São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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ENTREVISTA

LUCIENE REZENDE

Pesquisadora elabora teste de memória para seleção de policiais

Objetivo é mensurar capacidade de relatar o que se ouve

"A memória tende a guardar o essencial da mensagem, dando menos importância aos detalhes. Enquanto lê, torne aquele conteúdo significativo para sua memória. Assim, ele será registrado de forma mais profunda. É como se você "lutasse" contra suas funções cognitivas, que tentam reter só a essência"

DA REPORTAGEM LOCAL

Lembrar com precisão aquilo que foi relatado é habilidade essencial em algumas profissões. Mesmo assim, os processos seletivos no Brasil ainda não fazem uso de métodos que possam distinguir entre os que conseguem recordar bem o que lhes foi dito, sem distorcer informações, e os que não sabem fazê-lo. Luciene Rezende tratou do tema em seu mestrado na Universidade de Brasília e elaborou um teste inédito para policiais, baseado em memória de relatos. (ANDRESSA ROVANI)

 

FOLHA - No Brasil ainda não existe aplicação de testes de memória de relatos. Em que ele se diferencia?
REZENDE
- De fato, não existe. O teste foi desenvolvido para ser utilizado na seleção de policiais. Ele está focado na avaliação de memória de relatos porque é essa a mais utilizada por eles. Bons policiais possuem boa memória de relatos, ou seja, conseguem recordar o que lhes foi contado sem distorcer. O teste, então, acessa sua memória de longo prazo. O relato pode ser algo que lhe disseram ou que ele tenha lido ou, ainda, uma seqüência de imagens. O policial trabalha muito com o que lhe é dito, por isso o teste utiliza como estímulo a voz.

FOLHA - Que implicações a má seleção de policiais pode ter?
REZENDE
- Uma má seleção pode implicar contratação de profissionais cujas estruturas de personalidade não se adaptarão àquela função, gerando sofrimento e, em casos extremos, psicopatologias e até mesmo o suicídio. É uma questão de probabilidade. A boa seleção aumenta a chance de contratar pessoas mais indicadas para aquele cargo e vice-versa.

FOLHA - Qual é o impacto esperado no cotidiano dos selecionados?
REZENDE
- Normalmente, quando recuperamos algum fato guardado em nossa memória, misturamos esse fato com informações já armazenadas e reproduzimos uma "mistura" em vez do fato original. Guardamos o essencial; o que esquecemos preenchemos com inferências, sem percebermos.
Vou dar um exemplo: um vídeo sobre um acidente automobilístico foi mostrado a dois grupos. Para um deles, perguntou-se qual a velocidade do carro quando bateu no poste. Para outro, qual a velocidade quando ele esmagou o poste. A média da velocidade obtida pelas respostas do grupo que recebeu a pergunta com a palavra "esmagou" foi significativamente maior. Ao serem questionados se haviam visto estilhaços de vidro no vídeo, o segundo grupo respondeu "sim" com maior freqüência, apesar de não haver estilhaços no filme. De alguma forma, a memória original parece ser "contaminada" por novas informações. Isso é um perigo. O teste mede duas coisas: se o candidato consegue recordar bem o que lhe foi dito e se o faz sem distorcer dados.

FOLHA - Como reparar a memória?
REZENDE
- Há dicas valiosas formuladas por John R. Anderson [leia mais ao lado].


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