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TRIBUTOS
Procuradores alegam que União perde R$ 500 mi por ano com imposto menor, enquanto empresas lucram mais
Ação questiona redução do IPI sobre fumo
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério Público Federal
entrou ontem com ação contra a
União e quatro empresas do setor
do fumo. A ação questiona mudanças no cálculo do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre cigarros.
Os procuradores do Ministério
Público Federal em Brasília alegam que, em função de mudanças, instituídas em maio do ano
passado, a União, principal beneficiária da arrecadação, sofre perdas anuais de R$ 500 milhões na
receita com o imposto.
A ação cautelar, com pedido de
liminar, aponta o secretário da
Receita, Everardo Maciel, como o
responsável "pela diminuição significativa e ilegal da arrecadação
do IPI sobre cigarro".
As empresas Souza Cruz, Philip
Morris, Sul América Tobacos e
Cibahia são citadas como rés na
ação, porque a "renúncia e a diminuição ilegal de tributos" seriam
um fator de "enriquecimento ilícito", segundo os procuradores.
"O consumo e a produção cresceram, o lucro das empresas subiu vertiginosamente, o número
de doenças decorrentes do fumo
aumentou, mas a arrecadação do
IPI caiu", disse o procurador Luiz
Francisco de Souza, que apresentou a ação juntamente com os
procuradores Guilherme Schelb,
Oswaldo Silva e Alexandre Assis.
Nas quase 50 páginas da ação,
eles apresentam dados pesquisados em balanços, materiais de divulgação das próprias empresas e
na Internet.
Mostram um crescimento do
mercado formal, entre 1998 e
1999, de 97 bilhões de unidades
para 101,5 bilhões, além do aumento do consumo "per capita"
de 876 unidades para 905 unidades no mesmo período.
O foco da ação está nas empresas Souza Cruz e Philip Morris.
Juntas, elas detêm 99% do mercado. Em 1999, o lucro líquido da
Philip Morris, segunda no ranking, chegou a R$ 252,61 milhões
-2,4 vezes o do ano anterior.
Ainda assim, a arrecadação do
IPI sofreu queda de 10%. Comparado o primeiro semestre deste
ano com o de 1999, a redução é de
17,5%.
Estratégia
Por estratégia do Ministério Público, Everardo Maciel não está
entre os réus na ação. Parte dos
procuradores acredita que ele poderá revogar a medida que diminuiu a arrecadação do IPI.
Mas Maciel é apontado como
principal responsável pelas mudanças na cobrança do IPI, com a
ressalva de que o secretário agiu
respaldado por um decreto do
presidente Fernando Henrique
Cardoso -de nº 3.070, de 27 de
maio de 1999.
Um dia depois, Maciel baixou a
Instrução Normativa nº 60, que
dividiu os cigarros em seis faixas
diferentes, estabelecendo valores
fixos para o IPI entre R$ 0,35 e R$
0,70 por maço de 20 unidades.
Antes, o IPI era cobrado com
base em alíquota de 330% sobre a
produção que saía da fábrica, e representava 41,25% do preço final.
Feita a mudança, o imposto passou a representar, em média, 25%
do preço.
No caso do Hollywood, da Souza Cruz, a terceira marca mais
vendida e responsável por 10% do
mercado, o peso do IPI sobre o
preço final do maço caiu de 41%
para 28%.
Nas duas últimas semanas, o secretário fez contatos com procuradores do Ministério Público,
em São Paulo. Tentava dissuadir
os procuradores de Brasília da
idéia de entrar com a ação.
Chegou-se a agendar uma reunião, na terça-feira passada, mas o
encontro foi desmarcado.
Saúde pública
A argumentação dos procuradores também inclui os efeitos do
cigarro sobre a saúde pública e o
meio ambiente. Apontam o fumo
como responsável pela morte de
85 mil pessoas por ano no Brasil.
Às pontas em brasa, atiradas pelos fumantes, é atribuída a responsabilidade por 25% dos incêndios rurais e urbanos.
Técnicos do Ministério da Saúde assessoraram informalmente
os procuradores. Forneceram informações sobre prejuízos à saúde e gastos públicos com atendimento aos fumantes.
Dados sobre a Associação Brasileira da Indústria do Fumo e das
empresas também saíram do Ministério da Saúde. Desde maio,
com o início de uma campanha
publicitária de R$ 4,5 milhões, o
combate ao cigarro está entre as
principais bandeiras do ministro
da Saúde, José Serra.
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