São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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O CAMINHO DO EMPREGO

Menos de 2% dos deficientes tem 12 ou mais anos de estudo

Falta de qualificação é apontada pelas companhias como o principal obstáculo à inserção profissional

DA REPORTAGEM LOCAL

Formada em psicologia e cursando pós-graduação, Priscila Branca Neves, 25, trabalha na Serasa há um ano e meio, na área de cidadania empresarial. É o segundo emprego dela, que, antes, havia trabalhado por três meses em telemarketing.
Neves é uma exceção em meio ao perfil das pessoas com deficiência no Brasil: dos 24,6 milhões de deficientes, 1,55% tem 12 anos de estudo ou mais -a maioria acima dos 60 anos.
Por isso inclusão e aumento de qualificação profissional devem caminhar de mãos dadas. Devido à falta de preparo dos deficientes, a curto prazo, é pouco provável que as 518 mil vagas que deveriam ser ocupadas por eles em médias e grandes firmas sejam preenchidas.
"O mercado tem uma grande dificuldade em encontrar [trabalhadores com deficiência]. As grandes empresas têm feito o possível para recrutar pessoas que se encaixem em sua atividade-fim", diz o advogado Sólon Cunha, do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice. "Oferta existe. Mas é difícil encontrar pessoas qualificadas, ainda mais no interior", afirma.
Segundo levantamento feito pela consultoria i-social com base no Censo 2000, do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), hoje, a relação é de 2,3 vagas no mercado de trabalho por pessoa com deficiência, se levados em conta dois critérios de seleção: idade e escolaridade. Nesse universo, eles formam, ao todo, cerca de 228 mil pessoas com oito anos de estudo ou mais e idade entre 20 e 34 anos.

Qualificação
Para atender a uma demanda muito maior do que a vista há dois anos, associações e instituições privadas sem fins lucrativos assumem parte da responsabilidade pela qualificação de deficientes como forma de unir empresas e trabalhadores.
Na Laramara, centro de referência na qualificação de pessoas com deficiência visual, 433 dos 700 trabalhadores encaminhados neste ano para entrevistas em companhias foram admitidos.
"O enfoque dos nossos cursos é educacional. Eles vêm em busca de softwares de voz e de aceitação. Às vezes, é um profissional com muita habilidade para o mercado de trabalho, mas sem autonomia [para se locomover]", diz Érica Cristina Silva, da coordenação de cursos de capacitação. Em média, relata, os alunos têm 30 anos, ensino médio completo e experiência no currículo.

Parceria
"Estamos um tanto quanto longe de atingir a cota", aponta Daniel Battistini, chefe de departamento pessoal da Accor. "Como a DRT atua hoje mais fortemente, o deficiente ficou supervalorizado no mercado de trabalho e há escassez de profissionais", salienta.
A forma encontrada pela empresa para se adequar à lei foi tornar-se parceira de ONGs em todos os Estados em que está presente. "No começo do programa, há um ano e meio, inserimos deficientes auditivos na cozinha, que era a experiência que tínhamos. Hoje, temos profissionais com deficiência em diversas áreas", destaca.
"Agora, antes de abrir uma nova unidade, já pensamos na inclusão. Ao menos estamos em um "filão" de mercado: conseguimos contratar pessoas com menos qualificação." (AR)


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