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Menos não é mais

Por que as mulheres ocupam cargos cada vez mais altos, mas continuam ganhando menos que os homens?

Lucas Lima/Folhapress
Vice-presidente da Heineken, Isabel Moisés lembra que as líderes tentavam esconder a feminilidade
Vice-presidente da Heineken, Isabel Moisés lembra que as líderes tentavam esconder a feminilidade

KATIA SIMÕES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O cenário é indiscutivelmente diferente do passado. Mas, embora a ascensão profissional das mulheres no mundo corporativo seja uma realidade, os números mostram que, mesmo ocupando cargos similares, homens e mulheres ainda recebem salários diferentes. Se, em 2009, os homens ganhavam em média 24,1% a mais que as mulheres, em 2010 essa diferença subiu para 25%, de acordo com o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em 2010 as mulheres receberam, em média, 2,8 salários mínimos, enquanto a remuneração dos homens foi de 3,5 salários, de acordo com dados do Cadastro Central de Empresas do IBGE.

Os resultados dos relatórios do Banco Mundial e do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) confirmam os números.

Com uma participação significativa de 40% no mercado de trabalho global e com mais de 51% das matrículas em cursos de formação universitária, a mulher ainda trabalha mais, recebe menos e encontra um cenário de disparidade nas mesas de decisões corporativas.

De acordo com o IBGC, de 2.647 posições de conselho efetivas no Brasil, em um universo de 454 empresas pesquisadas, apenas 7,71% das cadeiras são ocupadas por mulheres. O índice cai para 2,97% no cargo de diretor-presidente e para 3,9% na função de presidente.

Na prática, contudo, não é difícil encontrar profissionais que deitam por terra todos os dados estatísticos. "No passado, elas eram exceção, mas não são mais", afirma Ana Paula Pagan, 33, psicóloga e gerente-executiva da consultoria Staut RH.

Segundo ela, há quase uma década as empresas já não discriminam em seus perfis de vagas se preferem homens ou mulheres para determinada função. "A maioria detalha o perfil do profissional que procura nos quesitos bagagem cultural, experiência, características de comportamento e liderança", ressalta.

Formada em propaganda e marketing, com MBA em tecnologia de internet, Fátima Morganti, 43, diretora de serviços de suporte da HP, navegava em territórios reconhecidamente masculinos desde os tempos de colégio. Fez curso técnico de eletrônica e foi a primeira mulher a ser contratada na área técnica da empresa Ediza Eletrônica Digital, mais tarde comprada pela HP. Lá, fez carreira, a ponto de aos 20 anos supervisionar uma equipe de 45 homens. "Fui a primeira mulher a ocupar a diretoria de 'global delivery' (logística externa) na companhia em todo o mundo", diz. "É claro que a minha primeira liderança não foi fácil. Eu tive de manter uma postura firme e profissional, sem deixar a flexibilidade de lado quando era necessário."

ONDE ELAS ESTÃO

O caminho percorrido pela executiva não é exceção. Ao contrário, quando se amplia a visão do mercado e o número de empresas pesquisadas, o cenário revela-se bem mais positivo para as líderes. A participação feminina nos cargos de liderança cresce ano a ano. Hoje, elas ocupam mais de 48% dos postos de supervisão, igualando-se aos homens, e 64% das funções de coordenação. Além disso, 24% dos cargos mais elevados das organizações, como presidente e CEO (diretor-executivo), também já pertencem a essas profissionais, segundo levantamento feito no início deste ano pela Catho Online, com base nos dados do cadastro Catho, que reúne 480 mil executivos e 200 mil empresas nacionais e internacionais. "A presença feminina nos postos de liderança é uma prova de que a divergência entre os sexos no mundo corporativo está acabando", afirma Carolina Stilhano, gerente de comunicação da Catho.

É o caso de Isabel Moisés, 45, vice-presidente de RH da Heineken Brasil. Nascida em Portugal, ela assumiu a diretoria do departamento de recursos humanos da maior empresa de energia portuguesa, tendo como missão liderar uma equipe com profissionais mais velhos e experientes que ela. "Naquela época, as mulheres que assumiam cargos de comando tentavam esconder a feminilidade, deixavam a sensibilidade de lado e jamais revelavam qualquer fragilidade diante dos homens", lembra Isabel. "Hoje, as líderes já são mais femininas, gerenciam de forma mais delicada, mas ainda têm de estabelecer um limite nas relações, porque a cumplicidade e as conversas entre os homens são outras."

Há dois anos no Brasil e há quatro na Heineken, Moisés é a única mulher a participar do comitê executivo da companhia. De acordo com a profissional, ser exceção muitas vezes ainda decorre da atitude das próprias mulheres, que abrem mão de crescer na carreira para se dedicarem à família ou são pouco incisivas ao negociar promoções e salários.

Lúcia Velasco, 54, dona da Velasco Consultoria Organizacional, concorda: "Os homens são mais aguerridos e focados nas suas ambições".

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