São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008
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[+] corrida

Pacas e capivaras

Rodolfo Lucena

Correr traz benefícios e alegrias que surpreendem até quem há tempos vem tentando ser mais rápido ou ficar mais tempo no asfalto.
Numa madrugada dessas, cheguei às alamedas da Cidade Universitária, na zona oeste de São Paulo, com o céu ainda escuro e quase ninguém nas ruas. Fui recepcionado por um bando de pacas e capivaras que se alimentavam no gramado, bem perto da trilha por onde costumo correr.
Elas são de uma bonomia contagiante, com seus olhos de tontas, parecendo ver a vida sempre com cara de "não-tou-entendendo". Cumprimentei os animais, que mal me perceberam, e segui meu caminho mais alegre, já com o dia ganho e com mais entusiasmo para enfrentar as horas de treino e de trabalho que se seguiriam.
O encontro só aconteceu porque resolvi roubar algum tempo do meu descanso e entregá-lo ao treino. É assim que fazemos, os que queremos correr, nadar, pedalar ou realizar qualquer outra coisa que não seja comer, dormir e trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Chega uma hora em que a gente tem de separar do dia um período para dar de presente a nós mesmos, ao corpo, ao espírito.
Não precisa ser muito, ninguém tem de correr uma maratona por dia para melhorar um pouco a saúde ou ficar um pouco menos tenso. Quilos de estudos médicos já demonstraram os benefícios de exercícios moderados por 30 a 40 minutos três a quatro vezes por semana.
A questão é achar esses minutos e essas vezes por semana nas nossas agendas cada vez mais lotadas e comidas por horas de incômodo no trânsito. O tempo está lá, falta a nossa decisão.
Um leitor do meu blog conta que, às segundas e sextas-feiras, corre na hora do almoço, na empresa onde trabalha; terças e quintas, à noite; quarta, no final do expediente; nos fins de semana, logo cedo, para aproveitar mais a folga.
Não se trata de escolher o horário em que seu corpo terá o melhor desempenho -sim, existe isso e está relacionado com o ritmo de seu organismo-, mas de fazer o que dá, quando dá.
Você vai ganhar não só melhores condições físicas, mas principalmente um espaço em que é dono de si mesmo. Mais ainda, talvez, porque teve de cortar de outras atividades, administrar minutos, analisar prioridades e assumir riscos.
Você vai agradecer. E talvez até possa dizer a si mesmo, em um desses encontros consigo, aquele velho trava-língua dos tempos de criança, que desafia nossa habilidade, mas também ensina um pouco de filosofia do aproveitamento do dia: "O Tempo perguntou pro Tempo quanto tempo o Tempo tem. O Tempo respondeu pro Tempo que o Tempo tem tanto tempo quanto tempo tem".


RODOLFO LUCENA, 50, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record)
rodolfolucena.folha@uol.com.br
www.folha.com.br/rodolfolucena


Qual é a sua?
Perguntei aos leitores do meu blog (www.folha.com.br/rodolfolucena) qual a hora em que correm e por que a escolheram. As respostas são estimulantes e inspiradoras, ainda que todas convirjam para a mesma toada: quando é possível. Visite a página e conte também a sua experiência.

A melhor hora
Há na internet textos instrutivos sobre os ciclos do corpo e a melhor hora para correr. Em inglês, sugiro um da revista "Running Times" (runningtimes.com/rt/articles/?id= 7567&page=1&c=2); em português, confira "Respeite o Relógio Biológico", em eptv.globo.com/integracao/dicasmaterias.asp?pg=3.

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