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As melhores para trabalhar(?)
Para consultor, ranking de empresas desvia atenção de indicadores realmente importantes
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WILLIAN BULL
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para as áreas de recursos humanos, as pessoas são o principal foco de atenção no desempenho das funções, tendo papel especial nessa administração
questões relacionadas à atração e à retenção de talentos.
A força de trabalho espera
que a alta administração e a
área de recursos humanos a
tratem considerando seus talentos, por meio da aplicação
de políticas consistentes e
competitivas, sobretudo em relação a recompensas pela dedicação e pela aplicação no alcance de resultados.
A alta administração espera
que sua força de trabalho seja
formada por talentos que demonstrem excelência no desempenho e que a área de recursos humanos demonstre
seu valor estratégico para a organização, medindo o retorno
dos investimentos nas pessoas.
Os executivos são valorizados pelo retorno dos investimentos. Surge com isso a necessidade de mensurar o sucesso da força de trabalho na execução da estratégia e estabelecer e acompanhar indicadores
com tal validade estratégica.
O talento que as pessoas aplicam nas organizações -incluindo os comportamentos-,
alinhado com a estratégia,
constitui um ativo (intangível,
é verdade) importante ou até
mesmo imprescindível para o
sucesso das organizações.
Entretanto, como mensurar
a eficácia desses ativos? Sabemos que a tarefa não é simples e
boa parte dos indicadores utilizados pelas áreas de recursos
humanos acaba por medir mais
a eficiência dos processos da
própria área do que o sucesso
da força de trabalho de fato.
Com as dificuldades naturais
de se estabelecerem tais indicadores, opta-se pelos mais simples de serem obtidos -não necessariamente os mais eficazes.
Com muita freqüência, em
nome da comparabilidade com
o mercado e da obtenção de
"benchmarking" [referência]
de melhores práticas, ocorre
uma total inversão de valores.
Nesses casos, uma bem-definida e necessária estratégia de
capital humano é relegada a segundo plano ou, pior, subordinada a práticas e a indicadores
que nada têm a ver com a estratégia da própria organização.
É claro que não devemos ser
contra o aperfeiçoamento ou a
inovação de processos, desde
que estejam totalmente alinhados à estratégia do negócio.
Também, a não ser que a estratégia, a identidade e a cultura de uma organização sejam
iguais às de seus concorrentes,
soa estranho buscar um alinhamento com o mercado como
base para definir uma estratégia para sua força de trabalho.
Considerando que, diferentemente dos ativos tangíveis,
como recursos financeiros e
tecnologia, as pessoas e a forma
como a organização aprende e
se desenvolve não são facilmente copiáveis, as organizações deveriam medir o sucesso
de sua estratégia de capital humano por indicadores próprios
e com validade estratégica.
Ou seja, que lhe permitam
mensurar os resultados atuais e
prognosticar o futuro, com base na análise de tendências.
Isso sim seria capaz de permitir à empresa um efetivo
grau de consideração, reconhecimento, recompensa e planejamento da força de trabalho.
Decepção
Sendo assim, o fato de encontrarmos em várias empresas o
desejo de estarem entre as melhores para trabalhar, colocando-o como o grande desafio
proposto para as lideranças,
tem me causado profunda estranheza e alguma decepção.
Parece-me total distorção de
propósito quando ocorre sem
um questionamento de valor
ou concatenação estratégica.
Muitas vezes, essa se torna a
principal meta da agenda voltada para as pessoas, ou seja, a
eleição desse indicador como o
principal elemento de mensuração da satisfação e da moti-vação da força de trabalho.
Reside por trás dessa escolha
a crença de que "o melhor lugar
para trabalhar é também o melhor lugar para investir". Para
profissionais investirem em
suas carreiras e para acionistas
investirem o seu capital.
O que mais me assusta é uma
crença cega e desprovida de crítica. O que mais me assusta em
muitas áreas de recursos humanos e na atitude de alguns
presidentes de empresa é o fato
de assumirem certas premissas
como verdade absoluta, sem o
mínimo questionamento.
A eles, uma consideração:
cuidado. Ao criarem um "frankenstein" de laboratório,
terão de conviver com ele.
O projeto de uma empresa
saudável é algo que pode existir
fora do ranking de mercado.
Aprimorar os indicadores internos e os instrumentos para
detectar o que realmente é crítico para a força de trabalho impactará diretamente na decisão
gerencial e no rumo dos negócios, além de ser uma janela interessante a ser aberta.
Para que estar entre as melhores? Detectar pontos críticos, valorizar talentos internos,
reconhecendo-os e alinhando-os aos resultados, e criar uma
estratégia para o real desenvolvimento do capital humano são
condições básicas para ter uma
equipe e uma empresa, fora do
ranking talvez, mas entre as
melhores para trabalhar.
Willian Bull é consultor de capital humano da
Mercer
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