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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003
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Asma exige tratamento pela vida inteira

GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Tosse, mesmo que não acompanhada de chiado no peito e falta de ar, pode ser sintoma de asma. Adulto portador da doença tem de tomar remédio a vida inteira. Já crianças asmáticas podem se livrar do problema quando adultas. As afirmações são do pneumologista escocês Andrew Greening, 54, professor da Universidade de Edimburgo, que esteve no Brasil no mês passado participando de uma campanha de controle da asma.
Segundo ele, falta informação sobre o assunto entre pacientes e entre médicos. "Isso ocorre principalmente entre os clínicos-gerais, que não têm o conhecimento do especialista", diz o médico.
No Brasil, há cerca de 16 milhões de asmáticos, e o número pode ser bem maior, já que muitos têm a doença e não sabem. Ela não tem cura, mas pode ser controlada. O problema é que muitos abandonam o tratamento, e o resultado é o aumento de internações. Calculam-se 400 mil hospitalizações de asmáticos por ano no Brasil e cerca de 2.000 mortes.


"Em crianças, há vários estudos que apontam que, com o passar dos anos, a asma desaparece. Mas isso só ocorre na infância. Nos adultos, após controlar a doença, é possível reduzir a medicação, mas o paciente terá de tomar o medicamento para sempre"

Folha - A asma está sendo diagnosticada corretamente?
Andrew Greening -
Acho que muitas pessoas não sabem que têm asma. O mais preocupante é que há muitos médicos que não reconhecem que seus pacientes têm asma. Isso ocorre principalmente em casos em que a principal queixa é a tosse que não é acompanhada por outros sintomas mais conhecidos, como chiado no peito e falta de ar. Isso ocorre muito em crianças. Elas começam a tossir à noite, e os pais não sabem que isso pode ser um sinal de asma. Se os pais levam a criança ao médico, ele receita um xarope em vez de fazer uma avaliação mais completa.

Folha - Como se reconhece a asma?
Greening -
Prestando atenção aos sintomas: chiado, falta de ar e sensação de aperto no peito. Pacientes mais velhos, entre 50 anos e 60 anos, acham que esses sintomas fazem parte do processo de envelhecimento e não dão importância.

Folha - O número de asmáticos está crescendo?
Greening -
Definitivamente, há mais pessoas com asma hoje do que há 20 anos. Estudos têm mostrado que há regiões, como o Reino Unido e partes do Brasil e da América do Sul, em que a prevalência dos sintomas da asma em adolescentes com 14 anos supera os 20%.

Folha - Quais são os fatores que contribuem para esse aumento?
Greening -
Há vários fatores. O tabagismo na gestação é um deles. As mudanças na moradia -mais carpetes dentro de casa, por exemplo- é outro. Acredito que houve também um aumento da sensibilidade das pessoas aos animais. Principalmente os gatos podem estimular a alergia e desencadear a asma. Houve também mudanças na alimentação, que contém mais preservativos e corantes, substâncias que podem provocar alergia em asmáticos. Há ainda a poluição, que não causa asma, mas agrava os sintomas.

Folha - Por que é difícil para um paciente aderir ao tratamento?
Greening -
É da natureza humana querer se curar. Infelizmente, as drogas atuais não curam o asmático, mas já controlam a doença. Enquanto os pacientes estão usando os medicamentos, eles se sentem muito bem, pensam que estão curados e param de tomar os remédios. Isso é um erro. É preciso informá-los de que a doença é controlada, não curada.

Folha - Muitas pessoas temem usar "bombinhas". Há razão para esse temor?
Greening -
Não. As "bombinhas" administram doses baixas de drogas diretamente nos pulmões. Drogas orais precisam ter uma dose maior do produto, pois são metabolizadas pelo fígado antes de chegar ao local de ação. Não consigo entender por que as pessoas têm medo, acho que há diferenças culturais. No Reino Unido e no norte da Europa, as pessoas acham que as "bombinhas" são ótimas. Já em países orientais e nos Estados Unidos, as pessoas preferem usar remédios por via oral. Acredito que os pacientes não estão recebendo a informação adequada sobre a "bombinha" e acabam tendo medo do produto. A educação é primordial para acabar com esse medo.

Folha - É necessário tomar ou inalar a medicação todos os dias?
Greening -
Os remédios não funcionam muito bem se não forem usados diariamente. Isso não quer dizer que, se o paciente parar de tomar o medicamento, ele se sentirá mal no dia seguinte. Pode levar dias ou até semanas para a asma voltar a piorar. Para os medicamentos funcionarem adequadamente e para o paciente ter a asma controlada, porém, é preciso tomá-los todos os dias.

Folha - Por quanto tempo?
Greening -
Em crianças, há estudos que apontam que, com o passar dos anos, a asma desaparece. Se estiver controlada completamente, a medicação deve ser reduzida. Se a doença permanecer controlada, é possível continuar a reduzir a dose até não precisar mais do remédio. Mas isso só ocorre na infância. Nos adultos, após controlar a doença, é possível reduzir a medicação, mas o paciente terá de tomar o medicamento para sempre.

Folha - É possível viver bem tendo asma?
Greening -
Os tratamentos atuais melhoraram muito a qualidade de vida do asmático. Muitas pessoas que têm asma e que não são tratadas adequadamente não percebem o quanto a qualidade de vida delas é afetada. Elas mudam seu cotidiano para não desencadear uma crise. Há crianças que não brincam por causa da asma. Se a doença for tratada corretamente, elas poderão correr e brincar normalmente. Isso é qualidade de vida.


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