São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003
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O Equilíbrio montou um dicionário com verbetes que revelam a ação dos raios solares

Não basta passar protetor, é preciso mudar a atitude em relação ao sol

ANTONIO ARRUDA - DA REPORTAGEM LOCAL

Na Austrália, muitas escolas mudaram o horário do intervalo para antes das 10h e depois das 16h a fim de evitar a exposição dos alunos ao sol no pior horário. Os professores ensinam em sala de aula a devida aplicação do protetor solar, e o governo subsidia a distribuição do produto para que a população os receba quase gratuitamente. Na Europa, o programa de Cooperação em Ciência e Tecnologia da Comissão Européia realiza, desde 96, o projeto Cost-713, destinado ao estudo dos índices de incidência dos raios ultravioleta, ou IUV, e os danos causados às pessoas. Em 2000, o projeto publicou o livro "Previsão do UV-B", com informações preciosas sobre os males causados pela radiação solar e sobre prevenção -pode ser acessado no site www.meteo.pt/uv/IUVbook.pdf.
No Brasil, médicos e profissionais ligados às áreas de meteorologia e climatologia brasileiros se dedicam com mais determinação ao assunto. Neste ano, o meteorologista Marcelo de Paula Corrêa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, e o dermatologista Claudio Wulkan lançam um guia nos moldes do livro do projeto Cost. E o índice diário de radiação UV (IUV) em todo o país já está disponível pela internet (www.master.iag.usp.br e www.sbd.org.br). É recomendação da OMS divulgar esse índice. O jornal "USA Today", por exemplo, traz essa informação todos os dias, assim como TVs e jornais europeus.
"O problema no Brasil é que as pessoas não sabem que se proteger não se restringe a passar protetor solar, mas mudar o comportamento em relação ao sol", diz Corrêa.
Para Rogério Izar Neves, do Departamento de Oncologia Cutânea do Hospital do Câncer, "nem todos passam protetor solar, o que é gravíssimo; mas os que passam erram ao pensar que estão com uma armadura, então abusam do sol".
A dermatologista da Unifesp Ediléia Bagatin diz que no Brasil a pessoa bronzeada é vista como saudável. "Nós defendemos o conceito de "banho de sol", o que é muito ruim. Tomar sol ao meio-dia, mesmo com proteção, é descaso consigo próprio. E as pessoas devem usar protetor todos os dias, com FPS 15 (índice de fator de proteção solar), independentemente do tipo de pele", diz ela.
A mudança de comportamento inclui não só optar por horários seguros, mas utilizar chapéu, óculos que bloqueiam os raios UVA e UVB e permanecer o máximo possível na sombra, entre outras medidas.

FPS na roupa A coleção de verão da Track & Field, marca de roupas esportivas, traz peças produzidas com uma fibra da Rhodia que possui substâncias com FPS injetadas em suas moléculas. No SP Fashion Week deste ano, duas importantes grifes vão apresentar modelos feitos com esse tipo de fibra. Já a Santista Têxtil passou a comercializar no ano passado tecidos para uniformes banhados em substâncias com FPS.
"Felizmente, essas atitudes estão sendo tomadas. Vamos ver se conseguimos reduzir os casos de câncer de pele pelo menos no Brasil, já que na maior parte do mundo esse é o tipo de tumor de maior incidência, tanto entre homens como entre mulheres", diz Neves, do Hospital do Câncer.

Aplicação do protetor: as pessoas costumam passar apenas um quarto da quantidade recomendada pelos especialistas. O ideal são 2 g por cm2. Para saber se a quantidade aplicada foi suficiente, a pessoa deve sentir que há sobre a pele uma película "pegajosa". O produto começa a agir cerca de meia hora depois de aplicado. Portanto passar o protetor quando estiver na praia representa ficar um tempo sob o sol sem proteção. Ele também tem um prazo de validade. Age por duas horas, depois deve ser reaplicado. Há protetores que se apresentam como sendo à prova d'água. Eles são mais resistentes ao suor e à água, permanecem na pele por cerca de cinco horas, mas exigem reaplicação após esse período.

