São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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GUERRA SURDA
Oskar Lafontaine, ex-ministro alemão, diz que Alemanha e França criariam contrapeso no FMI
"Vermelho" revela plano contra os EUA



da Reportagem Local

O homem mais perigoso da Europa, segundo a definição de um jornal inglês, acaba de fazer uma revelação polêmica. Ex-ministro das Finanças da Alemanha, Oskar Lafontaine diz que seu país e a França estavam se unindo no Fundo Monetário Internacional (FMI) para fazer um "contrapeso" aos interesses norte-americanos na instituição.
A revelação aparece num trecho do livro "Das Herz Schlagt Links" (O coração bate à esquerda), que Lafontaine lançou há poucos dias, na Feira de Livros de Frankfurt.
Conhecido como "Oskar, o vermelho", Lafontaine ocupou o Ministério das Finanças durante cinco meses. Ele também presidiu o Partido Social Democrata, que governa a Alemanha.
Segundo Lafontaine, o secretário do Tesouro norte-americano Lawrence Summers e seu antecessor, Robert Rubin, perceberam como a Alemanha e a França estavam se articulando para aumentar seu poder de fogo dentro do FMI.
"Rubin e Summers claramente reconheceram como eu e Dominique Strauss-Kahn (ministro das Finanças da França) estávamos fazendo um contrapeso em relação à política de considerar apenas os interesses norte-americanos", escreveu Lafontaine.
A idéia da união entre franceses e alemães era demonstrar a força da Europa economicamente unificada. Mas, mesmo com a união dos votos dos dois países, o peso norte-americano ainda seria maior do que o da Alemanha e da França.
Os EUA têm direito a cadeiras na direção do Fundo, que correspondem a 18% dos votos. Franceses e alemães somariam 10,5% dos votos e, por isso, precisariam de mais apoio para contrabalançar a força norte-americana.
A iniciativa de tentar mudar o foco das decisões do FMI combina com a biografia de Lafontaine. Considerado um dos políticos localizados mais à esquerda no mapa político do poder alemão, o ex-ministro das Finanças sempre defendeu posições que irritaram os norte-americanos.
No auge da crise asiática, Lafontaine elogiou o governo da Malásia por impor limites à movimentação de capitais financeiros. Ele também defendeu políticas estatais de câmbio rígidas.
Em seu livro, Lafontaine também assume uma postura polêmica. Ele descreve como foi sua passagem pelo Ministério das Finanças e faz um acerto de contas com seus inimigos políticos, até mesmo traçando um retrato bastante crítico do atual chanceler Gerhard Schroeder.
Antes mesmo de ser lançado, o livro vendeu 160 mil cópias na Alemanha. Uma nova edição, de 100 mil exemplares, já está sendo rodada e há encomendas e negociações para traduções para os EUA, Grã Bretanha, França e Itália. (RICARDO GRINBAUM)




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