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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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Repetição invalidou práticas, dizem especialistas

Banalização dos exames gerou "experts" em forjar resultados

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Não saber desenhar bem era a grande dúvida da administradora Simone dos Santos Roberto, 28, diante de um dos testes que foi reprovado pelo Conselho Federal de Psicologia, o Wartegg (nele, o candidato deve criar figuras).
Como não sabia dos reais interesses dos psicólogos que avaliariam suas "obras de arte", ela conta que recorreu a um colega formado na área. "Sentia-me insegura, precisava saber dos objetivos, já que o teste aparecia em quase todas as seleções", justifica.
"Ele me explicou que cada quadro equivaleria a um campo, como relacionamento interpessoal, e os desenhos seriam avaliados olhando o teste como um todo."
Conhecendo o segredo dos profissionais da seleção, ela começou a treinar os desenhos em casa. "Entendi a lógica e passei a fazer sempre os mesmos desenhos. Psicólogos dizem que a tendência é fazer figuras diferentes, mas eu estava condicionada", diz.
Esse tipo de interferência, claro, compromete os testes. Pensando nisso, Silvana Taconelli, gerente de recursos humanos da Sondaimarés (consultoria especializada em terceirização em tecnologia da informação), deixou de aplicar esse exame. "Pela sua praticidade, muitos departamentos de RH aplicavam com frequência esse e outros testes suspensos. São ferramentas que deixaram as pessoas "viciadas", pois houve uma banalização, um mau uso ", observa.
Mas, segundo um dos membros da comissão consultiva em avaliação psicológica do CFP, José Carlos Tourinho e Silva, as distorções nem sempre são possíveis.
"O que acontece é que circulam entre os candidatos informações infundadas a respeito da interpretação que teriam algumas respostas. Essas interpretações não são realizadas com base em apenas uma resposta, mas no conjunto."

Critérios
O procedimento utilizado pelo conselho para dar ou não a chancela de válido aos testes começava pela apresentação: exames não encaminhados para avaliação estão, assim, suspensos, caso dos que utilizam a análise grafológica.
Os que foram encaminhados ao CFP foram avaliados por uma comissão de 35 especialistas na área, que utilizaram três critérios: validade, precisão e padronização. "Evidentemente que a qualificação do psicólogo será um fator importante a ser considerado para a qualidade do processo."
"Por essa razão, todo cidadão tem direito de ser informado a respeito dos critérios, das provas, dos resultados que foram obtidos no processo seletivo e também de recorrer da decisão. Esses direitos estão regulamentados na Resolução CFP nš 001/02", emenda Silva.
Dentre os profissionais ouvidos pela Folha, a iniciativa da avaliação foi aprovada, mas psicólogos, empresas e consultorias de RH estão em processo de adaptação.
"Usávamos alguns dos testes proibidos, o impacto foi grande, mas não fomos pegos de surpresa. Estamos pesquisando exames similares e soluções alternativas, como dar mais ênfase à entrevista", diz Sumiko Oki Shimono, psicóloga da Gelre (empresa de RH).
"Essa decisão obriga a uma postura crítica, somos estimulados a pesquisar ferramentas. Isso leva ao aprimoramento", completa.



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