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NEGÓCIOS
Após um ano de negociações, Globopar se desfaz das ações na indústria; valor teria sido de US$ 50 mi
Globo vende a Nec para os japoneses
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
Depois de quase um ano de negociações, a Globopar (Globo
Participações, empresa-mãe das
Organizações Globo, da família
Marinho), vendeu o controle
acionário da Nec do Brasil para a
Nec Corporation, do Japão.
O acerto entre os sócios se deu
na madrugada de terça-feira (horário do Brasil), mas o contrato de
venda só foi assinado ontem à tarde no Rio. Em seguida à assinatura, o presidente da Nec, Sérvio
Túlio Prado, e os diretores técnico
e de logística, que eram indicados
pela Globo, deixaram os cargos.
O valor do negócio não foi revelado, mas há informação de que a
venda teria sido selada por cerca
de US$ 50 milhões, ou seja, menos
da metade da cifra cogitada no
início das negociações.
Em setembro do ano passado,
quando a família Marinho manifestou pela primeira vez seu interesse em se desfazer das ações da
Nec, a cifra colocada era de US$
120 milhões, mas, de lá para cá,
muita coisa mudou no cenário de
atuação da empresa.
A Nec do Brasil teve seu apogeu
durante o monopólio estatal das
telecomunicações, mas perdeu
espaço com a abertura do mercado de telecomunicações e a privatização do Sistema Telebrás.
As operadoras européias e norte-americanas, que compraram
as telefônicas estatais e as concessões do serviço celular da banda
B, optaram por seus parceiros
ocidentais, e a fabricante japonesa
teve sua presença no mercado reduzida.
A empresa fechou seu balanço
financeiro do ano passado com
prejuízo de R$ 31 milhões e queda
de 11% na receita. Ela encerrou o
exercício de 98 com faturamento
líquido de R$ 1,3 bilhão, contra R$
1,5 bilhão registrado no ano anterior.
Além da queda no faturamento
e do prejuízo, a empresa viu sua
dívida aumentar de US$ 786,4 milhões em 97 para US$ 1 bilhão no
final do ano passado.
Dívidas
As Organizações Globo, que
também enfrentam alto endividamento externo -sua dívida total
no exterior era de US$ 2 bilhões
em dezembro de 98-, estão, desde o ano passado, se desfazendo
de ativos que não sejam diretamente relacionados à sua atividade principal, ou seja, aos meios de
comunicação.
Como parte dessa política, a
Globopar já vendeu para o grupo
Telecom Italia suas participações
na Tele Nordeste Celular e Tele
Celular Sul, que havia adquirido,
em julho do ano passado, no leilão da Telebrás.
A operação foi autorizada pela
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) no início deste
ano, quando a situação financeira
da Globo havia se agravado pela
desvalorização do real. A venda
representou um alívio de caixa
para a Globo de US$ 113 milhões.
A família Marinho estava com o
controle acionário da Nec (51%
das ações com direito a voto da
empresa e 20,9% do capital total)
desde dezembro de 1986, quando
comprou as ações do empresário
Mário Garnero.
A Nec, assim como a Equitel
(Siemens) e a Ericsson, foram nacionalizadas em 82, por determinação do governo.
Com a emenda constitucional
que eliminou as diferenças entre
empresas nacionais e estrangeiras, as multinacionais estão reassumindo o controle das fábricas
no Brasil.
Das três grandes indústrias de
telecomunicações nacionalizadas
no período militar, a Nec foi a
única que esteve de fato sob comando do sócio nacional. Nas demais, o comando sempre foi estrangeiro, e os sócios nacionais
não influenciavam nas decisões.
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