São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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SEGUNDA CHANCE

Realidade frustra sonho de recém-formado

Fernando Moraes/Folha Imagem
Otávio Souza, que cursou administração, mas considera a carreira imcompatível com o seu perfil


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Salários altos, prestígio, ascensão rápida, atividades criativas. O sonho profissional pode estar bem longe da realidade e transformar-se numa rotina cansativa de jornadas excessivas, pressão por resultados, reuniões intermináveis e tarefas maçantes.
O desencontro entre esses dois mundos vira fonte de insatisfação para profissionais recém-formados e faz muita gente pensar que escolheu a profissão errada.
"É um sentimento que ocorre com cada vez mais frequência", afirma Waldir Bíscaro, especialista na área de aconselhamento profissional para adultos.
Karin Parodi, diretora da Career Center, aponta que essa decepção tem acontecido mais cedo. "Antes ocorria por volta dos 40 anos, mas hoje muitos procuram aconselhamento na faixa dos 30 anos."

Profissão x mercado
Para Maria Conceição Uvaldo, professora de orientação profissional da USP (Universidade de São Paulo), dificilmente a insatisfação é com a profissão. "O que quase sempre ocorre é frustração com as condições do mercado."
Essa foi a conclusão de sua pesquisa de mestrado, feita nes- te ano, com cerca de 260 profissionais de 30 a 45 anos que queriam trocar de carreira.
De acordo com especialistas em orientação profissional, o que falta é um requisito essencial na hora da escolha: saber o que realmente tem vontade de fazer e confrontar características e aptidões com o que o mercado exige e oferece.

Interferências externas
São tantas informações -influência dos pais, dos amigos, testes vocacionais, novas oportunidades- que o jovem, já no vestibular, abandona suas vocações.
"Muitos acabam descobrindo que a escolha foi mais determinada por um impulso do mercado do que por desejo próprio", declara Danilca Galdini, consultora da Companhia de Talentos.
Nesse quadro incluem-se os mais ambiciosos, que concentram sua atenção em profissões que prometem bons salários e ascensão rápida na carreira.
"Quem faz essa escolha nem sempre consegue satisfazer suas aspirações profissionais de longo prazo ou não considera o que precisará doar à empresa para obter esses resultados", diz.

Experiência
Mesmo quem fez uma boa auto-análise e se informou sobre a profissão com diferentes fontes não está livre de desilusões.
Isso porque muitos idealizam a carreira e, ao começar a trabalhar, decepcionam-se com o dia-a-dia.
"Em geral, todo mundo tem uma frustração inicial ao entrar no mercado. É preciso saber se o cotidiano da profissão é compatível com o estilo de vida", opina Augusto Costa, diretor-geral da Manpower do Brasil.
Otávio Dias de Souza, 24, prestou vestibular para administração aos 16 anos. Fez estágios durante o curso, mas não ficou satisfeito.
"Achei que o trabalho era muito burocrático, não combinava com o meu perfil. Queria atuar com o lado social e ter mais contato com as pessoas", afirma.
Após terminar o curso, Souza decidiu cursar direito. Hoje trabalha em uma ONG (organização não-governamental), na área de direito penal, e diz que se sente mais realizado.
"Foi ruim trabalhar só no final da faculdade, porque demorou para eu ter experiência profissional e saber do que gostava."

Prática ajuda
Experimentar o cotidiano da atividade dá um bom empurrão nos indecisos. Foi o que aconteceu com Daniel Barros, 24, gerente de marketing da empresa de rolamentos SKF.
Sem ter decidido em que área gostaria de atuar, optou pelo curso de relações internacionais por considerá-lo abrangente. Trabalhou com importação e logística, mas o que realmente atraiu seu interesse foi o marketing.
"Fui me definindo com a experiência, e essa era a área que mais combinava com as minhas características", diz Barros, que iniciou pós-graduação no setor.
Vanessa Munhoz, 27, formou-se em história e encontrou problemas para achar vagas. "O mercado é restrito, então fiz especialização em jornalismo, porque amplia meu campo de atuação." (BRUNA MARTINS FONTES)


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