São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2005
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Entrevista

Um dos fundadores da microfisioterapia, o francês Patrice Bénini fala sobre a técnica

Fisioterapia homeopática

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desenvolvida na década de 1980 pelos fisioterapeutas franceses Patrice Bénini e Daniel Grosjean, a microfisioterapia é uma técnica manual que propõe, a partir de apalpações mínimas e suaves na pele, desencadear um processo de autocura das lesões. Segundo os fundadores da técnica, todo ser vivo é concebido para reagir às agressões sofridas, mas, quando essas ultrapassam o limiar de defesa do organismo, a vitalidade dos tecidos é alterada e surgem as várias doenças. Os microfisioterapeutas acreditam que é possível restabelecer o equilíbrio do organismo oferecendo-lhe doses infinitamente pequenas daquilo que gerou a lesão no tecido -exatamente como fazem os remédios homeopáticos.
Bénini veio ao Brasil neste mês para concluir a formação da primeira turma de microfisioterapeutas brasileiros, no Paraná, e dar uma palestra para apresentar a técnica ao público leigo, em São Paulo. Na ocasião, deu a seguinte entrevista à Folha.

 

Folha - O que é a microfisioterapia?
Patrice Bénini -
O objetivo da microfisioterapia é restaurar a vitalidade dos tecidos do corpo que foram afetados por algum trauma -seja uma torção, uma infecção por vírus ou um choque emocional. A terapia se baseia na descoberta de que todos os tecidos do corpo, do epitelial ao nervoso, guardam a memória dos traumas físicos e psíquicos que sofreram em qualquer fase da vida. A partir dessas inscrições no corpo, podemos reencontrar e datar os acontecimentos que iniciaram o processo de desorganizar um tecido ou um órgão, provocando o desenvolvimento de doenças.


"O objetivo da microfisioterapia é restaurar a vitalidade dos tecidos do corpo que foram afetados por algum trauma -seja uma torção, uma infecção por vírus ou um choque emocional"


Esse diagnóstico é feito por meio de microapalpações na derme e na epiderme. A ação do terapeuta é realizar no tecido apalpado atos que simulem, em microescala, a origem do trauma e despertem os mecanismos de autocorreção. É como uma vacina, que inocula o vírus em pequena quantidade, que não causa a doença, mas faz o organismo produzir anticorpos. Ou como a diluição de um remédio homeopático.

Folha - Qual a relação da microfisioterapia com a homeopatia?
Bénini -
São a irmã e o irmão. Costumo dizer que a microfisioterapia é a homeopatia manual, e a homeopatia é a microfisioterapia medicamentosa, porque ambas seguem duas leis: a da cura pelo infinitesimal (o medicamento diluído, a apalpação mínima) e pela similitude (o semelhante cura o semelhante).

Folha - Como a comunidade científica encara a microfisioterapia?
Bénini -
A medicina convencional européia é cartesiana, recusa os aspectos psicossomáticos das doenças e não aceita uma concepção de memória que não se inscreve na cabeça e sim no corpo. Mas a microfisioterapia já foi testada com parâmetros aceitos pela medicina "oficial". Nossa primeira experiência foi feita em 1982, no departamento de gastroenterologia do Hospital Universitário de Bensançon (França). Foi uma experiência considerada do tipo A, que utilizou o chamado duplo-cego: 30 pacientes foram tratados com placebo e 30 com microfisioterapia. Todos sofriam de colopatias [doenças no cólon]. Dos que foram submetidos à microfisioterapia, 76% tiveram as atividades do intestino reabilitadas. Isso só aconteceu com 34% do grupo que recebeu placebo. Mas a comunidade médica se calou. Nesses anos todos, já fizemos 42 experimentações validadas e ainda há silêncio. A medicina oficial não nega, mas também não ajuda.

Folha - Como é feita a formação de um microfisioterapeuta?
Bénini -
É um curso de extensão para médicos e profissionais de saúde, feito em módulos, com duração aproximada de dois anos. O terapeuta aprende, além dos princípios teóricos, as diferentes maneiras de apalpar cada tecido estudado e cada tipo de lesão.

Folha - Quantos são os microfisioterapeutas em atuação hoje?
Bénini -
Cerca de 5.000, a maioria na França e na Bélgica, mas há terapeutas também na Suíça, na Rússia, na Itália, na Espanha e em Madagascar. Houve formação na Costa do Marfim e na Algéria, mas, com a guerra civil e os distúrbios ocorridos nesses países, não sei qual é a situação atual. E acabamos de formar a primeira turma no Brasil.

Folha - Como é uma sessão de microfisioterapia?
Bénini -
Após fazer a ficha clínica do paciente, peço para ele se deitar na mesa e começo as microapalpações nas áreas onde estão os sintomas que correspondem às queixas. Cada vez que encontro uma lesão, identifico com que outros tecidos ou órgãos ela está relacionada e então parto para a correção. Ou melhor, não sou eu, o terapeuta, quem corrige, mas desencadeio um processo de autocorreção. O corpo humano, como todo organismo vivo, é concebido para se adaptar, se defender e se autocorrigir no caso de agressões. A função do microfisioterapeuta é ser a faxineira que permite ao organismo limpar as informação negativas que guardou na memória corporal por tantos e tantos anos. A micromassagem desencadeia esse processo. Depois da sessão, é preciso um tempo para o corpo se autocorrigir. É mais ou menos como quando fraturamos um osso: esperamos de um a três meses para a correção do problema depois que engessamos a área fraturada.


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