São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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JORNADA INTEGRAL

Estágios de oito horas são 70% das ofertas

Fernando Moraes/Folha Imagem
Carmeli Yosawa decidiu parar estágios para estudar mais


TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Estagiar durante oito horas diárias e assistir às aulas no turno da noite. Essa é a rotina enfrentada por um número cada vez maior de estudantes universitários.
De acordo com dados do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios), cerca de 70% das oportunidades oferecidas hoje aos estudantes pelas empresas são para jornada integral. Estágios de quatro e seis horas dividem os 30% restantes.
Entre as vagas oferecidas pelo CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), o quadro não é muito diferente: no país, 57% da oferta atual de vagas de estágio requer as tradicionais oito horas de dedicação. No Estado de São Paulo, esse índice chega a 68,5%.
"A jornada de oito horas se tornou uma espécie de consenso entre empresas e estudantes", afirma o diretor administrativo do Nube, Carlos Henrique Mencaci, 37. "A empresa passa a empregar alguém com disponibilidade para acompanhar toda a rotina de trabalho, enquanto o estudante tem a oportunidade de ganhar um pouco a mais", completa.
Ele aponta a realidade socioeconômica brasileira como um dos fatores determinantes do fenômeno. "A maioria dos estudantes paga sua faculdade. Para isso, é necessário ter o dia disponível para uma atividade rentável", diz.
Fernanda Dias de Oliveira, 28, gerente de atendimento do Nube, ilustra a idéia de "consenso" com a experiência vivenciada por uma grande empresa de cosméticos.
"Eles implantaram um esquema de estágio de seis horas e admitiam que os estudantes trabalhassem mais durante as férias, se quisessem. Por pressão dos próprios estagiários, acabaram repensando a proposta e adotaram o esquema de oito horas diárias."

Correria
Mas dar prioridade ao aprendizado no estágio tem seu preço: com praticamente todas as horas do dia preenchidas, os universitários acabam dispondo de pouco ou de nenhum tempo para dedicar aos estudos durante a semana.
O cenário preocupa especialistas em educação, que prevêem uma desqualificação generalizada do mercado de trabalho a longo prazo. Para eles, o estudante está sendo obrigado a negligenciar sua formação cultural (leia na pág. 3).
A estudante de administração Júlia Manfrinato, 21, diz preferir o estágio que faz em período integral a trocar por um de seis horas, que "seria menos interessante".
Mas precisa se desdobrar para dar conta da correria diária. Sempre "em cima da hora", ela deixa o estágio às 17h e entra na faculdade às 19h. "Uso uma hora e meia para estudar. É corrido, mas não afeta meu rendimento", diz.



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