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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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PÓS-GRADUAÇÃO

Explosão da oferta de cursos com a sigla e dificuldades econômicas reduzem efervescência do setor

Concorrência e crise freiam alta do MBA

FERNANDO SANTOMAURO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O mercado de MBAs (Master in Business Administration) está em fase de transição no país. Após a explosão da oferta de cursos de todos os tipos e níveis nos últimos anos e sentindo os efeitos da crise econômica prolongada, o setor já não registra a mesma efervescência na relação candidato/vaga.
"Não teremos mais a alta procura pelo curso, como acontecia nos semestres anteriores, causada pela demanda reprimida do mercado. Atualmente existe uma tendência de estabilização do fluxo de candidatos", constata Joel Dutra, coordenador dos cursos de MBA da FIA-USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo).
Além das mudanças na proporção oferta/procura, "o processo econômico que vivemos no ano passado teve reflexo no mercado de MBAs", lembra o coordenador do MBA Executivo da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), Tharcisio Souza Santos.

Sem financiamento
Santos afirma também que as empresas, diferentemente do que faziam nos últimos anos, hoje estão menos dispostas a financiar o MBA de seus funcionários.
Irineu Gianesi, coordenador do curso executivo do Ibmec Educacional São Paulo, concorda: "Há três anos as firmas pagavam parte dos estudos de cerca de 80% dos nossos alunos. Hoje o índice caiu para perto de 50%".
É o caso de Carla Melina, 27, que passou a pagar sozinha o MBA, após deixar o emprego e perder o subsídio da empresa. "E ainda tive de reembolsar à companhia os valores que foram pagos", conta.
A despeito dos sinais de transição, dez escolas consideradas "tradicionais" no mercado consultadas pela Folha (confira quadro nesta página) mantiveram a mesma proporção candidato/vaga nos últimos três semestres.
O cenário ainda é considerado bom nas escolas de primeira linha, mas, segundo Ana Paula Maniquini, coordenadora da BSP (Business School São Paulo), os cursos com menor qualidade devem sofrer duros golpes.
Luca Morroni, coordenador do curso da Escola de Direção de Empresas Fisp, completa: "A proliferação desmedida de cursos que não têm qualidade é gritante. Os de curta duração, que não obedecem ao programa de matérias que caracterizam o MBA, não podem ser chamados de MBA".
Hoje o país contabiliza mais de 500 cursos do tipo com diferentes perfis. A maior parte é de programas de especialização em áreas específicas da administração, com duração reduzida (de nove a 18 meses) e voltados a alunos com pouca experiência profissional.
Esses cursos de especialização, que também se autodenominam MBAs, têm processos de seleção mais abrangentes, que não exigem grande conhecimento, no que se diferenciam bastante do formato tradicional do sistema. Grande parte desses cursos foge ao padrão da sigla, apresentando diferenças na duração, no conteúdo e no objetivo do aprendizado.

Modelo importado
O primeiro MBA do mundo foi criado em 1905, na Universidade de Harvard (EUA), como um curso de pós-graduação que daria uma visão geral sobre o funcionamento das empresas, proporcionando ao aluno trânsito em todas as áreas da administração.
O curso era longo: exigia dedicação total por um período que ia de 600 a 1.000 horas/aula. A partir dos anos 50, o modelo de MBA mudou para o que hoje é chamado de "formato executivo", que tem em média até 500 horas/aula.
No Brasil, desde o final dos anos 80 a oferta desses cursos vem crescendo. A inspiração é o modelo americano voltado ao alto executivo que busca uma noção ampla de todas as áreas da empresa. Nesses casos, o curso tem maior duração (variando de 15 a 24 meses) e, na maior parte, inclui módulos em universidades estrangeiras (cobrando preços que variam de acordo com o dólar).
Esse tipo de MBA tem turmas consideradas mais "seletas". A seleção exige carta de recomendação, histórico escolar e entrevista.


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