São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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Brasil começa corrida por espaço no setor

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A despeito da concorrência com indústrias de terceirização de serviços de países como Índia, Irlanda e Filipinas, o Brasil, ainda que timidamente, começa a corrida pelo acesso a mercados no setor.
A produção de softwares e a instalação de call centers para o atendimento de clientes de empresas estrangeiras, por exemplo, estão entre os segmentos que alguns empresários brasileiros pretendem conquistar.
Sediada em Belo Horizonte, a Vetta Technologies, que tem 100% de capital nacional, foi criada em 2001 com o objetivo de desenvolver softwares para empresas nos EUA. Hoje, o crescimento do faturamento da Vetta é de aproximadamente 80% ao ano.
"A concorrência é grande. A Índia ainda é muito competitiva, mas o desenvolvimento de software hoje é uma commodity como outra qualquer e acredito que temos muitas chances", avaliou Thiago Maia, um dos sócios da empresa.
A também brasileira CSU TeleSystem é outro exemplo. Depois de 12 anos no setor de call center com clientes brasileiros, neste ano os funcionários da empresa passaram a atender clientes de uma agência de turismo norte-americana e de uma rede de hotéis também dos EUA. "Recebemos uma média de 11 mil ligações por mês. Todos os nossos funcionários são bilíngües e atuam não só no atendimento [a dúvidas] mas também no oferecimento de pacotes e de outros benefícios", afirmou Marco Antônio Theodoro, diretor comercial da empresa.
De acordo com o empresário, a CSU está em fase de negociação de mais 18 contratos com companhias estrangeiras.
Apesar do entusiasmo, segundo Ricardo Mendes, da Prospectiva consultoria, esses casos são exceção. "Na maioria das vezes, são empresas [multinacionais] que já têm presença no Brasil que transferem parte de suas operações para cá. Casos de empresas brasileiras que competem nesse mercado de offshore são raridade."

Pouco projeto
Estudo elaborado pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) entre 2002 e 2003 revela que havia 60 projetos para exportação de serviços na Índia com recursos de investimentos estrangeiros diretos. Para o Brasil, o número de projetos era apenas seis.
Carlos Bretos, vice-presidente da HP services, credita o descompasso entre o volume de operações na Índia e no Brasil ao desconhecimento das empresas estrangeiras sobre o mercado brasileiro. "O Brasil tem que se posicionar melhor e criar uma marca."
Entre os projetos, a empresa gerencia, a partir do Brasil, as operações de serviços de tecnologia da gigante do setor farmacêutico Novartis em 14 países da América Latina. "A proximidade com o fuso horário dos EUA, a qualidade da mão-de-obra e da infra-estrutura aqui são grandes vantagens para o Brasil", argumentou o executivo.
Marco Stefanini, da empresa de serviços de tecnologia da informação Stefanini, entretanto, afirma que o idioma, ou melhor, a falta de mão-de-obra com inglês ou espanhol fluentes, ainda é uma barreira importante.
Mas Marcelo França, da filial brasileira da empresa americana de call center TeleTech, discorda. "O Brasil é bastante competitivo em operações complexas em inglês." A empresa tem 2.500 funcionários bilíngües no Brasil.


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