São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2000
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outras idéias
Tenho 42 anos e fumava cerca de dois maços por dia. Fazendo as contas, já inalei a fumaça de 321.200 cigarros. Está de bom tamanho, não está?
As voltas que a vida dá!

BARBARA GANCIA

Quando o leitor poderia imaginar que iria ver justo esta colunista falando sobre vida saudável em um caderno chamado Equlíbrio?
Existe uma explicação para esse milagre. Depois de ler os resultados da última pesquisa do Instituto Nacional do Câncer, que concluiu que, em razão do hábito de fumar, o índice de mulheres mortas por câncer no pulmão subiu 84,43% de 1980 a 1997, movida por medo e culpa, eu parei de fumar.
Diante de uma notícia devastadora como essa, quem consegue dar mais uma tragada sequer sem sentir-se um completo batráquio?
Você é fumante? Pois então eu sugiro que você faça uma visita ao Hospital do Câncer para ver de perto o que pode acontecer com você. Está mais do que na hora de parar de fumar, e você sabe disso.
Era o que faltava, dirá o leitor esclarecido. Essa termocéfala dessa amiga da Bucicleide deixou de fumar há menos de 200 horas e já se acha no direito de sair pontificando.
Pois saiba que comigo é assim, mesmo, pá-pum e ziriguidum!
Comecei a fumar aos 20 anos porque sou uma besta quadrada, e, de lá para cá, creio que só deixei de dar minhas pitadas por um ou dois dias seguidos, nas vezes em que estava gripada. Tenho 42 anos e fumava cerca de dois maços por dia. Fazendo as contas, já inalei a fumaça de 321.200 cigarros. Está de bom tamanho, não está?
O leitor sensato dirá também que é muita audácia uma pessoa que não fuma há apenas uma semana, depois de 22 anos pitando todo santo dia, sair por aí se vangloriando de ter parado.
Pois deixe-me explicar por que tenho plena convicção de que parei e parei mesmo. Como não sou boba nem nada, não dei um basta no cigarro de um dia para o outro. Me preparei para deixar de fumar. Primeiro, passei a tomar um remédio vendido em qualquer farmácia, indicado para quem quer parar de fumar. Não dou o nome porque não quero ser acusada de prática ilegal da medicina.
Em seguida, comecei a fazer meditação, um bálsamo para gente ansiosa como eu -aliás, um santo exercício para qualquer um com mais de sete anos, a idade indicada para começar a meditar.
E, para completar, mandei vir dos Estados Unidos uma goma de mascar à base de nicotina, que uso quando a vontade aumenta. Custa uma fortuna? Custa. Mas qualquer coisa é melhor do que encarar um enfisema pulmonar ou um câncer -ou não é?
Uma vez que você coloca isso na cabeça, nem mesmo os três ou quatro primeiros dias de abstinência, a meu ver os piores, são lá tão terríveis.
Passada a fissura dos primeiros dias, você começa a perceber as vantagens de ter parado. Como, por exemplo, verificar que seu carro não está mal cheiroso ou não ter de ficar limpando cinzeiro a cada dez minutos. Ou, ainda, curtir uma sessão de cinema sem aquela vontade louca de que o filme termine logo.
Mas, bom mesmo, é sentir que quem manda no seu corpo e na sua vontade é você. E só você.


BARBARA GANCIA é colunista da Folha




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