Bronzeado: existem dois tipos, que atingem só as peles morenas, já que as muito brancas nunca se bronzeiam. Um deles ocorre nos dois primeiros dias de exposição. Poderia levar o nome de "falso bronzeado", pois deixa a pessoa mais morena, porém o efeito dura pouco tempo. Às vezes, a cor some um dia depois. O outro bronzeado, o "verdadeiro", acontece após, no mínimo, três dias de exposição e tende a se completar em uma semana, tempo necessário para a pele "fixar" o bronzeado.

Bronzeador: abominado por dermatologistas. Passar bronzeador é ir exatamente na contramão da proteção, já que o produto leva para a pele substâncias que vão aumentar a penetração dos raios ultravioleta.

Cabelos: o mercado dispõe de xampus e condicionadores com FPS. Mas o que a pessoa faz depois de passar um produto desses no cabelo? Enxágua a cabeça, ou seja, elimina a proteção que obteve. Por isso o ideal é optar por produtos para cabelo com FPS para uso pós-banho.

Carotenóides: pigmentos encontrados em boa parte das frutas e dos legumes de cor vermelha ou alaranjada. Eles se depositam nas células da pele e retêm as radiações UV. Resumindo: cenoura, abóbora, mamão, maçã e beterraba são alguns dos alimentos cujo consumo é recomendado como forma de ajudar na prevenção contra a ação nociva do sol.

Carro: a aplicação de filmes com fator de proteção contra UVA e UVB nas janelas do carro protege.

Eritema: é o primeiro sinal de que a pele sem proteção está sendo agredida. Também conhecido popularmente por "vermelhão" ou queimadura, acomete pessoas de pele clara. Os raios UVB, que atuam na parte mais superficial da pele, são os principais responsáveis por esse fenômeno. Durante a exposição ao sol, a pessoa pode nem notar o "vermelhão", mas, com certeza, ele vai se manifestar -no mínimo, de três a cinco horas após a exposição e, no máximo, de oito a 24 horas depois, desaparecendo em cerca de três dias se a pessoa não voltar para o sol sem proteção. Quanto mais episódios de "vermelhão" durante a vida, maior a probabilidade de desenvolver certos câncer de pele.

Filtro físico: também conhecido como bloqueador solar, é composto por partículas que refletem os raios UVA e UVB, não deixando que eles incidam na pele. É o mais recomendado para crianças de seis meses a dois anos de idade. Adultos costumam evitar o produto, que, muito espesso, deixa a pele visivelmente coberta por uma película branca.

Filtro misto: nem o filtro químico nem o físico têm 100% de eficácia, por isso há protetores que mesclam os dois, propiciando mais proteção. Eles costumam ter na embalagem as inscrições bloqueador e FPS.

Filtro químico: protetor com substâncias químicas que absorvem os raios UVA e UVB, evitando que cheguem às células da pele. Não é recomendado para crianças de até dois anos de idade, pois há risco de irritação e alergia. Especialistas recomendam evitar protetores que contenham paba (paraminobenzóico), substância com alto teor de álcool, pouco resistente à água, de difícil aplicação e que causa irritação e alergia na maioria dos usuários.

Fototipo: classificação dos tipos de pele. Vai do nível um (pele branca, olhos claros e cabelos loiros ou ruivos) ao nível quatro (pele negra e olhos e cabelos escuros). Pessoas muito claras são mais propensas a queimaduras e câncer de pele, pois têm pouca melanina. Negros não se queimam, bronzeiam-se com facilidade, mas podem ter câncer de pele, pois cerca de 20% dos raios UV atingem a pele profundamente.

FPS: sigla para fator de proteção solar, vem na embalagem do produto acompanhada de um número. O índice mostra ao consumidor quanto tempo ele dispõe de proteção para não chegar à cor de pele que chegaria sem tal proteção. Exemplo: uma pessoa que levaria cinco minutos para ficar vermelha como um pimentão, com um produto com FPS 30 vai levar 30 vezes mais tempo, 150 minutos, para ficar nesse estado. Isso levando em conta a regra geral de repassar o protetor a cada duas horas. Há uma minoria de fabricantes que ainda lançam protetores com FPS somente contra UVB, mas os dermatologistas aconselham evitar esse tipo de produto. E mais: qualquer pessoa -mesmo as morenas e negras- deve usar como índice mínimo de FPS o número 15, menos para evitar o risco da queimadura e mais para proteger-se contra câncer de pele. É importante ressaltar que um protetor com FPS 20 não tem o dobro de eficácia de um com FPS 10, por exemplo. Este último reduz cerca de 90% da radiação UVB que chega à pele, um FPS 20, cerca de 95%, e um FPS 30 reduzirá apenas um pouco mais.

