São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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Bolsa de SP perde 41% e tem pior ano desde 1972

Bovespa não fechava no vermelho desde 2002; na 1ª alta sob Lula, dólar avança 31%

Saída de capital externo em razão da crise é decisiva para recuo da Bolsa; fundos de renda fixa pagam 12,8% no ano, e poupança, 7,9%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano de 2008 foi o pior da Bovespa em mais de três décadas: desde 1972 a Bolsa não sofria perdas tão elevadas quanto os 41,22% registrados neste ano que se encerra. Além disso, foi o segundo pior ano para o índice Ibovespa desde sua criação, em 1968, como demonstra levantamento realizado pela Economática. Desde 2002 a Bolsa de Valores de São Paulo não fechava o ano no vermelho.
Na outra ponta, o dólar termina o ano com valorização de 31,34% diante do real, a primeira registrada no governo Lula. A moeda norte-americana encerrou 2008 cotada a R$ 2,334. Ontem, o dólar caiu 3,35%, em decorrência dos ajustes de fim de ano feitos por tesourarias de bancos e empresas. Mas encerrou dezembro ainda com alta acumulada, de 0,82%.
Apesar da valorização expressiva, o dólar deixou de ser uma opção de investimento há algum tempo. Dessa forma, as aplicações atreladas aos juros podem ser apontadas como o destaque de 2008.
Enquanto a crise internacional levou os principais bancos centrais do mundo a reduzirem seus juros, o BC brasileiro optou por manter a taxa básica em níveis elevados, o que garantiu uma boa rentabilidade para fundos e CDBs.
Nesse cenário, os fundos de renda fixa apareceram como destaque, com retorno médio de 12,8% no ano. Para os fundos DI, a rentabilidade anual girou em torno de 12,1%.
Ainda no segmento de aplicações que pagam juros, o CDB (Certificado de Depósito Bancário) foi a vedete de 2008. A aplicação pagou juros médios de 11,83% no ano -para os grandes aplicadores, a taxa chegou a 12,93%.
Os CDBs são títulos emitidos pelos bancos e comprados por seus clientes. O título rende uma taxa de juros e tem um prazo de vencimento. Uma de suas vantagens em relação aos fundos de investimento é a de não cobrar taxa de administração, que engole entre 1% e 4% das aplicações anualmente.
Para os mais conservadores, a poupança pagou 7,9% no ano. Esse retorno ficou abaixo da inflação medida pelo IGP-M em 2008, que alcançou os 9,81%.
"No Brasil, diferentemente do resto do mundo, as aplicações que pagam juros deverão continuar a proporcionar, mesmo com a redução prevista para a taxa básica, alto retorno real e com baixo risco", avalia o administrador de investimentos Fábio Colombo.
A taxa básica Selic, referência para os juros praticados no mercado, encerra o ano a 13,75%. Para o fim de 2009, o mercado projeta -segundo pesquisa semanal do BC- que a Selic esteja em 12%. O Brasil tem hoje os maiores juros reais (descontada a inflação) do planeta, em torno de 8% anuais.
Para a Bolsa, a manutenção dos juros em patamares tão elevados não é muito vantajosa. Isso porque os investidores, com garantias de bons retornos em aplicações que pagam juros, pensam duas vezes antes de encararem os riscos representados pelo mercado acionário.
Ao menos a Bovespa terminou dezembro com valorização mensal acumulada de 2,61% -ontem, subiu 1,32% e fechou aos 37.550 pontos. Desde maio, quando atingiu seu pico histórico de 73.516 pontos, a Bolsa de Valores não encerrava um mês com valorização.
Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, avalia que o primeiro semestre de 2009 tende ainda a ser "bastante complicado" para o mercado financeiro e que vai ser fundamental que a economia mundial comece a apresentar dados mais animadores para que a Bolsa ganhe fôlego no segundo semestre do próximo ano.
Apesar de muito elevada, a queda da Bovespa ficou em linha com o que ocorreu nos principais centros financeiros mundiais. A Bolsa de Tóquio chegou ao fim de 2008 com perdas acumuladas de 42,12%. Em Nova York, o índice Dow Jones registrou perdas de 34,65% no ano. A Bolsa de Londres recuou 31,86%. No México, as baixas foram de 24,1%.
A Bolsa da Rússia, que sofreu muito com a depreciação do petróleo, destacou-se negativamente no ano, ao acumular queda de 67,6%.
A atual crise mostrou o preço que o Brasil tem de pagar por estar tão ligado ao mercado internacional. A saída recorde de capital externo do pregão da Bovespa foi um fator decisivo para a queda sofrida pelas ações brasileiras.
"O investidor externo é fundamental para o desempenho da Bolsa local, tendo chegado a representar cerca de 40% das negociações feitas em pregão", diz Bandeira, que lembra que, dessa forma, o retorno do capital externo ajudaria a impulsionar a Bovespa.
Até a semana passada, o saldo anual das operações feitas pelos estrangeiros no pregão da Bovespa estava negativo em R$ 24,5 bilhões, sendo o pior ano da história nesse quesito. O mês de maio foi o último em que os estrangeiros mais compraram que venderam ações.

Saída dos fundos
Não apenas a Bovespa encerra 2008 no vermelho. A indústria de fundos brasileira enfrentou seu pior ano desde 2002, quando a crise de confiança desencadeada pela eleição presidencial e as novas regras da marcação a mercado assustaram os investidores.
O mercado de fundos chega ao fim do ano com captação negativa (diferença entre aplicações e resgates) de R$ 67,6 bilhões, segundo dados da Anbid referentes ao último dia 24.
Mesmo com os juros altos pagos pelos fundos de renda fixa -compostos por títulos prefixados públicos e privados-, a categoria sofreu saques líquidos de R$ 50 bilhões no ano.
Muitos investidores optaram por migrar para os CDBs nos últimos meses. O expressivo crescimento do estoque dos CDBs mostra o quanto a procura por essa aplicação aumentou: de R$ 330 bilhões no fim de 2007, o estoque subiu para R$ 675 bilhões agora.


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