|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O Equilíbrio montou um dicionário com verbetes que revelam a ação dos raios solares
Não basta passar protetor, é preciso mudar a atitude em relação ao sol
ANTONIO ARRUDA - DA REPORTAGEM LOCAL
Na Austrália, muitas escolas mudaram o horário do intervalo para
antes das 10h e depois das 16h a fim de evitar a exposição dos alunos ao sol no pior horário. Os professores ensinam em sala de aula a
devida aplicação do protetor solar, e o governo subsidia a distribuição
do produto para que a população os receba quase gratuitamente. Na
Europa, o programa de Cooperação em Ciência e Tecnologia da
Comissão Européia realiza, desde
96, o projeto Cost-713, destinado ao
estudo dos índices de incidência dos
raios ultravioleta, ou IUV, e os danos
causados às pessoas. Em 2000, o projeto publicou o livro "Previsão do
UV-B", com informações preciosas
sobre os males causados pela radiação solar e sobre prevenção -pode
ser acessado no site www.meteo.pt/uv/IUVbook.pdf.
No Brasil, médicos e profissionais
ligados às áreas de meteorologia e climatologia brasileiros se dedicam
com mais determinação ao assunto.
Neste ano, o meteorologista Marcelo
de Paula Corrêa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, e o dermatologista Claudio Wulkan lançam um
guia nos moldes do livro do projeto
Cost. E o índice diário de radiação
UV (IUV) em todo o país já está disponível pela internet
(www.master.iag.usp.br e www.sbd.org.br). É
recomendação da OMS divulgar esse
índice. O jornal "USA Today", por
exemplo, traz essa informação todos
os dias, assim como TVs e jornais europeus.
"O problema no Brasil é que as pessoas não sabem que se proteger não
se restringe a passar protetor solar,
mas mudar o comportamento em relação ao sol", diz Corrêa.
Para Rogério Izar Neves, do Departamento de Oncologia Cutânea do
Hospital do Câncer, "nem todos passam protetor solar, o que é gravíssimo; mas os que passam erram ao
pensar que estão com uma armadura, então abusam do sol".
A dermatologista da Unifesp Ediléia Bagatin diz que no Brasil a pessoa
bronzeada é vista como saudável.
"Nós defendemos o conceito de "banho de sol", o que é muito ruim. Tomar sol ao meio-dia, mesmo com
proteção, é descaso consigo próprio.
E as pessoas devem usar protetor todos os dias, com FPS 15 (índice de fator de proteção solar), independentemente do tipo de pele", diz ela.
A mudança de comportamento inclui não só optar por horários seguros, mas utilizar chapéu, óculos que
bloqueiam os raios UVA e UVB e permanecer o máximo possível na sombra, entre outras medidas.
FPS na roupa A coleção de verão
da Track & Field, marca de roupas esportivas, traz peças produzidas com
uma fibra da Rhodia que possui substâncias com FPS injetadas em suas
moléculas. No SP Fashion Week deste ano, duas importantes grifes vão
apresentar modelos feitos com esse
tipo de fibra. Já a Santista Têxtil passou a comercializar no ano passado
tecidos para uniformes banhados em
substâncias com FPS.
"Felizmente, essas atitudes estão
sendo tomadas. Vamos ver se conseguimos reduzir os casos de câncer de
pele pelo menos no Brasil, já que na
maior parte do mundo esse é o tipo
de tumor de maior incidência, tanto
entre homens como entre mulheres",
diz Neves, do Hospital do Câncer.
Aplicação do protetor: as pessoas
costumam passar apenas um
quarto da quantidade recomendada
pelos especialistas. O ideal são 2 g por
cm2. Para saber se a quantidade aplicada foi suficiente, a pessoa deve sentir que há sobre a pele uma película
"pegajosa". O produto começa a agir
cerca de meia hora depois de aplicado. Portanto passar o protetor quando estiver na praia representa ficar
um tempo sob o sol sem proteção. Ele
também tem um prazo de validade.
Age por duas horas, depois deve ser
reaplicado. Há protetores que se
apresentam como sendo à prova d'água. Eles são mais resistentes ao suor
e à água, permanecem na pele por
cerca de cinco horas, mas exigem reaplicação após esse período.
