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LUÍS NASSIF
Conversas do Planalto
Conversas de dentro do
Palácio do Planalto indicam o seguinte estado de espírito do presidente da República.
Lula sabe que as bandeiras
da estabilidade inflacionária e
política não podem ser dele, já
são do seu antecessor. Seu governo terá que ir além. Mas
preza, acima de tudo, a estabilidade econômica e não pretende colocá-la em xeque. Os
aplausos que recebeu no ano
passado, quando decidiu trilhar o caminho da cautela, tiveram forte efeito sobre seu
comportamento.
Nos últimos meses tem conversado cada vez mais com
economistas de fora do governo e -algo que não era do seu
hábito- tem lido cada vez
mais artigos de jornais e revistas. Mas as conversas têm a
função de balizar as cobranças que Lula tem feito à equipe
econômica.
Tanto ele, Lula, quanto o PT
consideram superada a dicotomia desenvolvimentismo x
inflação. A intenção é buscar o
desenvolvimento, mas sem
ameaçar a estabilidade. Além
disso, Lula acha que o país poderá estar diante de uma brecha, um novo ciclo virtuoso do
crescimento, e não quer perder
o bonde. Por isso mesmo, não
pretende nenhum gesto heróico, mas um trabalho pertinaz
de mudança por dentro do governo. Aos auxiliares mais diretos têm dito que o desenvolvimento não pode ser tratado
como questão ideológica. Primeiro porque não é. Segundo
porque qualquer movimento
de mudança levantaria pressões desnecessárias.
É evidente que, sem mesclar
a equipe econômica com
maior diversidade de pensamento, dificilmente se conseguirá escapar da armadilha
do atual modelo. Mas Lula
tem se limitado a cobrar temas da chamada agenda micro.
Partiram dele as pressões
para reduzir a tributação sobre a cesta básica, assim como
para o Banco do Brasil e a
Caixa Econômica Federal baixar os juros, semanas atrás.
Foi dele, também, a iniciativa
de constituir a Câmara de Desenvolvimento Econômico.
Também tem chamado banqueiros para conversas reservadas, visando reduzir o
"spread" bancário. Toda semana cobra mais providências do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, para
revitalizar a economia. Nos
próximos dias, deverá anunciar o aguardado pacote de
desoneração tributária das
pequenas e microempresas.
O núcleo duro do governo
tem trabalhado em sintonia,
segundo esses interlocutores.
Palocci tem participado diretamente, com sugestões, de
novas políticas sociais que estão sendo desenhadas. José
Dirceu tem mergulhado para
resolver nós da infra-estrutura.
No Palácio, considera-se que
os dois ministros empresários,
Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues, têm conseguido uma integração cada
vez maior com o restante do
governo. Há grande admiração por Furlan, mas também
por Carlos Lessa, presidente
do BNDES (Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico e Social).
A idéia geral é que ambos teriam tudo para serem aliados
e se complementarem: Furlan
trabalhando o comércio exterior, Lessa pensando o desenvolvimento interno. Considera-se que as divergências sejam muito mais de estilo do
que de conteúdo.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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