São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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RH

Catho é acusada de "furtar" dados do site da Curriculum; caso traz à tona discussões éticas e legais do mercado de recrutamento

Cópia de currículos expõe guerra entre consultorias

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando um candidato cadastra o currículo em um site de recrutamento on-line, mal sabe a verdadeira guerra que se trava nos bastidores entre as empresas de RH (recursos humanos) do mercado.
A mais recente envolve a Catho, tradicional do setor, acusada de copiar arquivos de profissionais incluídos no site da concorrente Curriculum. Ambas têm bancos de dados na internet com informações de candidatos a empre- go que podem ser acessadas pe- las empresas contratantes.
A Catho está sendo processada por concorrência desleal na 33ª Vara Cível de São Paulo. A acusação, feita pelo diretor da Curriculum, Marcelo Abrileri, é a de que a concorrente teria copiado ilegalmente 120 mil currículos do seu banco de dados, em fevereiro.
Em abril, a Justiça nomeou dois peritos para examinar os computadores da Catho. O trabalho durou oito meses. No final de novembro, a Justiça recebeu um laudo com 5.000 páginas sobre o assunto, no qual os técnicos apontam irregularidades nos procedimentos da empresa em relação à concorrência. O conteúdo foi revelado na edição da semana passada da revista "IstoÉ Dinheiro".
Além de confirmar a suspeita da Curriculum, os peritos teriam descoberto um software denominado "rouba.phtml", que seria responsável por invadir sites de várias empresas da área (como Apinfo, Gelre e Manager) e copiar seus currículos e e-mails.

Contra-ataque
O presidente do Grupo Catho, Thomas Case, confirma a cópia dos dados feita por seus funcionários, mas afirma que o procedimento não é ilegal (leia texto no quadro ao lado). Ele acusa a Curriculum de montar uma "manobra ardilosa" contra sua empresa.
"A disputa é antiga. No passado, a Curriculum registrou em seu nome os endereços www.katho. com.br e www.cato.com.br com o objetivo de direcionar o tráfego do site da Catho [www.catho. com.br" para o site da Curiculum", informa nota oficial enviada pela empresa de Case a aproximadamente 900 jornalistas.
O diretor da Curriculum, Marcelo Abrileri, confirma a informação, mas se defende. "Estão tentando tirar o foco da questão. No passado, era comum registrar vários domínios, e o registro ocorreu dentro da lei", afirma.
Segundo o diretor, um funcionário da Curriculum teria cadastrado esses domínios da internet há cerca de dois anos, mas sem a anuência dele. "Quando a direção da empresa tomou conhecimento desse fato, entendeu que não seria ético manter os endereços e os cedeu à Catho." Atualmente os dois endereços parecidos na internet conduzem ao site oficial da Catho.

Ética
As duas empresas devem travar uma longa disputa jurídica -devido à ausência de decisões dos tribunais sobre casos similares no Brasil. "É difícil precisar o limite entre ser agressivo na concorrência e ser antiético. A questão de o que é informação pública e o que é privada é muito delicada", afirma o advogado Augusto Marcacini, vice-presidente da comissão de informática da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil).
José Carlos Teixeira Filho, advogado especialista em concorrência, lembra que, se a Curriculum provar que teve prejuízos com a medida da Catho, tem direito a indenização. "Se a acusada copiava e-mails para tomar clientes da outra empresa, isso pode ser caracterizado como aliciamento de clientes, o que é crime previsto pela Lei de Propriedade Industrial."


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