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coluna social
Aluno bota ordem em caos na escola
Corajoso e decidido, Alexandre
Silva resolveu brigar contra o
caos que dominava a escola onde estuda, a E.E. Cohab Brigadeiro
Eduardo Gomes, na Cohab de Taipas,
zona norte de São Paulo. Fez diretor,
professores, moradores do bairro e a turma de alunos da pesada escutarem o seu
alerta. E está conseguindo liderar um
movimento pela valorização da escola,
fazendo a cabeça de mais de mil alunos,
com a participação da comunidade.
Folha - A escola mudou?
Alexandre - Quando eu cheguei, há três
anos, ela estava mais depredada. Os alunos pichavam, destruíam as carteiras,
quebravam os vidros. Eu e os professores
tivemos que trancar os armários porque
os alunos arrombavam e rasgavam os livros. Já estouraram bomba caseira também. O governo mandou arrumar e pintar, e eles destruíram tudo de novo. Acho
incrível como os alunos da periferia destroem a escola que é deles.
Folha - Como você conseguiu promover
alguma melhoria?
Alexandre - Juntei uns alunos e fui falar
para a direção que não estava satisfeito
com a administração da escola. Disse que
gostaria de formar um grupo com a comunidade, os pais dos alunos, os moradores e fazer um projeto. Entrar no grêmio ia ser muito burocrático. A situação
era emergencial. Até ter eleição, ganhar,
queria sair fazendo. Rápido e eficiente.
Folha - Qual o passo seguinte?
Alexandre - Formamos um grupo de
teatro, com aulas para os alunos e também para pessoas do bairro. A direção
trouxe um ator para ensinar expressão
corporal. Ensaiamos a peça "Romeu e Julieta". Tinha cenário e tudo.
Folha - E depois?
Alexandre - Comecei a querer ajudar a
comunidade com algo mais proveitoso
que o teatro. Fiz uma festa de Halloween
na escola. Tinha que pagar R$ 1 ou dar 1
kg de alimento não-perecível para entrar.
Foi um sucesso. Vieram mais de 600 pessoas. Arrecadamos R$ 200 e 450 kg de alimentos. Usamos o dinheiro para comprar cortinas para a escola, e o que sobrou ficou de caixa para outros projetos.
Os alimentos foram doados para os mais
carentes da comunidade. Depois organizei um desfile cívico com as escolas de
Taipas. Todo mundo compareceu com a
camisa das escolas. Foi a primeira vez que
vi os alunos com orgulho dos colégios.
Folha - Você já fez alguma coisa para limpar a escola?
Alexandre - A campanha do lixo, no ano
passado. Cada série pintava uma sala. A
mais bonita iria ganhar nota A no boletim. Antes disso, os alunos pichavam
muito. Depois que pintamos as salas, eles
passaram a respeitar.
Folha - O seu trabalho deu resultados?
Alexandre - Dá resultados imediatos.
Não é fácil criar consciência. Os alunos
não sentem que podem prosperar e não
dão valor para nada. Acho muito triste.
Eles depredam a escola como forma de
revolta. Eu sonho em ter uma escola limpa, sair da pobreza e vencer na vida. Queria que os outros sonhassem também.
Outro dia vi no jornal 120 pessoas concorrendo a vagas de gari por um salário
de R$ 220. Você estuda dez anos para
concorrer a uma vaga de gari. É revoltante os vereadores ganharem R$ 6.000, enquanto outros pais de família ganham R$
120. As pessoas tinham que se organizar e
protestar. Ninguém muda nada sozinho.
Se fosse por mim, mudava tudo.
Folha - Por que você faz isso?
Alexandre - Mesmo que os alunos não
percebam agora, no futuro vão entender
que a escola é o lugar mais importante
para eles. Pra mim, é legal porque estou
aprendendo com todo o tipo de gente.
Vai ser bom para o meu futuro.
Folha - Você já teve vontade de desistir?
Alexandre - Uma vez, no ano passado.
Fui às classes falar do estado das carteiras
e que o professor não conseguia dar aula
por causa da bagunça. Na 6º C, eles começaram a me vaiar. Depois eles me chamaram e pediram desculpas.
Folha - Você já sofreu alguma ameaça ou
agressão?
Alexandre - Fui maltratado por funcionários e pela direção no início. Mas os
alunos, no geral, são legais.
Folha - O que você quer ser no futuro?
Alexandre - Vou arranjar um emprego
para pagar uma faculdade de comunicação. Mas não acho essencial me formar.
Universidade não garante emprego. Tenho vontade de ser apresentador de TV
ou político.
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