São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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saúde corporativa

Mulheres faltam devido a cólica, mas dão outro motivo

Estudo aponta redução de produtividade em até 70% por causa da dor

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há dias em que a química Daiana Mesquita de Lima, 24, não consegue ir à fábrica em que trabalha. Varia a desculpa que dá ao telefone, mas nunca diz a seu chefe qual é o real motivo -a cólica menstrual.
"Já cheguei a telefonar e dizer que estava com diarréia", conta. "Não era verdade, mas, se eu dissesse que a causa era a cólica, poderia parecer que eu estava fazendo corpo mole."
Lima, que trabalha de pé, diz que as dores nas pernas atrapalham sua concentração e que não consegue encontrar nenhuma posição cômoda para trabalhar. "É assim durante um dia de cada mês", desabafa.
Um estudo divulgado no mês passado pela Revista Brasileira de Medicina apontou que cerca de 30% das mulheres se ausentam por algumas horas durante a jornada de trabalho por causa das dores de cólica, reduzindo a produtividade em 70%.
A pesquisa foi encomendada pela farmacêutica Boehringer Ingelheim, que faz um medicamento receitado contra cólica.
Assim como Lima, muitas mulheres justificam a ausência no trabalho com diagnósticos inventados. Para a ginecologista Flávia Fairbanks, "algumas mulheres ficam receosas de dizer no trabalho, todos os meses, que precisam faltar por causa de dor", conta.

Levadas a sério
Eduardo Schor, professor do Departamento de Ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), aponta que os sintomas da cólica menstrual nem sempre são levados a sério pelo chefe ou pelos colegas de trabalho.
"É difícil as pessoas -principalmente os homens- entenderem que uma mulher pode não conseguir trabalhar por causa das dores. Todo mundo pensa que é frescura", diz.
A psicóloga Desirée Castello Branco, 35, prefere que o seu fluxo menstrual não coincida com os dias em que atende seus pacientes. Por isso faz uso da pílula com pausas programadas -deixa de tomar o anticoncepcional na quarta-feira e menstrua no final de semana.
"A cólica é uma constante na minha vida. Já tentei todos os tipos de tratamento, e nenhum aliviou a dor", conta. "Durante as consultas, preciso estar bem para prestar atenção no paciente -o que é impossível com a cólica", completa.


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