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Consumo cai, e PIB dos EUA recua 0,3%
Terceiro trimestre registra o primeiro recuo desde 1991 no gasto das famílias, motor da maior economia do planeta
Exportações ajudaram a reduzir queda no trimestre, mas alta do dólar agora deve piorar saldo comercial e acelerar o declínio
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A economia americana teve
desempenho negativo anualizado de 0,3% no terceiro trimestre deste ano, e o ritmo de
consumo no país caiu pela primeira vez em 17 anos.
O recuo do PIB (Produto Interno Bruto) foi o maior para o
período desde 2001 (-1,4%),
ano dos atentados do 11 de Setembro, fato apontado por especialistas como o início de
uma recessão na maior economia do planeta. A definição de
recessão é de dois trimestres
seguidos de PIB negativo.
No período de julho a setembro, o consumo das famílias, o
principal motor da economia
americana, caiu 3,1%, tendo
contribuição negativa de 2,25
pontos percentuais no PIB. É o
primeiro recuo desde 1991 e o
maior desde 1980, no governo
do democrata Jimmy Carter,
quando os EUA adotaram controles à expansão do crédito visando conter a inflação.
Os indicadores, divulgados
pelo Departamento de Comércio, também mostraram queda
de 6,4% nos gastos das famílias
com bens não-duráveis, como
vestuário e alimentos. Foi o
maior recuo desde 1950.
O resultado do trimestre
também foi afetado por cortes
nos investimentos das empresas e diminuição no ritmo da
construção civil. Uma redução
do déficit comercial no período
e a manutenção em níveis elevados dos estoques das empresas impediu retração maior.
Sem essas duas variáveis, a
economia teria se contraído
1,8%, a maior queda desde 1991.
Mas, com o dólar subindo, o déficit comercial deve aumentar,
já que as exportações ficarão
mais caras.
Apesar da queda no PIB, a
Bolsa de Nova York voltou a subir pelo terceiro pregão seguido: 2,11% no índice Dow Jones
e 2,58% no S&P 500.
Para o mercado, a principal
notícia positiva foi o aumento
recorde de emissão, pelas empresas privadas, dos chamados
"commercial papers", títulos
que elas colocam no mercado
para financiar seu dia-a-dia.
Tendo agora o Fed (o BC dos
EUA) como principal comprador dos títulos, houve aumento
de US$ 100,5 bilhões (ou 6,9%)
no saldo das emissões até anteontem, o que elevou o total de
papéis no mercado para mais
de US$ 1,5 trilhão. Quanto mais
dinheiro nesse setor, melhor a
fluidez dos negócios.
Nos momentos mais agudos
da crise, no final de setembro,
as emissões diárias totais de
"commercial papers" ficaram
abaixo de US$ 6 bilhões.
O mercado também esperava
redução do crescimento no terceiro trimestre maior do que o
0,3% registrado, o que animou
os investidores.
Mas muitos economistas já
trabalham com previsão de
queda superior a 2% no PIB do
último trimestre. Os mais pessimistas prevêem 4%.
Mais calote
Os consumidores nos EUA,
responsáveis por dois terços da
expansão do PIB, têm sido atingidos pela combinação de aumento do desemprego, diminuição da poupança aplicada
nas Bolsas e aperto no mercado
de crédito ao consumo.
Levantamento realizado pela
Moody's mostrou alta de 6,3%
em julho para 6,8% em agosto
no total de dívidas de cartões de
crédito que não foram pagas e
que os bancos tiveram de assumir como prejuízo. A Moody's
estima que esse percentual tende a alcançar mais de 7,5% até o
final de 2009.
"Os bancos terão de aumentar ainda mais os provisionamentos para sustentar essas
perdas, o que deve ter impacto
negativo em seus resultados",
diz o economista Keith Leggett,
da American Bankers Association -a Febraban americana.
A expectativa é que não apenas os EUA entrem em recessão, mas também grande parte
das economias avançadas.
"Precisamos ainda ver se outros países, assim como os
EUA, vão lançar novos pacotes
de estímulo para impedir o desaquecimento, pois isso não é
apenas um problema local, mas
global", afirma Max Bublitz, da
SCM Advisors.
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