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ENTREVISTA
Para o professor italiano Domenico De Masi, profissionais de hoje trabalham mais tempo do que precisam
Ócio aprimora trabalho, diz sociólogo
LIA REGINA ABBUD
da Reportagem Local
Parece pouco lógico dizer que,
para alcançar melhores resultados, são necessárias menos horas
de trabalho e mais tempo livre.
Mas é justamente isso que prega o sociólogo italiano Domenico De Masi, professor da Universidade La Sapienza, de Roma,
com especialização em sociologia do trabalho, que também
presta consultoria para grandes
empresas.
Em janeiro, quando esteve no
Brasil para promover o seu livro
"A Emoção e a Regra" (editora
José Olympio), De Masi foi destaque do "Roda Viva", programa
de entrevistas exibido pela TV
Cultura de São Paulo.
A repercussão foi tanta que a
entrevista teve de ser reexibida, e
a emissora vendeu mais de 3.000
fitas de vídeo do programa.
Em entrevista concedida com
exclusividade à Folha, o sociólogo -que estará fazendo palestras em São Paulo, Rio de Janeiro
e Porto Alegre entre 24 e 30 de
maio- afirma que nos faltam
horas de ócio. É isso mesmo:
ócio, folga, falta de trabalho.
Os dirigentes das empresas, segundo De Masi, não precisariam
ficar nas companhias mais de oito horas por dia. Mas estendem
essa permanência e fazem em
dez horas ou mais o que poderiam fazer em menos tempo.
E, como vivem em função desse trabalho incessante, não saberiam o que fazer no tempo livre.
Quase sentem culpa quando têm
um descanso, diz o sociólogo.
Segundo De Masi, é preciso que
o homem aprenda a usufruir,
desde cedo, do tempo livre de
que dispõe. Caso contrário,
quando alcançar o seu merecido
descanso, não saberá como agir.
"A sociedade industrial concentrava todo o divertimento na
infância, todo o estudo na juventude, todo o trabalho na maturidade e todo o repouso na velhice.
Hoje, ao contrário, é possível
conjugar lazer, estudo, trabalho e
ócio em cada momento da vida."
Criação
O ócio, ao mesmo tempo, seria
a ferramenta necessária para que
o homem se torne mais criativo.
Na opinião de De Masi, para ter
grandes idéias, é preciso ter tempo para a introspecção, o que não
acontece na atual organização do
trabalho.
Os chefes das grandes empresas, segundo o sociólogo italiano,
são "burocratas" que preferem
controlar os processos, em vez de
valorizar os resultados.
"Reduzem o seu pessoal cerca
de 4% ao ano. Portanto, todos osque trabalham numa grande empresa vivem no eterno terror de
ser demitidos. Quem vive no terror não consegue elaborar idéias
novas."
Informações sobre as palestras do
sociólogo no país: tel. (031) 241-5129.
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