São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007
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INSPIRE, RESPIRE, TRANSPIRE

Vácuo contra dor

Técnica da medicina tradicional chinesa, ventosaterapia é usada principalmente para aliviar dores ou contraturas musculares

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

D a mala da terapeuta, são retirados chumaços de algodão, álcool, bomba de sucção, isqueiro e uma profusão de objetos de vidro e acrílico semelhantes a copos arredondados. O curioso aparato é a matéria-prima para as sessões de ventosaterapia, técnica da medicina tradicional chinesa usada principalmente para aliviar dores ou contraturas musculares.
Os "copos", ou ventosas, são colocados sobre a pele e provocam uma espécie de sucção na região dolorida. O vácuo é criado pela bombinha ou pelo contato das ventosas de vidro com o fogo no algodão. "Costumamos aplicar em pessoas que chegam muito travadas, com muita dor. O alívio é imediato", afirma a terapeuta corporal Alice Keiko Fujiura, fundadora da Keiko's Prevenção e Saúde, em São Paulo.
Muito difundida entre os orientais, a ventosaterapia também era comum entre os europeus até o século passado. Além dos atuais vidro e plástico, bambu e chifre de boi já foram usados como ventosas. No caso de tensões mais localizadas, as ventosas podem ficar fixas nos pontos doloridos. Para dores generalizadas, são passadas de um ponto para o outro rapidamente. Existe ainda a possibilidade de fazer um deslizamento com as ventosas sobre a pele umedecida com óleo ou creme, numa espécie de massagem relaxante. "O deslizamento provoca o descolamento das fáscias, tecidos que ficam entre a pele e os músculos. Isso tende a melhorar a mobilidade e a reduzir dores", diz o fisioterapeuta Caio Imaizumi, professor da Escola de Terapias Orientais de São Paulo.
Muitos acupunturistas colocam as ventosas por cima das agulhas. O médico acupunturista Hong Jin Pai, do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), explica que a ventosaterapia traz alívio porque melhora a circulação do sangue. "A sucção causa a morte de células, e isso estimula a produção de substâncias que provocam vasodilatação." Ele diz que o método ajuda a melhorar a função imunológica. Segundo Pai, o grau de sucção deve variar. "Em crianças e idosos, é melhor fazer mais fraco, para evitar bolhas. Quem não gosta de ficar com hematomas também pode receber uma sucção mais leve", diz. De fato, a técnica pode deixar marcas arroxeadas ou avermelhadas, que somem em alguns dias.
Alguns terapeutas associam as ventosas à sangria -procedimento no qual as ventosas sugam sangue por meio de pequenos furos feitos com agulha na região dolorida. Segundo Keiko, o efeito é mais potente do que o das ventosas sozinhas. "O sangue costuma sair escuro. Para os orientais, significa que está com toxinas." De acordo com Imaizumi, a sangria com ventosas contribui para retirar a energia estagnada e melhorar o fluxo energético no local.
Keiko afirma usar agulhas descartáveis e desinfetar as ventosas. Para Hong Jin Pai, porém, o risco de contaminação não compensa os benefícios. "Não vale a pena. O resultado não é muito melhor e o processo facilita infecções e a transmissão de doenças como hepatite e HIV."


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