São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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PERFIL PADRÃO

Mundo executivo enfrenta uniformização

Fernando Moraes/Folha Imagem
O publicitário Washington Olivetto não usa terno no trabalho


FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pense na figura de um executivo. Se a imagem que lhe vem à cabeça é a de um homem de terno sóbrio, cabelos curtos e impecavelmente penteados, não é surpresa. Mas tente lembrar quantos profissionais conhece que não se encaixam nesse estereótipo.
Será que há espaço para a diversidade em um ambiente corporativo que parece já ter sido formatado? Ou será que aquele que "foge do padrão" é obrigado a aderir ao estilo e a camuflar as diferenças para conquistar o seu espaço?
Muitos, por exemplo, precisam disfarçar o sotaque caipira, o fato de ser homossexual ou mesmo mudar o estilo próprio de se vestir para não prejudicar a carreira.
Para o professor Thomas Wood Júnior, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, essa padronização traz desvantagens.
"Muitos jovens executivos gastam o salário em roupas e ficam todos iguais. E não só na aparência. Idéias e opiniões parecem estar sendo homogeneizadas."
Para Maria Elisa Carra, diretora de RH da Ernst & Young, nas companhias acabam prevalecendo o bom senso e o bom gosto. "Um executivo não vai ao extremo a ponto de usar jeans e tênis."
A sócia da auditoria, Maria Helena Pettersson, concorda. "A exigência para que executivos se enquadrem em um perfil padrão vem desaparecendo. Passou-se a dar mais valor à capacidade."
A questão do sotaque, por exemplo, caipira ou nordestino, na opinião dela, não interfere na decisão de contratar ou não um executivo, desde que o profissional seja competente. "Ele pode até receber uma orientação depois da contratação, mas não deixará de fazer parte da empresa por isso."
Mas impor o estilo pessoal nem sempre é fácil. Edgar Silva, 22, que nasceu em Belém (PA), onde hoje é sócio de uma empresa de tecnologia, diz que no período em que trabalhou em São Paulo não sofreu preconceito por parte dos colegas da empresa, mas dos clientes. "Certa vez, uma senhora, ao me ouvir falar, reclamou que tinha pago muito caro para vir um nordestino", conta, ao mencionar também a confusão frequente entre as regiões Norte e Nordeste.

Adaptação
Márcia Sulman Gonsales, 35, gerente de planejamento estratégico e novos negócios da Avon, faz questão de preservar seu sotaque pernambucano e diz nunca ter sofrido dentro da empresa qualquer forma de discriminação.
"Sempre fui avaliada pelas minhas competências, e isso nunca me preocupou. Mas noto que, mesmo involuntariamente, incorporei expressões paulistanas."
Segundo Wood, é raro encontrar executivos que fogem das referências mais comuns de comportamento, ou porque temem ser diferentes ou porque foram mudados pela vida empresarial. "As corporações vão ocupando espaço e educando à sua maneira", diz. (GIOVANA TIZIANI)

Colaborou a Redação

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