São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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BEBIDAS

Mais rentável, setor "premium" aumenta participação na receita da AmBev; alta foi de 12% em relação a 2003

Cerveja especial ganha espaço nas vendas

MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO

Toda a sofisticação (e preços altos) que cerca o mundo do vinho aos poucos chega ao mercado da cerveja no Brasil. Com trigo importado da França, malte, da Alemanha e rígidas normas de produção, as cervejarias brasileiras vêm tentando conquistar os consumidores com cerveja antes só encontradas em importadoras.
Acostumado a só um tipo de cerveja, a pilsen, o brasileiro começa a apreciar novidades como as cervejas de trigo ("weissbier"), as avermelhadas e fortes "ale" e as amargas e encorpadas "stout".
Apesar do preço mais alto, de 15% a até 700%, o segmento das cervejas especiais ("premium") ganha espaço nas prateleiras dos supermercados e nos balanços das empresas. Segundo números do Pão de Açúcar, as especiais dobraram sua participação no total das vendas de cerveja da rede nos últimos dois anos. Sem citar números, o mercado espera aumento ainda maior neste ano.
"O brasileiro sabe tudo sobre cerveja. Quando descobre um novo produto, fica curioso para conhecê-lo. Nós estamos tentando ajudá-lo a conhecer melhor esses novos produtos, como as cervejas de trigo e as de microcervejarias", disse Maurício Pombo, gerente de bebidas do Pão de Açúcar.
As cervejas especiais, que em 2002 eram vendidas em nove lojas da rede, hoje são encontradas em 39 lojas da empresa em São Paulo.

Destaque no balanço
A evolução da participação do segmento também pode ser notada no balanço da AmBev. No último balanço, a empresa teve uma redução de 7,3% no volume total de venda de cervejas. A receita com essas vendas, no entanto, cresceu 21%. A explicação, entre outras, está "na maior participação de nossas cervejas superpremium em nosso portfólio de cerveja", informa o balanço.
No segundo trimestre deste ano, as especiais representaram 6,6% das vendas da AmBev, contra 5,9% no mesmo período do ano anterior: evolução de 12%.
Nos últimos anos, a empresa deu maior destaque aos produtos do segmento. A tradicional Bohemia ganhou uma família com cervejas escuras, de trigo e, desde agosto, uma ale com 6% de teor alcoólico, o maior entre as cervejas das grandes empresas.
Segundo o gerente de comunicação da AmBev, Alexandre Loures, o Brasil vende muita cerveja em números absolutos, mas, em termos relativos, perde para países como a Venezuela. "Cabe a nós descobrirmos os motivos para isso. Com pesquisas, notamos que o brasileiro bebe cerveja, sobretudo, em bares. Nossa intenção é levar a cerveja para ocasiões como a hora do jantar, quando as pessoas bebem um vinho, muitas vezes por falta de opções adequadas entre as cervejas."
Essa é uma das razões para o desenvolvimento da linha de produtos especiais da companhia. "Fizemos isso com a Bohemia. Em 2001, ela tinha 0,7% das vendas. Em alguns meses, triplicou a participação." Depois, vieram a cerveja de trigo, a escura, e a "ale".

Mercado
Um inibidor para o avanço das cervejas especiais no total das vendas do setor, segundo o analista do setor de bebidas da Fator Corretora Márcio Kawassaki, é o preço maior. "A renda do brasileiro ainda não é suficiente para garantir o sucesso desses produtos. Muitos irão desaparecer em pouco tempo", disse.
Kawassaki também destaca o risco de haver uma canibalização entre os tipos de cerveja, com um cliente deixando um tipo de cerveja para beber as especiais. Ao conhecer um produto melhor, diz ele, dificilmente o consumidor irá voltar a beber uma cerveja pior.
Já Tânia Sztamfater, analista do Unibanco que acompanha o setor, afirma que o lançamento de cervejas especiais, além de aumentar a rentabilidade, visa ampliar a fatia de mercado ("market share") das empresas. "Eles precisam aumentar o "market share". Para isso, precisam estar presentes em todos os segmentos."
Sztamfater concorda com a possibilidade de migração de clientes de uma cerveja para outra, mas acha que o saldo final é positivo. "Além da migração, há a entrada de novos clientes, entre eles os que só bebiam vinhos."
Loire, da AmBev, cita o caso da Skol Beats, para provar que as novidades trazem mais clientes. Segundo ele, a cerveja multiplicou por sete sua participação nas vendas em um ano, sem tomar espaço de outras marcas.


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