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ESPETÁCULO EM XEQUE
Economia deve ter a menor expansão desde 1998, segundo nova revisão feita pelo Banco Central
BC revê projeção, e PIB deve crescer só 0,3%
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central reduziu a sua
projeção de crescimento da economia neste ano pela quarta vez.
A estimativa de expansão, que em
janeiro era de 2,8%, passou ontem
para 0,3%. A previsão anterior,
divulgada pelo BC em setembro
passado, era de 0,6%.
A nova redução da projeção é
resultado do fraco desempenho
da economia no terceiro trimestre, quando o PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país) cresceu somente
0,4% em relação aos três meses
anteriores. "Esse resultado frustrou, em parte, as expectativas para o período", afirma o BC.
A avaliação consta do Relatório
de Inflação, documento contendo
projeções para a economia brasileira que é produzido pelo BC a
cada três meses.
A estagnação da economia só
não será mais forte por causa das
exportações, que, de acordo com
o BC, devem fechar o ano com um
aumento de 16,5% em relação aos
números de 2002, contribuindo
para o aquecimento do nível de
atividade. "A demanda interna
deverá registrar significativa retração [em 2003]", diz o documento do BC.
Em junho, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva havia prometido para este ano o que chamou
de "espetáculo do crescimento".
Ao anunciar projeções pouco animadoras para o desempenho da
economia, o diretor de Política
Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, evitou fazer comentários diretos sobre a promessa de Lula. "É
o crescimento. Se é um espetáculo
ou não, cada um é que vai definir", disse Bevilaqua.
Para que a projeção de 0,3% se
concretize, é preciso que a economia cresça 2% no último trimestre deste ano, comparando-se
com igual período de 2002.
Concretizada a estimativa do
BC, o crescimento deste ano não
será suficiente para acompanhar
o aumento da população do país,
que deve ser de cerca de 2%.
Será também o menor índice de
expansão desde 1998, no auge do
reflexo das crises asiática e russa,
quando a economia brasileira
cresceu apenas 0,13%.
Para 2004, o BC prevê que o
crescimento econômico chegue a
3,5%. Essas projeções supõem
que a cotação do dólar se estabilize em R$ 2,94 e que os juros básicos da economia se mantenham
em 16,5% ao ano.
Já a inflação, medida pelo IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), deve ficar em 9,1% em
2003. Isso significa que, pelo terceiro ano consecutivo, a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) não será atingida.
Neste ano, o objetivo era manter a
alta dos preços em 4%, admitindo-se um desvio de até 2,5 pontos
percentuais.
Desde o início do ano, porém, o
BC dizia que não seria possível
atingir essa meta, já que a crise enfrentada pelo país a partir de 2002
provocou um forte aumento dos
preços. Assim, passou a trabalhar
com uma meta de 8,5%.
O chefe do Departamento de
Estudos e Pesquisas do BC, Marcelo Kfoury, disse que "houve um
resultado ruim do PIB" neste ano,
mas que os números seriam ainda
piores se o BC tivesse tentado
manter a inflação nos 4% previstos pela meta anterior. Isso teria
provocado, segundo Kfoury, elevações ainda mais fortes na taxa
Selic, que, no primeiro semestre,
chegou a 26,5% ao ano.
Um dos riscos para a concretização das previsões de melhora
em 2004, segundo o BC, é a possibilidade de uma elevação dos juros norte-americanos (hoje em
1% ao ano). Isso poderia fazer
com que investidores tirassem
seu dinheiro de países emergentes
para aplicá-lo nos EUA.
Assim, seria pressionada a taxa
de câmbio no Brasil. Com o real
desvalorizado, a inflação tenderia
a subir. Para conter a alta dos preços, o BC poderia ser levado a elevar os juros, prejudicando a retomada do crescimento econômico.
O BC diz, porém, que é "baixa a
probabilidade" de que isso aconteça no curto prazo.
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