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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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INSTANTÂNEO

Sucesso e receios pontuam carreira

Maioria se considera feliz na profissão, mas trabalha em excesso e encara fantasma do desemprego e das cobranças, diz pesquisa

Lição do poder: chegar ao topo da hierarquia significa, de fato, atingir a realização profissional, só que cercada de concessivas, os "ainda que", os "embora", os "mesmo que".
É sentir-se feliz no cargo, ainda que a jornada seja extenuante. Desfrutar de um ambiente de trabalho que considera agradável, embora o tempo que sobre para fazer o mesmo com a família seja insuficiente. Atuar numa empresa admirável, mesmo que a função mal possibilite tirar férias todo ano. Receber uma remuneração satisfatória, mas conviver com os riscos da desatualização profissional e do desemprego.
Pesquisa realizada pelo Datafolha sobre o perfil dos executivos na região metropolitana de São Paulo traduz isso em números.
Os profissionais que ocupam cargos de chefia (como diretores e gerentes) de empresas de grande, médio e pequeno porte dizem estar felizes ou muito felizes com seu trabalho. Somam 83%. A explicação para 52% deles é que podem fazer aquilo de que gostam.
Ainda na safra de boas impressões coletadas na pesquisa, está a avaliação positiva do ambiente de trabalho -96% consideram ótimo ou bom o relacionamento com chefes, colegas e subordinados- e, em uma proporção menor, a satisfação com o salário -para 60%, o valor está de acordo com o trabalho exercido.

Aflições
O panorama róseo, porém, é ofuscado por números que sugerem, por exemplo, que a sina de "workaholic" não se foi, em que pesem os programas de qualidade de vida, em moda nas empresas.
Chega a 62% o índice de entrevistados que dizem trabalhar ao menos dez horas por dia. Quase um terço deles (30%) afirma ter expediente diário de no mínimo 12 horas. Soma-se a isso o fato de que só 9% desfrutam dos 30 dias de férias por ano fixados em lei.
Índices à parte, a questão já nem é mais o superapego ao trabalho. A pesquisa do Datafolha aponta que, longe de querer dar exemplo aos subordinados, a alta cúpula das empresas padece de inquietações nada diferentes das compartilhadas no chão de fábrica.
O risco do desemprego surge como o maior temor (quase um terço das respostas), ainda que se ocupe cargo teoricamente de confiança. E a desatualização na área profissional (citada por 24%) é vista como o maior alçapão que leva ao fracasso, à perda do cargo.
O receio se junta à autocrítica. O Datafolha questionou a importância de certos atributos para o sucesso. Também perguntou aos entrevistados a nota que dão a si próprios nesses itens. Na comparação, provam reconhecer o peso de qualidades como domínio de idiomas, aprimoramento (como pós-graduação) e rede de contatos ("networking"), embora nesses quesitos afirmem que sua perfomance não ande tão bem.
Descobriu-se também que os graduados nas universidades privadas dominam os postos de direção das empresas de hoje. Representam nada menos que 87%.
No mais, a imagem costumeira que se tem do executivo se confirma. É o porta-retratos de um homem (82% do total) de 43 anos em média e pai de família (75%), ainda que tudo venha mudando.
(CLEBER MARTINS)


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