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BEBIDAS
Mais rentável, setor "premium" aumenta participação na receita da AmBev; alta foi de 12% em relação a 2003
Cerveja especial ganha espaço nas vendas
MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO
Toda a sofisticação (e preços altos) que cerca o mundo do vinho
aos poucos chega ao mercado da
cerveja no Brasil. Com trigo importado da França, malte, da Alemanha e rígidas normas de produção, as cervejarias brasileiras
vêm tentando conquistar os consumidores com cerveja antes só
encontradas em importadoras.
Acostumado a só um tipo de
cerveja, a pilsen, o brasileiro começa a apreciar novidades como
as cervejas de trigo ("weissbier"),
as avermelhadas e fortes "ale" e as
amargas e encorpadas "stout".
Apesar do preço mais alto, de
15% a até 700%, o segmento das
cervejas especiais ("premium")
ganha espaço nas prateleiras dos
supermercados e nos balanços
das empresas. Segundo números
do Pão de Açúcar, as especiais dobraram sua participação no total
das vendas de cerveja da rede nos
últimos dois anos. Sem citar números, o mercado espera aumento ainda maior neste ano.
"O brasileiro sabe tudo sobre
cerveja. Quando descobre um novo produto, fica curioso para conhecê-lo. Nós estamos tentando
ajudá-lo a conhecer melhor esses
novos produtos, como as cervejas
de trigo e as de microcervejarias",
disse Maurício Pombo, gerente de
bebidas do Pão de Açúcar.
As cervejas especiais, que em
2002 eram vendidas em nove lojas
da rede, hoje são encontradas em
39 lojas da empresa em São Paulo.
Destaque no balanço
A evolução da participação do
segmento também pode ser notada no balanço da AmBev. No último balanço, a empresa teve uma
redução de 7,3% no volume total
de venda de cervejas. A receita
com essas vendas, no entanto,
cresceu 21%. A explicação, entre
outras, está "na maior participação de nossas cervejas superpremium em nosso portfólio de cerveja", informa o balanço.
No segundo trimestre deste
ano, as especiais representaram
6,6% das vendas da AmBev, contra 5,9% no mesmo período do
ano anterior: evolução de 12%.
Nos últimos anos, a empresa
deu maior destaque aos produtos
do segmento. A tradicional Bohemia ganhou uma família com cervejas escuras, de trigo e, desde
agosto, uma ale com 6% de teor
alcoólico, o maior entre as cervejas das grandes empresas.
Segundo o gerente de comunicação da AmBev, Alexandre Loures, o Brasil vende muita cerveja
em números absolutos, mas, em
termos relativos, perde para países como a Venezuela. "Cabe a
nós descobrirmos os motivos para isso. Com pesquisas, notamos
que o brasileiro bebe cerveja, sobretudo, em bares. Nossa intenção é levar a cerveja para ocasiões
como a hora do jantar, quando as
pessoas bebem um vinho, muitas
vezes por falta de opções adequadas entre as cervejas."
Essa é uma das razões para o desenvolvimento da linha de produtos especiais da companhia. "Fizemos isso com a Bohemia. Em
2001, ela tinha 0,7% das vendas.
Em alguns meses, triplicou a participação." Depois, vieram a cerveja de trigo, a escura, e a "ale".
Mercado
Um inibidor para o avanço das
cervejas especiais no total das
vendas do setor, segundo o analista do setor de bebidas da Fator
Corretora Márcio Kawassaki, é o
preço maior. "A renda do brasileiro ainda não é suficiente para garantir o sucesso desses produtos.
Muitos irão desaparecer em pouco tempo", disse.
Kawassaki também destaca o
risco de haver uma canibalização
entre os tipos de cerveja, com um
cliente deixando um tipo de cerveja para beber as especiais. Ao
conhecer um produto melhor, diz
ele, dificilmente o consumidor irá
voltar a beber uma cerveja pior.
Já Tânia Sztamfater, analista do
Unibanco que acompanha o setor, afirma que o lançamento de
cervejas especiais, além de aumentar a rentabilidade, visa ampliar a fatia de mercado ("market
share") das empresas. "Eles precisam aumentar o "market share".
Para isso, precisam estar presentes em todos os segmentos."
Sztamfater concorda com a possibilidade de migração de clientes
de uma cerveja para outra, mas
acha que o saldo final é positivo.
"Além da migração, há a entrada
de novos clientes, entre eles os
que só bebiam vinhos."
Loire, da AmBev, cita o caso da
Skol Beats, para provar que as novidades trazem mais clientes. Segundo ele, a cerveja multiplicou
por sete sua participação nas vendas em um ano, sem tomar espaço de outras marcas.
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