.
Em setembro do ano passado, quando a família Marinho manifestou pela primeira vez seu interesse em se desfazer das ações da Nec, a cifra colocada era de US$ 120 milhões, mas, de lá para cá, muita coisa mudou no cenário de atuação da empresa.
A Nec do Brasil teve seu apogeu durante o monopólio estatal das telecomunicações, mas perdeu espaço com a abertura do mercado de telecomunicações e a privatização do Sistema Telebrás.
As operadoras européias e norte-americanas, que compraram as telefônicas estatais e as concessões do serviço celular da banda B, optaram por seus parceiros ocidentais, e a fabricante japonesa teve sua presença no mercado reduzida.
A empresa fechou seu balanço financeiro do ano passado com prejuízo de R$ 31 milhões e queda de 11% na receita. Ela encerrou o exercício de 98 com faturamento líquido de R$ 1,3 bilhão, contra R$ 1,5 bilhão registrado no ano anterior.
Além da queda no faturamento e do prejuízo, a empresa viu sua dívida aumentar de US$ 786,4 milhões em 97 para US$ 1 bilhão no final do ano passado.

Dívidas
As Organizações Globo, que também enfrentam alto endividamento externo -sua dívida total no exterior era de US$ 2 bilhões em dezembro de 98-, estão, desde o ano passado, se desfazendo de ativos que não sejam diretamente relacionados à sua atividade principal, ou seja, aos meios de comunicação.
Como parte dessa política, a Globopar já vendeu para o grupo Telecom Italia suas participações na Tele Nordeste Celular e Tele Celular Sul, que havia adquirido, em julho do ano passado, no leilão da Telebrás.
A operação foi autorizada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) no início deste ano, quando a situação financeira da Globo havia se agravado pela desvalorização do real. A venda representou um alívio de caixa para a Globo de US$ 113 milhões.
A família Marinho estava com o controle acionário da Nec (51% das ações com direito a voto da empresa e 20,9% do capital total) desde dezembro de 1986, quando comprou as ações do empresário Mário Garnero.
A Nec, assim como a Equitel (Siemens) e a Ericsson, foram nacionalizadas em 82, por determinação do governo.
Com a emenda constitucional que eliminou as diferenças entre empresas nacionais e estrangeiras, as multinacionais estão reassumindo o controle das fábricas no Brasil.
Das três grandes indústrias de telecomunicações nacionalizadas no período militar, a Nec foi a única que esteve de fato sob comando do sócio nacional. Nas demais, o comando sempre foi estrangeiro, e os sócios nacionais não influenciavam nas decisões.


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