Bronzeado: existem dois tipos,
que atingem só as peles morenas, já que as muito brancas nunca se
bronzeiam. Um deles ocorre nos dois
primeiros dias de exposição. Poderia
levar o nome de "falso bronzeado",
pois deixa a pessoa mais morena, porém o efeito dura pouco tempo. Às
vezes, a cor some um dia depois. O
outro bronzeado, o "verdadeiro",
acontece após, no mínimo, três dias
de exposição e tende a se completar
em uma semana, tempo necessário
para a pele "fixar" o bronzeado.
Bronzeador: abominado por dermatologistas. Passar bronzeador é ir exatamente na contramão da
proteção, já que o produto leva para a
pele substâncias que vão aumentar a
penetração dos raios ultravioleta.
Cabelos: o mercado dispõe de
xampus e condicionadores com
FPS. Mas o que a pessoa faz depois de
passar um produto desses no cabelo?
Enxágua a cabeça, ou seja, elimina a
proteção que obteve. Por isso o ideal é
optar por produtos para cabelo com
FPS para uso pós-banho.
Carotenóides: pigmentos encontrados em boa parte das frutas e
dos legumes de cor vermelha ou alaranjada. Eles se depositam nas células
da pele e retêm as radiações UV. Resumindo: cenoura, abóbora, mamão,
maçã e beterraba são alguns dos alimentos cujo consumo é recomendado como forma de ajudar na prevenção contra a ação nociva do sol.
Carro: a aplicação de filmes com
fator de proteção contra UVA e
UVB nas janelas do carro protege.
Eritema: é o primeiro sinal de que
a pele sem proteção está sendo
agredida. Também conhecido popularmente por "vermelhão" ou queimadura, acomete pessoas de pele clara. Os raios UVB, que atuam na parte
mais superficial da pele, são os principais responsáveis por esse fenômeno.
Durante a exposição ao sol, a pessoa
pode nem notar o "vermelhão", mas,
com certeza, ele vai se manifestar
-no mínimo, de três a cinco horas
após a exposição e, no máximo, de oito a 24 horas depois, desaparecendo
em cerca de três dias se a pessoa não
voltar para o sol sem proteção. Quanto mais episódios de "vermelhão" durante a vida, maior a probabilidade
de desenvolver certos câncer de pele.
Filtro físico: também conhecido
como bloqueador solar, é composto por partículas que refletem os
raios UVA e UVB, não deixando que
eles incidam na pele. É o mais recomendado para crianças de seis meses
a dois anos de idade. Adultos costumam evitar o produto, que, muito espesso, deixa a pele visivelmente coberta por uma película branca.
Filtro misto: nem o filtro químico
nem o físico têm 100% de eficácia, por isso há protetores que mesclam os dois, propiciando mais proteção. Eles costumam ter na embalagem as inscrições bloqueador e FPS.
Filtro químico: protetor com
substâncias químicas que absorvem os raios UVA e UVB, evitando que cheguem às células da pele.
Não é recomendado para crianças de
até dois anos de idade, pois há risco
de irritação e alergia. Especialistas recomendam evitar protetores que
contenham paba (paraminobenzóico), substância com alto teor de álcool, pouco resistente à água, de difícil aplicação e que causa irritação e
alergia na maioria dos usuários.
Fototipo: classificação dos tipos
de pele. Vai do nível um (pele
branca, olhos claros e cabelos loiros
ou ruivos) ao nível quatro (pele negra
e olhos e cabelos escuros). Pessoas
muito claras são mais propensas a
queimaduras e câncer de pele, pois
têm pouca melanina. Negros não se
queimam, bronzeiam-se com facilidade, mas podem ter câncer de pele,
pois cerca de 20% dos raios UV atingem a pele profundamente.
FPS: sigla para fator de proteção
solar, vem na embalagem do
produto acompanhada de um número. O índice mostra ao consumidor
quanto tempo ele dispõe de proteção
para não chegar à cor de pele que chegaria sem tal proteção. Exemplo: uma
pessoa que levaria cinco minutos para ficar vermelha como um pimentão, com um produto com FPS 30 vai
levar 30 vezes mais tempo, 150 minutos, para ficar nesse estado. Isso levando em conta a regra geral de repassar o protetor a cada duas horas.
Há uma minoria de fabricantes que
ainda lançam protetores com FPS somente contra UVB, mas os dermatologistas aconselham evitar esse tipo
de produto. E mais: qualquer pessoa
-mesmo as morenas e negras- deve usar como índice mínimo de FPS o
número 15, menos para evitar o risco
da queimadura e mais para proteger-se contra câncer de pele. É importante ressaltar que um protetor com FPS
20 não tem o dobro de eficácia de um
com FPS 10, por exemplo. Este último
reduz cerca de 90% da radiação UVB
que chega à pele, um FPS 20, cerca de
95%, e um FPS 30 reduzirá apenas
um pouco mais.
