São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Políticos têm de lidar com a má fama da classe

da Reportagem Local

Carro com motorista e combustível, flexibilidade de horário, gabinete com secretários e fama de autoridade. Mordomia ou não, isso tudo faz muita gente ter vontade de entrar para a vida política.
Só que para quem atua nesse setor diariamente, a função não parece tão cheia de vantagens.
Na opinião do vereador paulistano José Eduardo Martins Cardozo, 39, do PT (Partido do Trabalhadores), a questão do salário e das regalias dos políticos não fica muito clara, e as pessoas se iludem.
"Dos R$ 4.000 que recebo mensalmente, 30% (R$ 1.200) ficam para o partido", explica.
Cardozo diz que entrou para o setor político por ter muito interesse pelo assunto, mas garante que a atividade é bastante trabalhosa. "A fama realmente não é das melhores. E quem realmente trabalha sai perdendo", explica.
Ele diz que a maioria das pessoas acha que o funcionário público é folgado e "marajá". "Não é bem assim. Eu mesmo, para ganhar o suficiente, tenho de continuar dando aula em universidades", explica.

Cara feia
Mas, para Cardozo, o lado chato da profissão não se resume à fama de o profissional fazer corpo mole.
Ele diz que um dos maiores problemas da carreira é a rejeição quanto à confiabilidade do caráter. "Isso é terrível. As pessoas sempre acham que a gente está mentindo ou querendo convencer", explica.
Cardozo conta que sempre que faz uma palestra, sente o público mudar de conduta no momento em que é apresentado.
"Quando falam que eu sou professor universitário e mestre em direito administrativo, todos olham com admiração. Mas, quando dizem que sou vereador, a admiração vira cara feia", explica.
Outro ponto negativo da profissão, na opinião dele, é a forma incorreta como é interpretado o poder do cargo político.
Ele conta que muitas pessoas vão ao seu gabinete para fazer reclamações e pedidos, mas que, a maioria deles, está fora de sua competência profissional. "Somos vistos como milagreiros que são capazes de resolver qualquer problema", diz.
Só que falsas interpretações não vêm apenas de pessoas desconhecidas. Segundo Cardozo, parentes e amigos também confundem as coisas e pedem favores.
Por isso tentar passar despercebido em locais como restaurantes e cinemas é quase uma obrigação.
"Até em festa de família eu tenho de ficar me esquivando. Ouço pedido de emprego e reclamações sobre buracos nas ruas e atraso nas coletas de lixo", comenta.


Texto Anterior: Telemarketing abre 188 vagas
Próximo Texto: Mercado geral dá reajuste
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.