São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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ENTREVISTA
Para o professor italiano Domenico De Masi, profissionais de hoje trabalham mais tempo do que precisam
Ócio aprimora trabalho, diz sociólogo

LIA REGINA ABBUD
da Reportagem Local

Parece pouco lógico dizer que, para alcançar melhores resultados, são necessárias menos horas de trabalho e mais tempo livre.
Mas é justamente isso que prega o sociólogo italiano Domenico De Masi, professor da Universidade La Sapienza, de Roma, com especialização em sociologia do trabalho, que também presta consultoria para grandes empresas.
Em janeiro, quando esteve no Brasil para promover o seu livro "A Emoção e a Regra" (editora José Olympio), De Masi foi destaque do "Roda Viva", programa de entrevistas exibido pela TV Cultura de São Paulo.
A repercussão foi tanta que a entrevista teve de ser reexibida, e a emissora vendeu mais de 3.000 fitas de vídeo do programa.
Em entrevista concedida com exclusividade à Folha, o sociólogo -que estará fazendo palestras em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre entre 24 e 30 de maio- afirma que nos faltam horas de ócio. É isso mesmo: ócio, folga, falta de trabalho.
Os dirigentes das empresas, segundo De Masi, não precisariam ficar nas companhias mais de oito horas por dia. Mas estendem essa permanência e fazem em dez horas ou mais o que poderiam fazer em menos tempo.
E, como vivem em função desse trabalho incessante, não saberiam o que fazer no tempo livre. Quase sentem culpa quando têm um descanso, diz o sociólogo.
Segundo De Masi, é preciso que o homem aprenda a usufruir, desde cedo, do tempo livre de que dispõe. Caso contrário, quando alcançar o seu merecido descanso, não saberá como agir.
"A sociedade industrial concentrava todo o divertimento na infância, todo o estudo na juventude, todo o trabalho na maturidade e todo o repouso na velhice. Hoje, ao contrário, é possível conjugar lazer, estudo, trabalho e ócio em cada momento da vida."

Criação
O ócio, ao mesmo tempo, seria a ferramenta necessária para que o homem se torne mais criativo. Na opinião de De Masi, para ter grandes idéias, é preciso ter tempo para a introspecção, o que não acontece na atual organização do trabalho.
Os chefes das grandes empresas, segundo o sociólogo italiano, são "burocratas" que preferem controlar os processos, em vez de valorizar os resultados.
"Reduzem o seu pessoal cerca de 4% ao ano. Portanto, todos osque trabalham numa grande empresa vivem no eterno terror de ser demitidos. Quem vive no terror não consegue elaborar idéias novas."

Informações sobre as palestras do sociólogo no país: tel. (031) 241-5129.


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