Índice geral Equilibrio
Equilibrio
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Corrida

RODOLFO LUCENA rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

A resolução de começar a treinar

O corpo aprende aos poucos; para treinar, o que vale é dar o primeiro passo, começar a descoberta

"Ano-novo, vida nova", promete o refrão popular, e a gente finge que acredita que o tempo pode ser cortado e ensacado em pedacinhos de calendário e que, de repente, basta dizer "o que passou passou" para iniciar uma nova vida.

Não é assim, mas a gente tenta, promete que tudo vai ser diferente, que vai largar o cigarro, emagrecer, achar mais tempo para si mesmo, quem sabe começar a correr.

Em boa parte dos casos, as resoluções de Ano-Novo acabam esquecidas, abandonadas assim que a gente se vê de novo enrolado no torvelinho da vida. Mas há quem resolva se colocar à prova.

Habituês de parques e avenidas de repente veem figuras novas, diferentes das conhecidas caras que rodam no asfalto nosso de cada dia.

Às vezes, chegam em roupas coloridérrimas, cortadas em tecidos tecnológicos que só faltam fazer o vivente voar; outros aparecem tímidos, ainda de calças jeans. Todos querem experimentar, descobrir o que afinal é praticar esportes, o que é treinar.

São detetives que investigam a si mesmos, pesquisadores do corpo e do asfalto. Esse vai desistir, aquele, se apaixonar, sicrano continuará porque decidiu emagrecer, beltrana fica porque descobriu como é bom o vento nos cabelos numa manhã de sol. Em breve, todos vão querer saber como melhorar.

O corpo aprende aos poucos, ensina-me um especialista em medicina esportiva. É preciso estimulá-lo para que ele aprenda que resposta dar; é preciso lhe dar descanso e, depois, um estímulo maior. Mas devagar com o andar: se a exigência for demasiada, algo vai dar errado.

É como desbravar uma floresta, exemplifica o médico. No início, o caminhante vai até o ponto que conhece e, dali por diante, aos poucos abre uma clareira, cria uma trilha. No dia seguinte, segue mais rápido, o caminho é conhecido, talvez possa até avançar na trilha que constrói.

Se lhe pedirmos, porém, que siga em frente aos trambolhões, de qualquer jeito, sem lanterna nem facão, nosso aventureiro entra em situação de alto risco. Pode cair num rio, ser engolido por um buraco na mata.

Assim é o processo de treinamento: enfrentar desafios um pouco maiores do que aqueles que já somos capazes de fazer. Que seja uma caminhada de dez minutos (a maioria de nós está mais preparada para ver TV e batucar no computador) ou um trotezinho mais suarento, não importa.

O que vale é dar o primeiro passo, começar a descoberta, desbravar a floresta de nós mesmos.

RODOLFO LUCENA, 54, é editor do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)

NA PRÓXIMA SEMANA
Michael Kepp

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.