São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Navio não dá folga para a tripulação

da Reportagem Local

"Entrei de gaiato no navio, entrei, entrei, entrei pelo cano." Esse sucesso da década de 80, cantado pelo grupo Paralamas do Sucesso, pode ser um bom referencial para quem imagina que em cruzeiros marítimos a rotina é mansa.
A idéia de viajar meses em um navio maravilhoso, equipado com piscinas, cassino e muita gente bonita, é só uma parte da história dos que trabalham nesse meio.
O italiano Giorgio Sommavilla, 55, atuou durante 30 anos como comissário de cruzeiros marítimos e viu o seu primeiro casamento afundar como o "Titanic" (navio que naufragou em 1912).
"Quem trabalha nessa área não pode ter uma vida fora do barco. É praticamente impossível."
Segundo Sommavilla, em um trabalho em que o profissional fica oito meses fora de casa, é difícil manter uma família. "Eu era um estranho dentro de casa, nem meu filho me reconhecia."

De prontidão
O trabalho em cruzeiros marítimos, seja como comissário, camareiro ou agente de recreação, exige muita disposição do profissional.
Não há horário de folga determinado. "Trabalhamos sete dias por semana, em período integral, e paramos apenas para comer e descansar", explica Sommavilla.
Segundo ele, até quando é possível conseguir uma ou duas horas para relaxar, o profissional continua pronto para entrar em ação.
Isso significa que, se um funcionário estiver tomando uma cerveja na piscina e algum passageiro precisar de algo, ele tem de interromper o seu descanso e atender a solicitação imediatamente.
A estudante de turismo Eliane Dantas de Lira, 21, afirma que, apesar de gostar do ramo, o desgaste é muito grande.
No período das férias escolares, ela fez uma viagem pela costa brasileira que durou cerca de três meses. Sua função era atuar como monitora de diversão e atividades.
Embora fosse um sonho antigo fazer uma viagem desse tipo, Eliane afirma que o trabalho é muito estressante e cansativo.
"A jornada é de 12 a 14 horas diárias e não há nem Natal nem Ano Novo. Enquanto todo mundo festeja, a gente trabalha", diz.
Segundo ela, em muitas ocasiões, quando estava fora de serviço, teve de atender passageiros que solicitaram a sua ajuda. "Isso não me incomoda. Sempre soube que os passageiros têm prioridade e estão lá para se divertir", comenta.

Seis idiomas
Trabalho escravo? Na opinião de Sommavilla, não. Ele diz que a carreira tem as suas compensações e que, se o profissional souber se divertir, acaba achando o trabalho muito interessante.
Um comissário iniciante ganha, em média, US$ 2.000 por mês. Para ele, quem quiser trabalhar na indústria marítima precisa ter facilidade para se relacionar, ser curioso e gostar de viajar.
Com seis idiomas na "bagagem" -alemão, espanhol, grego, inglês, italiano e português-, Sommavilla diz que a profissão pode abrir outras oportunidades de trabalho: como tradutor ou guia de viagens.


Texto Anterior: Fotografar nus exige psicologia
Próximo Texto: Confira chance em engenharia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.