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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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SUA CARREIRA

Diplomado recorre a vaga "inferior", mas é preterido no processo de seleção

No "limbo", graduado reduz expectativas

André Sarmento/Folha Imagem
Daniela da Silveira, formada em ciência da computação, tentou vaga até em cartório de São Paulo


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O mercado está difícil para todo mundo, isso não é novidade, mas a verdade é que para alguns profissionais o problema é mais grave. Cansados de ouvir que faltam cursos em seu currículo -sobretudo mestrado e especializações-, deixam o orgulho de lado e buscam colocações que exigem baixos níveis de escolaridade.
É aí que vêm as surpresas. Daniela Mota da Silveira, 25, por exemplo, formou-se em 2000 em ciência da computação, com ênfase em análise de sistemas, e nunca conseguiu trabalho fixo em sua área. Então resolveu se candidatar a uma vaga que não exigia nível superior em um cartório na avenida Paulista, em São Paulo.
Ao perguntar por que não seria contratada, diz ter ouvido da selecionadora que o problema era o "excesso de cursos" em seu currículo. "Ou é "Nossa, você tem tudo isso? Mas eu só preciso de um digitador" ou então "Falta um curso da linguagem tal de programação". Fico entre dois extremos: ora sei muito, ora sei pouco", conta.
O dilema é comum, dizem consultores. E o mal "ataca" sobretudo recém-formados que não conseguem entrar no mercado de trabalho e desempregados que, por estarem desatualizados, não conseguem retornar à sua área.
"As pessoas se dedicam à empresa e se esquecem de cuidar de si mesmas, ou seja, da carreira", diz Neli Barboza, coordenadora de consultoria da Manager Assessoria em Recursos Humanos.
A massoterapeuta Ana Cláudia Rodrigues Lira, 33, que tenta uma vaga de telefonista em um concurso, conta que tentou ser embaladora de loja, mas foi descartada. "Ao verem o currículo, disseram que não era serviço para mim e que eu merecia coisa melhor."

Trampolim
Se no setor público basta ser aprovado em concurso, no setor privado quem tem nível superior dificilmente consegue colocações que exigem baixa escolaridade. Empresas ouvidas pela Folha disseram que contratar esse tipo de profissional é um risco, pois ele costuma deixar a equipe antes de compensar o investimento feito.
No Centro de Solidariedade ao Trabalhador da Força Sindical, que oferece a empresas serviço gratuito de intermediação de mão-de-obra, de janeiro a junho deste ano, 5.578 pessoas com ensino superior completo procuraram o serviço de roteiro de vagas. Os candidatos com até o superior incompleto somaram 10.031.
Embora haja colocações para quem tem diploma universitário, a maioria das vagas disponíveis é para níveis mais baixos de escolaridade. É comum que os graduados se candidatem para ambas.
Segundo o coordenador-geral do centro, Tadeu Morais de Sousa, quem já tem experiência na função e já ganhou bons salários sofre mais do que o recém-formado. "As empresas não querem alguém que não vai se adaptar ou que logo largará o emprego."

Desespero
Candidatos como Daniela da Silveira planejam economizar para fazer cursos de atualização. "O negócio é entrar numa área mais "baixa" e tentar subir depois, juntar dinheiro para fazer uma pós."
Os consultores, no entanto, são céticos. "Além de ser difícil para quem está disponível tirar recursos para se atualizar, costuma faltar motivação", afirma Barboza.
Silvana Case, vice-presidente executiva do Grupo Catho, é taxativa. "Se o seu ex-empregador, para quem você se dedicou tanto, não quer mais você, provavelmente outro empregador não vai querer." O melhor seria o profissional fazer cursos enquanto está empregado em sua área. "A idéia é não chegar ao desespero."
Para quem já está vivendo o problema, a dica é buscar, na sua área, companhias que valorizam mais a experiência profissional. Especialistas dizem que essas empresas ainda existem (sobretudo entre as pequenas), embora a tendência seja a de procurar profissionais com mais qualificação.
(BRUNO LIMA)


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