São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Levantamento parcial em agosto aponta taxa de 62,8% ao ano, ante 62% em julho; BC espera mais aumentos

Juro ao consumidor sobe após 17 meses

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas interromperam uma trajetória de queda que havia começado em abril do ano passado e voltaram a subir neste mês. Segundo levantamento do Banco Central, as taxas cobradas nesses financiamentos são, em média, de 62,8% ao ano.
No mês passado, os juros para pessoas físicas estavam em 62% ao ano, os mais baixos já observados no país desde que o BC passou a acompanhar esse indicador, em 1994. No caso dos financiamentos concedidos às empresas, a taxa passou de 29,7% ao ano para 30,0% neste mês.
Os resultados de agosto ainda são preliminares, calculados com base nas operações de crédito realizadas pelos bancos entre os dias 1º e 18 deste mês.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que novos aumentos dos juros bancários são esperados para os próximos meses. "O parâmetro para essas taxas são os juros futuros, e eles subiram. Não é de esperar uma queda [nos juros bancários], pelo contrário: não me surpreenderia se houvesse uma elevação", diz.
Os juros futuros refletem, principalmente, a expectativa dos investidores em relação ao comportamento futuro da taxa Selic, hoje em 16% ao ano. Eles têm apresentado uma tendência de alta desde o mês passado, quando o BC passou a sinalizar que pode elevar a Selic para que a inflação fique dentro das metas estabelecidas pelo governo -5,5% como intervalo de 2,5 pontos percentuais.
Mesmo a queda observada nos juros médios praticados pelos bancos nos últimos meses reflete, em parte, um efeito estatístico, mais do que a efetiva redução das taxas cobradas pelo sistema financeiro. Isso porque, segundo Lopes, muitas pessoas estão trocando empréstimos de juros mais elevados por outros mais baratos.
Os juros cobrados no cheque especial, por exemplo, estavam em 140,2% ao ano em abril e passaram para 140,1% no mês passado. "Ainda é elevadíssimo", afirma Lopes. No caso do financiamento feito para a compra de automóveis, nesse período, houve um aumento: a taxa subiu de 35% ao ano para 36,1%.

Desconto em folha
O que causa a queda nos juros médios, segundo Lopes, é a expansão do chamado crédito em consignação em folha de pagamento, em que as prestações são descontadas diretamente do salário do devedor. No mês passado, esse tipo de crédito chegou a R$ 8,231 bilhões, um crescimento de 3,5% em relação a junho.
O risco de inadimplência nesse tipo de empréstimo é bastante reduzido, o que faz com que os bancos cobrem juros menores nessa modalidade. No empréstimo em consignação, a taxa, segundo o BC, é de 38,1% ao ano. Nas operações de crédito pessoal como um todo, ela é de 71,7%.
Como os juros médios cobrados das pessoas físicas são calculados pela média das taxas em todas as modalidades, essa expansão do crédito em consignação acaba puxando o resultado para baixo.
Em julho, os empréstimos disponibilizados pelos bancos no país totalizam R$ 446,954 bilhões. Esse valor equivale a 26,2% do PIB (Produto Interno Bruto), proporção ligeiramente superior aos 26% registrados em janeiro passado. Segundo Lopes, não se espera uma forte expansão no crédito nos próximos meses.
Para ele, a recuperação da renda da população ocorrida recentemente faz com que as pessoas tenham uma necessidade menor de contrair novos empréstimos, o que explicaria a estabilidade do volume de crédito fornecido pelo sistema financeiro. A pesquisa pelo BC apresenta dados diferentes de outra feita pela Anefac (associação que reúne os executivos de finanças) porque essa última inclui dados de 30 bancos, e a do BC pega todo o sistema financeiro.


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