Horário: os raios UVA e UVB emitidos entre 10h e 16h desgastam muito as estruturas celulares da pele de quem está exposto sem proteção -o risco existe até para quem está protegido. A recomendação número um é: evite o sol nesse horário.

IUV: sigla para índice de ultravioleta, medida dos níveis da radiação UV que efetivamente contribuem para a formação de uma queimadura na pele humana (eritema). Principalmente na Europa e nos EUA, o IUV é divulgado diariamente em jornais, TVs e rádios. No Brasil, pode ser obtido no site www.sbd.org.br.

Lábio: é uma mucosa que requer proteção especial, já que é uma superfície que fica úmida facilmente, dificultando a adesão do protetor.

Mancha: o corpo responde como um todo às agressões que recebe dos raios solares. O surgimento de manchas é um aviso do corpo de que a resposta ao estímulo não está sendo uniforme e que há regiões sendo mais afetadas do que outras.

Melanina: pigmento marrom escuro ou preto produzido por células chamadas melanócitos. A liberação de melanina é uma proteção do corpo à agressão dos raios solares. Ela é responsável pelo bronzeado, por pintas, sardas e manchas.

Óculos escuros: marcas conceituadas têm modelos que protegem contra os raios UVA e UVB. Utilizar óculos sem proteção pode ser pior do que não os utilizar. Isso porque as pupilas se dilatam para compensar a diminuição da luz do ambiente, o que facilita a entrada dos raios UV. A médio e longo prazo, esses raios podem iniciar ou acentuar um quadro de catarata. Os óculos também protegem as pálpebras, evitando o envelhecimento precoce das células da região.

Reflexo nas superfícies: os raios atingem a pele até sob o guarda-sol. É que a radiação UV reflete quando atinge superfícies diversas, como a areia da praia. A maioria das superfícies naturais, como relva, terra e água, refletem menos de 10%. A neve pode refletir até 80%, e a areia, 25%.

Roupa: "Vá à praia com roupa por cima do maiô", dizem os dermatologistas sobre a melhor forma de proteção sob o sol. Com exceção dos tecidos porosos e com trama muito larga, todos os outros bloqueiam em menor ou maior grau os raios UV. Quanto mais pesado, grosso, escuro e fechado o tecido, melhor. Uma camisa de algodão e poliéster, por exemplo, pode corresponder a um FPS 10 ou a um FPS 40, dependendo do peso do tecido. Há indústrias têxteis que banham seus tecidos em substâncias que agem como protetores, com FPS que chega a até 100. Outras injetam as substâncias diretamente na molécula da fibra, o que garante proteção por mais tempo. O uso de bonés e chapéus é essencial.

UVA: sigla de raio ultravioleta do tipo A, um dos tipos de radiação solar. Representa cerca de 80% dos raios UV que chegam à atmosfera. Atinge as camadas mais profundas da pele, podendo causar mutações celulares. É responsável, entre outros danos, pelas rugas.

UVB: sigla de raio ultravioleta do tipo B, um dos tipos de radiação emitida pelo sol. Representa cerca de 10% dos raios UV que chegam à atmosfera terrestre. É o causador das reações de defesa mais agudas da pele, como o "vermelhão" e a irritação.

Veículo: é o termo usado para o condutor das substâncias químicas que vão absorver os raios UVA e UVB. O creme é o mais comum deles, mas existe em forma de gel (recomendado para peles oleosas), em forma de spray (de aplicação mais prática), em forma de musse e de loção. Quanto mais próximo da textura de uma pomada (caso dos filtros físicos ou bloqueadores), maior a aderência das substâncias à pele.

Fontes

Ediléia Bagatin, Denise Steiner e Walter Guerra Peixe, dermatologistas; Marcelo de Paula Corrêa, meteorologista; Mauro Rabinovich, oftalmologista; Rogério Izar Neves, oncologista; José Padeiro, gerente de marketing da Rhodia; e Armando Stella, gerente de marketing da Santista Têxtil


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