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LUÍS NASSIF
O PT perto do gol
Grandes países do mundo
se forjaram em cima de soluções criativas, tecnicamente
consistentes, mas que afrontavam o convencional, o estabelecido, não desperdiçando oportunidades históricas. Foi assim
quando a Índia decidiu se transformar em referência mundial
de software, quando a Coréia do
Sul planejou virar referência
mundial de tecnologia, quando
a Finlândia montou seu projeto
que a transformou em uma das
líderes mundiais de telefonia e
mesmo quando o pequeno Portugal planejou sua segunda rota
de conquista de mercados internacionais.
Os grandes transformadores
foram aqueles que ousaram fugir do convencional e, depois de
identificado o caminho correto,
ousaram pensar grande.
O governo Lula explicitou alguns conceitos e projetos relevantes durante a campanha.
Defendeu a idéia de que o investimento estrangeiro deveria ser
suplementar e que o importante
seria consolidar a poupança interna. Apresentou um projeto de
criação de um capitalismo popular, por meio do fortalecimento do mercado de ações e da destinação de 1% do FGTS para investimento no setor. Anunciou a
prioridade de ampliar a penetração dos fundos de pensão.
Pois esse conjunto de conceitos
pode dar um salto extraordinário, se se aproveitar o momento.
O que se tem é um país quebrado, com um conjunto monumental de passivos. Há Estados
dizendo-se sem condições de pagar o que devem ao governo federal, grandes grupos nacionais
em crise, necessitando de capitalização.
Há uma crise aguda na mídia,
na aviação civil, na petroquímica. O mercado internacional está fechado às empresas brasileiras. Em alguns setores, como a
mídia e a aviação civil, não
atende o interesse nacional permitir o controle das companhias
por grupos estrangeiros.
O que resta de alternativa então? O BNDES (Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico
e Social) é um banco de fomento,
mas que trabalha de acordo com
normas rígidas de concessão de
crédito. E os problemas das empresas não são de financiamento, mas de capitalização.
Por seu lado, a União deve -e
muito- aos chamados fundos
sociais. Estados e empresas devem ao FAT, ao FGTS, à Caixa
Econômica Federal, há os passivos atuariais da Previdência. Se
a equipe de transição do PT conseguir colocar o nariz para fora
da água dos problemas imediatos por alguns instantes, terá pela frente a matéria-prima para
uma revolução sem precedentes
no país.
A proposta não é nova, mas é
mais oportuna do que nunca.
Trata-se uma operação financeira que permita ao governo capitalizar os fundos sociais com
títulos, cuja única finalidade será participar de investimentos
em empresas públicas ou privadas.
Na última década, o BNDES e
o mercado financeiro desenvolveram técnicas apropriadas de
avaliação de empresas. Por seu
lado, a indústria de fundos de
pensão já avançou em técnicas
de auto-regulação interna e das
empresas nas quais têm recursos
investidos. O mercado de capitais desenvolveu regras de governança corporativa capazes de
conferir segurança aos investidores. Falta o quê? Grandes empresas dispostas a abrir seu capital. O momento é agora. De que
forma o governo pretenderia
ajudar a Globopar? Dando dinheiro a fundo perdido? Permitindo sua venda a grupos estrangeiros? Colocando dinheiro do
BNDES lá? E a Brasken, as companhias aéreas ou mesmo os investimentos necessários para o
saneamento?
Há condições de montar um
amplo pacto nacional em torno
do tema. As empresas seria convencidas a abrir seu capital. A
subscrição seria feita por fundos
sociais, constituídos por trabalhadores dispostos a sacar sua
parte no FGTS ou no FAT e investir nessas empresas. As avaliações seriam feitas pelo
BNDES, com a fiscalização dos
representantes de trabalhadores.
Não se pense em comitês populares gerindo as empresas. Mas
em acionistas minoritários, com
representantes no conselho das
empresas, fiscalizando e exigindo o que é necessário para garantir a aposentadoria dos seus
membros: gestão e rentabilidade.
O PT assume o governo com o
gol sem goleiro e a bola quicando na pequena área. Falta apenas alguém que a empurre em
direção ao gol.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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