Horário: os raios UVA e UVB
emitidos entre 10h e 16h desgastam muito as estruturas celulares da
pele de quem está exposto sem proteção -o risco existe até para quem está protegido. A recomendação número um é: evite o sol nesse horário.
IUV: sigla para índice de ultravioleta, medida dos níveis da radiação
UV que efetivamente contribuem para a formação de uma queimadura na
pele humana (eritema). Principalmente na Europa e nos EUA, o IUV é
divulgado diariamente em jornais,
TVs e rádios. No Brasil, pode ser obtido no site www.sbd.org.br.
Lábio: é uma mucosa que requer
proteção especial, já que é uma
superfície que fica úmida facilmente,
dificultando a adesão do protetor.
Mancha: o corpo responde como
um todo às agressões que recebe
dos raios solares. O surgimento de
manchas é um aviso do corpo de que
a resposta ao estímulo não está sendo
uniforme e que há regiões sendo mais
afetadas do que outras.
Melanina: pigmento marrom escuro ou preto produzido por células chamadas melanócitos. A liberação de melanina é uma proteção do
corpo à agressão dos raios solares. Ela
é responsável pelo bronzeado, por
pintas, sardas e manchas.
Óculos escuros: marcas conceituadas têm modelos que protegem contra os raios UVA e UVB. Utilizar óculos sem proteção pode ser
pior do que não os utilizar. Isso porque as pupilas se dilatam para compensar a diminuição da luz do ambiente, o que facilita a entrada dos
raios UV. A médio e longo prazo, esses raios podem iniciar ou acentuar
um quadro de catarata. Os óculos
também protegem as pálpebras, evitando o envelhecimento precoce das
células da região.
Reflexo nas superfícies: os raios
atingem a pele até sob o guarda-sol. É que a radiação UV reflete quando atinge superfícies diversas, como a
areia da praia. A maioria das superfícies naturais, como relva, terra e água,
refletem menos de 10%. A neve pode
refletir até 80%, e a areia, 25%.
Roupa: "Vá à praia com roupa
por cima do maiô", dizem os
dermatologistas sobre a melhor forma de proteção sob o sol. Com exceção dos tecidos porosos e com trama
muito larga, todos os outros bloqueiam em menor ou maior grau os
raios UV. Quanto mais pesado, grosso, escuro e fechado o tecido, melhor.
Uma camisa de algodão e poliéster,
por exemplo, pode corresponder a
um FPS 10 ou a um FPS 40, dependendo do peso do tecido. Há indústrias têxteis que banham seus tecidos
em substâncias que agem como protetores, com FPS que chega a até 100.
Outras injetam as substâncias diretamente na molécula da fibra, o que garante proteção por mais tempo. O
uso de bonés e chapéus é essencial.
UVA: sigla de raio ultravioleta do
tipo A, um dos tipos de radiação
solar. Representa cerca de 80% dos
raios UV que chegam à atmosfera.
Atinge as camadas mais profundas
da pele, podendo causar mutações
celulares. É responsável, entre outros
danos, pelas rugas.
UVB: sigla de raio ultravioleta do
tipo B, um dos tipos de radiação
emitida pelo sol. Representa cerca de
10% dos raios UV que chegam à atmosfera terrestre. É o causador das
reações de defesa mais agudas da pele, como o "vermelhão" e a irritação.
Veículo: é o termo usado para o
condutor das substâncias químicas que vão absorver os raios UVA
e UVB. O creme é o mais comum deles, mas existe em forma de gel (recomendado para peles oleosas), em forma de spray (de aplicação mais prática), em forma de musse e de loção.
Quanto mais próximo da textura de
uma pomada (caso dos filtros físicos
ou bloqueadores), maior a aderência
das substâncias à pele.
Fontes
Ediléia Bagatin,
Denise Steiner e
Walter Guerra
Peixe, dermatologistas; Marcelo de Paula Corrêa, meteorologista; Mauro
Rabinovich, oftalmologista;
Rogério Izar Neves, oncologista; José Padeiro,
gerente de marketing da Rhodia; e Armando
Stella, gerente
de marketing
da Santista Têxtil
Texto Anterior: Capa 02.01 Próximo Texto: Alguns protetores diferenciados Índice
|