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alecrim
Avestruz é carne vermelha com pouca gordura
Jorge Araújo/Folha Imagem
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Avestruzes da Aravestruz, uma das pioneiras no Brasil |
GUSTAVO PRUDENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O tamanho impressiona: cada ave mede de 2 m a 2,7 m e pesa
de 100 kg a 160 kg -e grande parte desse peso é constituída
por uma carne vermelha, macia, saborosa e saudável. Presente
em pratos sofisticados, criados por alguns dos mais badalados
chefs do país, e em prosaicos pastéis, a carne de avestruz está ganhando espaço nas mesas brasileiras.
Muito comparada ao filé mignon por causa da textura, a carne
de avestruz contém menos colesterol e gordura que as carnes bovina, suína e até de aves como o
peru. Por isso ela pode ser consumida por pessoas que precisam
controlar a ingestão de colesterol
e gordura, explica Myoko Nakasoto, nutricionista do Incor (Instituto do Coração), do Hospital
das Clínicas de São Paulo. Rica
em ferro, responsável por seu vermelho intenso, a carne de avestruz é indicada também em casos
de anemia e ainda possui ômega
3, substância considerada benéfica ao coração.
O avestruz faz sucesso há alguns
anos em países como Alemanha,
França e Estados Unidos. Aqui, a
carne, ainda importada, chegou
por volta de 1995, quando alguns
restaurantes introduziram-na em
seus cardápios. Mas o câmbio
desfavorável fez o preço subir
muito, e a novidade não vingou.
Na mesma época, os primeiros
criadores nacionais trouxeram algumas aves da África e da Ásia. A
criação cresceu rapidamente. Em
2000, havia aproximadamente 37
mil avestruzes em todo o país. No
ano passado, o número de aves
no Brasil pulou para 80 mil.
"Carne nobre"
Liberados das
flutuações do dólar, vários restaurantes passaram a usar a ave. "É
uma carne nobre. Seu sabor lembra o das carnes de caça, como as
de ganso e pato, mas não é muito
forte. Vai muito bem com molhos
cítricos", afirma o chef Bira de
Oliveira, do restaurante Peternelli. "Ao ponto, a carne fica bem
suculenta. Acho mais saborosa
que o filé mignon."
José Oliveira, proprietário do La
Cocagne, acaba de incluir o avestruz no menu de seu restaurante,
após sete meses de sucesso no Le
Bistrô Cocagne. "É uma carne
gostosa, adocicada sem ser enjoativa. Usamos molhos fortes para
realçar seu sabor", afirma.
A ave também está presente em
dois pratos muito associados aos
paulistas: a pizza e o pastel. O primeiro pode ser degustada na Casa
Pizza, batizada como "struzzo"
(avestruz em italiano). "Nós a lançamos há cerca de cinco meses, e
a procura tem sido satisfatória. As
pessoas estão interessadas em novas carnes, mais saudáveis", afirma o proprietário Paulo Zegaib.
Para experimentar o pastel, os
moradores da capital precisam
enfrentar 530 km de estrada até
Araçatuba, onde a Ki-Pastel oferece uma opção recheada com picadinho de avestruz.
Em casa
O avestruz frequenta
também os balcões frigoríficos de
supermercados e empórios. Disponível geralmente em três cortes -filé, picadinho e carne moída-, ele pode
substituir a carne bovina em quase todas as receitas.
Quem entende do assunto dá
algumas dicas. "Acho que vai
muito bem com pimenta-verde e
arroz de açafrão", diz Geraldo Rodrigues, chef do Freddy. O avestruz é magro, por isso enrijece
quando está bem passado. "O
melhor é servi-lo malpassado ou ao ponto", afirma Roberto Filho,
da churrascaria Rodeio. Evelise
Siqueira, nutricionista do Empório Silvestre, recomenda não exagerar nos acompanhamentos
"para sentir o paladar característico da carne".
O preparo não assusta, mas não
se pode dizer o mesmo do preço,
que varia de R$ 20 (o quilo da carne moída) a R$ 99 (o quilo do filé).
Segundo os criadores, a tendência
é que os valores diminuam. "Dentro de três ou quatro anos, quando aumentar a oferta, o preço do
quilo do filé deve cair para R$ 15
ou R$ 25", diz Celso Carrer, presidente da Associação Brasileira
dos Criadores de Avestruz.
Ainda há poucos fornecedores
no Brasil. A Aravestruz, primeiro
criador a fazer abate no país, produz três toneladas de carne por
mês e abastece 11 Estados. A Avestro está lançando novos produtos,
como hambúrguer, carpaccio e
"goulash" (carne cortada em cubinhos).
Para popularizar a carne, os
criadores incentivam a realização
de festivais nos restaurantes. Para
eles, o avestruz é um ótimo negócio. Praticamente toda a carne é
nobre, e o couro é bastante valorizado em todo o mundo. Além disso, o Brasil é o maior consumidor
mundial de plumas, que essa ave
engraçada possui em abundância.
Há quem aposte, porém, que a
moda não veio para ficar. "Achei
sem graça", afirma Istvan Wéssel,
colunista de gastronomia e proprietário do frigorífico que leva
seu sobrenome. "Não adianta argumentar que é saudável. Aprendi que o consumidor só se pauta por uma coisa: sabor", diz.
"É um prato para pessoas que querem inovar ou que optam por
algo mais saudável", afirma Belarmino Iglesias, proprietário do restaurante A Figueira. Mas mesmo com a pequena aceitação da carne no ano passado, Belarmino diz que voltará a incluí-la no menu de inverno deste ano.
Avestruz marinado com polenta e ervas
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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Calorias (por porção): 750; carboidratos: 34,30 g; proteínas: 47,22 g; lipídeos: 48,95 g
Ingredientes (para seis porções)
Para o avestruz: 1,2 kg de leque de avestruz (peça inteira, parecida com filé mignon), 250 ml de azeite de oliva, um punhado de pimenta-do-reino em grãos, 2 ramos de alecrim, 1 ramo de tomilho e 1 cabeça de alho esmagado. Para a polenta:
100 g de fubá, 300 ml caldo de frango, 1 colher (sobremesa) de cebolinha francesa, 1 colher de tomilho e sal e pimenta a gosto. Para o "chutney" de maçã: 2 maçãs,
30 g de açúcar, 30 g de cebola picadas, 30 g de uvas passas, 5 g de sal, 30 ml de vinagre e 2 g de canela em pau. Para o molho balsâmico: 150 ml de vinagre balsâmico e 60 ml de creme de leite.
Como fazer
O avestruz: misture o azeite com os temperos, espalhe na carne e deixe marinar
por 36 horas. A polenta: ferva o caldo de frango com sal e pimenta. Acrescente o
fubá aos poucos e cozinhe por 40 minutos, mexendo sem parar. Adicione as ervas
e reserve. O "chutney": descasque as maçãs e corte em cubos. Em uma panela,
doure a cebola e, em seguida, acrescente a maçã. Cozinhe por 30 minutos. Acrescente o vinagre, o açúcar, o sal, a canela e as uvas passas. Reserve. A finalização:
corte o avestruz em medalhões. Tempere com sal a gosto e, em uma frigideira,
doure os dois lados dos medalhões. Acrescente o vinagre e espere até reduzir à
metade. Junte o creme de leite, deixe aquecer e, antes de ferver, retire do fogo.
Sirva com a polenta e o "chutney", ambos quentes. Receita do chef Luciano
Nardelli, do restaurante A Figueira.
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