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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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SOCO NO ESTÔMAGO

Estresse provoca azia ou gastrite em quase 30% dos executivos, diz estudo

Trabalho vive "era dos distúrbios gástricos"

TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Trabalhar sentindo fortes dores no estômago está se tornando rotina entre profissionais de diversos setores, alertam especialistas.
Desde a sensação de "friozinho na barriga" às vésperas de eventos importantes até o desenvolvimento de gastrite e câncer, passando por crises de vômito após reuniões tensas, muitos são os desconfortos vivenciados por quem desenvolveu distúrbios gástricos provocados por estresse.
Considerado o "segundo cérebro" do corpo pelo médico norte-americano Michael Gershon (autor do livro "The Second Brain", ed. HarperCollins Publishers), o estômago é um potencial somatizador dos problemas emocionais vivenciados no trabalho.
"Todas as emoções são refletidas diretamente nesse órgão", diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Brasil (International Stress Management Association). "O famoso "frio no estômago" é uma mensagem de ansiedade enviada do cérebro ao corpo", exemplifica a especialista.
Um estudo realizado pela associação, que monitorou 790 executivos de 2000 a 2002, constatou que 28% tinham o estômago afetado pelo estresse, com sintomas como azia ou gastrite. Problemas estomacais ocupavam o segundo lugar no ranking das manifestações somáticas do estresse, perdendo só para dores musculares.
De acordo com dados de pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, o problema estomacal mais sentido entre os brasileiros que procuraram ajuda médica (em uma amostra de 2.500 pessoas) foi a azia: presente em 66% dos casos.
Passando ao largo das estatísticas, um grande contingente de profissionais submetidos a sobrecargas elevadas de trabalho não encontra tempo para se dedicar a tratamentos e vai empurrando o problema com a barriga -ou melhor, direto para o estômago.
A psicóloga Catarine dos Santos, 23, é um exemplo. Acometida por fortes dores sempre que se depara com situações de pressão e de prazo reduzido para o cumprimento de tarefas extensas, ela já chegou a ter de parar de trabalhar.
"Havia dias em que eu não conseguia atender ninguém de tanta dor. Ia para o banheiro e me agachava. A sensação é horrível", descreve. Há dois meses ela vem "tentando" tomar a medicação recomendada pelos médicos e fazer terapia. "Trabalho muito, mas estou tentando me reeducar."
A administradora Carla Simi, 28, diz que desistiu de procurar terapia e outros métodos e adotou os remédios como alívio imediato. "Não tenho tempo. Durmo pouco, almoço em dez minutos e sinto dores desesperadoras. Ando sempre com o remédio para a gastrite e chego a tomar direto no gargalo do vidro", afirma.

Sem remédio
Mas, para salvar o aparelho digestivo, remediar apenas não interessa, ensina o neurologista, psiquiatra e especialista em distúrbios alimentares Sidney Chioro.
"Os problemas alimentares sempre têm um fundo emocional. São frutos de sensações reprimidas. No trabalho, o desejo vira ansiedade, e o medo vira preocupação. Sem tempo para trabalhar essas emoções, o indivíduo as transfere para o corpo", observa.
Chioro enfatiza que o único caminho para evitar que a azia se transforme em gastrite ou outros males é modificar padrões antigos de comportamento. "Enquanto a emoção original não for resolvida, o sintoma permanece."



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