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ENTREVISTA JOSÉ DARI KREIN
Direito do trabalho não é assegurado
PARA PROFESSOR, PAÍS PRECISA INVESTIR MAIS EM GARANTIAS DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, QUE, NO GOVERNO LULA, RETROCEDEU EM ALGUNS PONTOS
DE SÃO PAULO
A quase um mês das eleições, a Folha conversou com
o professor José Dari Krein
para discutir as políticas públicas voltadas para o trabalho. Para ele, o governo Lula
avançou em alguns pontos
no direito trabalhista, mas
retrocedeu em outros. Ele
também afirma que as propostas dos candidatos à Presidência não contemplam
efetivamente o assunto.
(BB)
Folha - Como o senhor avalia
as políticas públicas do governo federal voltadas para o
emprego?
José Dari Krein - Avalio como uma posição um pouco
ambígua. Uma série de medidas foram no sentido da flexibilização das relações do trabalho. Houve aumento do
poder do empregador estabelecido de forma unilateral às
condições de uso e remuneração do trabalho e, portanto, aumento da insegurança
em relação à estabilidade do
trabalhador. Como na Lei de
Falências e Concordatas,
porque o pagamento das dívidas da empresa falida é dirigido ao credor, e não ao
passivo trabalhista, como era
anteriormente. Também apareceram vários tipos de contrato em que não é possível
caracterizar uma relação de
emprego. É comum as transportadoras não terem caminhão próprio. Você contrata
o motorista e ele fica responsável pelo caminhão, pela
carga, por tudo. Assim, deixou-se de reconhecer a proteção assegurada pela legislação. No entanto, citaria como
positiva a política de valorização do salário mínimo, importante para diminuir a desigualdade de renda e resgatar a atuação sindical.
Quais seriam boas condições
de trabalho?
A pessoa não precisa vender sua força de trabalho por
qualquer condição. Se estiver doente, tem garantias de
emprego, seguro-desemprego, direito a ter uma carga de
trabalho máxima instituída
por lei, salário mínimo, entre
outras coisas. Em 2001, havia
a ideia de que o legislado valia menos do que o negociado, e isso era acabar com leis
trabalhistas.
Houve alguma ação equivocada do governo Lula?
A política do primeiro emprego no início do governo
não funcionou porque a dinâmica do emprego não está
vinculada à criação de certos
incentivos facilitadores da legislação. Está vinculada às
condições econômicas. No
período em que cresceu a
economia também houve aumento da criação de emprego. Apesar do avanço lento, a
situação caminha para um
mercado civilizado.
O que seria um mercado mais
civilizado?
O mercado de trabalho regular precisa de algumas
condições -a geração de emprego de qualidade. Para isso, é necessária a manutenção da taxa de crescimento
econômico e um projeto de
desenvolvimento que seja
capaz de gerar emprego de
qualidade. A segunda parte é
avançar na regulação pública do trabalho, enfrentando
problemas como a questão
da rotatividade. É preciso investimento para que as pessoas permaneçam no emprego e tenham perspectivas de
carreira na empresa. Para
manter o emprego, as pessoas têm de trabalhar muito
mais, levar trabalho para casa e atuar sob forte pressão.
Outra questão importante
é a terceirização, que é uma
expressão de precarização
do mercado de trabalho e
tem avançado no Brasil.
Como o senhor vê as propostas dos atuais candidatos à
Presidência?
O tema do trabalho aparece de forma muito tímida. A
questão da qualificação profissional aparece um pouco
mais nas propostas, em geral
relacionada ao ensino técnico. Mas é uma questão que
tem de ser entendida como
elemento de cidadania, e não
como instrumento para
adaptar as pessoas ao mercado de trabalho. Deve haver
investimento em formação
universitária para alguns setores. Há estudos, por exemplo, que mostram que poderemos ter problemas com a
formação de engenheiros em
curto prazo. Isso significa
pensar uma política mais articulada, que combine formação escolar, técnica e específica, investimento em
universidades e processos de
requalificação de pessoas
que já estão no mercado.
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