São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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LUÍS NASSIF

Conversas do Planalto

Conversas de dentro do Palácio do Planalto indicam o seguinte estado de espírito do presidente da República.
Lula sabe que as bandeiras da estabilidade inflacionária e política não podem ser dele, já são do seu antecessor. Seu governo terá que ir além. Mas preza, acima de tudo, a estabilidade econômica e não pretende colocá-la em xeque. Os aplausos que recebeu no ano passado, quando decidiu trilhar o caminho da cautela, tiveram forte efeito sobre seu comportamento.
Nos últimos meses tem conversado cada vez mais com economistas de fora do governo e -algo que não era do seu hábito- tem lido cada vez mais artigos de jornais e revistas. Mas as conversas têm a função de balizar as cobranças que Lula tem feito à equipe econômica.
Tanto ele, Lula, quanto o PT consideram superada a dicotomia desenvolvimentismo x inflação. A intenção é buscar o desenvolvimento, mas sem ameaçar a estabilidade. Além disso, Lula acha que o país poderá estar diante de uma brecha, um novo ciclo virtuoso do crescimento, e não quer perder o bonde. Por isso mesmo, não pretende nenhum gesto heróico, mas um trabalho pertinaz de mudança por dentro do governo. Aos auxiliares mais diretos têm dito que o desenvolvimento não pode ser tratado como questão ideológica. Primeiro porque não é. Segundo porque qualquer movimento de mudança levantaria pressões desnecessárias.
É evidente que, sem mesclar a equipe econômica com maior diversidade de pensamento, dificilmente se conseguirá escapar da armadilha do atual modelo. Mas Lula tem se limitado a cobrar temas da chamada agenda micro.
Partiram dele as pressões para reduzir a tributação sobre a cesta básica, assim como para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal baixar os juros, semanas atrás. Foi dele, também, a iniciativa de constituir a Câmara de Desenvolvimento Econômico. Também tem chamado banqueiros para conversas reservadas, visando reduzir o "spread" bancário. Toda semana cobra mais providências do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para revitalizar a economia. Nos próximos dias, deverá anunciar o aguardado pacote de desoneração tributária das pequenas e microempresas.
O núcleo duro do governo tem trabalhado em sintonia, segundo esses interlocutores. Palocci tem participado diretamente, com sugestões, de novas políticas sociais que estão sendo desenhadas. José Dirceu tem mergulhado para resolver nós da infra-estrutura.
No Palácio, considera-se que os dois ministros empresários, Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues, têm conseguido uma integração cada vez maior com o restante do governo. Há grande admiração por Furlan, mas também por Carlos Lessa, presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
A idéia geral é que ambos teriam tudo para serem aliados e se complementarem: Furlan trabalhando o comércio exterior, Lessa pensando o desenvolvimento interno. Considera-se que as divergências sejam muito mais de estilo do que de conteúdo.

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