São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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Relacão ruim exige busca sigilosa

DA REPORTAGEM LOCAL

Tomada a decisão de que "partir para outra" é o melhor a fazer, resta a pergunta: contar ou não à chefia? Segundo dizem os consultores, não há uma resposta absoluta. Tudo depende do tipo de relacionamento que existe entre subordinado e superior.
"Acompanho candidatos que receberam carta-branca da chefia para tentarem se recolocar no mercado, enquanto outros exigem sigilo absoluto", ilustra a diretora de recursos humanos do Grupo Foco, Luciana Martino, 43.
"Muitas vezes, o chefe é o motivo da insatisfação, então é impossível contar para ele", observa a consultora Denise Kamel, da Selectus. "Se o superior não é aberto e não se comporta como parceiro do funcionário, o melhor é seguir "por debaixo dos panos'", afirma Vânia Della Negra, da KPMG.
O publicitário Rogério Gomes passou duas vezes pelo processo de buscar um emprego enquanto trabalhava. Em nenhuma das duas dividiu sua escolha com a chefia. "Eu era funcionário público e achava que ninguém entenderia o meu desejo de trocar um emprego "estável" por uma oportunidade no mercado", explica.
Se não chegava a verbalizar as intenções de "abandonar o barco", ele tampouco se esforçava para esconder o descontentamento. "A cultura do funcionalismo público me incomodava de modo gritante, sentia-me tolhido."
Na hora das entrevistas, ela acabava tendo de inventar desculpas para sair. "Não abria o jogo porque iam implicar", comenta.
O assistente de marketing G.F., 26, também tem usado a imaginação na hora de sair para encontros com selecionadores. "Nessas horas, não há muito o que falar."

Sem máscaras
Já a psicóloga Lenice Modesto, 28, não conseguiu levar adiante a tensão de "disfarçar", durante o expediente, a procura pelo emprego novo. "Sentia-me péssima de mentir para ir às entrevistas e já estava começando a passar por situações inusitadas", conta ela.
"Uma vez um selecionador me ligou no celular. Eu não sabia o que fazer. Deixei meu chefe falando sozinho e me tranquei numa sala escura para poder falar. Foi muito estranho."
Por situações como essa, ela decidiu entrar na sala do chefe e contar tudo. "Ele pediu para eu esperar um pouco, e eu disse que não dava. Tinha medo de perder a coragem [de contar]. Disse que estava insatisfeita e que procurava emprego. Ele prometeu tentar outra posição para mim dentro da empresa." Na semana passada, a profissional estreou num novo posto na mesma firma, conseguido com o apoio do antigo chefe.
"Quando você revela suas intenções à empresa, há a chance de surgir uma contraproposta ou um "empurrão" do atual empregador", diz Vânia Della Negra.
Mesmo quem guarda o segredo corre o risco de a informação "vazar" ou de ser "delatado" por um colega. Foi uma apostila preparatória que denunciou a intenção da auxiliar de enfermagem A.O., 26, de prestar um concurso público.
Segundo ela conta, outra funcionária viu o material em sua bolsa e perguntou se ela estava estudando para a prova. "Mesmo com medo de que ela revelasse à chefia, não neguei. Afinal, ela já tinha visto. Nunca soube se ela contou mesmo, mas fui mandada embora um mês depois disso."


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