São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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PORTAS ABERTAS

Matrículas triplicam em cinco anos

De 2000 a 2005, universitários deficientes vão de 2.173 a 6.328, mas barreiras persistem

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Reflexo da procura por melhor colocação profissional por parte de pessoas com deficiência, o número de estudantes com necessidades especiais matriculados no ensino superior cresceu 191% de 2000 a 2005 -foi de 2.173 para 6.328.
O crescimento pode sugerir avanços para a inclusão social, mas a desigualdade está longe de ser deixada para trás. Do total de estudantes universitários com alguma deficiência, 49% estão concentrados na região Sudeste do país. Só 4% estão no Norte -em 2005, havia apenas dois matriculados no Acre.
Os dados são de levantamento feito pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Para receber esses novos alunos, as instituições de ensino estão buscando se adaptar -tanto na estrutura como na formação do corpo docente.
Desde 2005, por meio do projeto Incluir, o governo destina verba a universidades federais que pretendam trabalhar a inclusão de deficientes. Em 2007, R$ 2 milhões foram investidos em 38 instituições.
O projeto Curupira, do Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas, foi um dos escolhidos. Recebeu R$ 77 mil para oferecer cursos de libras (língua brasileira de sinais), comprar equipamentos adaptados e eliminar barreiras arquitetônicas, entre outros.
"O aluno que passou no vestibular tem o direito de fazer o curso", declara Liliane Brito de Melo, 36, uma das idealizadoras do Curupira. "Nós temos de criar as condições certas."
A Universidade Federal Fluminense também recebeu verba -R$ 94 mil, para o projeto Sensibiliza, que visa equipar grupos de trabalho de inclusão.
"Trabalhamos não só para garantir a acessibilidade mas também a inclusão do tema deficiência em nossos cursos", afirma a responsável pelo projeto da UFF, Luiza da Costa.
Uma das beneficiadas pelo Sensibiliza é a estudante de química industrial Vanessa Ildefonso, 24, que é deficiente auditiva desde que nasceu.
"Ao entrar na faculdade, confesso que fiquei com medo do desafio", comenta. "Pensei que não conseguiria me adaptar."
Como consegue fazer leitura labial, Ildefonso assiste às aulas sem intérprete e diz ter as mesmas dificuldades dos colegas.
A exceção é quando o professor é estrangeiro -nesses casos, tranca a matéria para cursá-la em outro semestre.
"Tive um professor que usava bigode, não conseguia entender o que ele falava", conta. Orientada pela coordenadora do curso, pediu-lhe que aparasse a barba -e foi atendida.

Obstáculos
Para Robson Pereira, 28, estudante de direito do Centro Universitário Augusto Motta e deficiente visual, uma das dificuldades é, além da ausência de materiais adaptados, a falta de preparo do corpo docente.
"A única coisa que pode de fato atrapalhar a minha carreira é a falta de material jurídico em braile", explica Pereira, que pretende prestar concurso para defensor público ao se formar.


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