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bem-estar
Permanência prolongada em certas posturas e exercícios respiratórios podem levar à queda de pressão e gerar mal-estar em idosos que praticam a atividade; a dica é adotar estilos suaves, como a hatha ioga clássica
Ioga sob medida
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Power, ashtanga, hatha,
raja, swasthya... A lista
de estilos de ioga é
longa e serve até de
trava-línguas. Mas, para quem
está na terceira idade, é bom
aprender esse vocabulário o
quanto antes: as diferenças de
um estilo para o outro podem
ser cruciais no resultado -positivo ou negativo- que a prática gera em idosos.
O pesquisador Marcio de
Moura Pereira, do Grupo de
Estudos e Pesquisas da Atividade para Idosos, da UnB (Universidade de Brasília), comparou três tipos de ioga com alunos de mais de 60 anos. Por seis
meses, alguns grupos praticaram a hatha ioga tradicional,
mais suave, e um grupo, com 34
idosos, fez aulas de power ioga e
de swasthya -método compilado pelo mestre De Rose.
No grupo que praticou power
e swasthya ioga, houve 12 casos
de queda de pressão e de síncope (desmaio) -a síncope é a segunda principal causa de quedas entre idosos, atrás da osteoporose, segundo o pesquisador.
Entre os alunos que praticaram hatha ioga tradicional, não
houve nenhum problema desse
tipo. No semestre seguinte,
quando todos os alunos só praticaram hatha ioga, nenhum
caso de queda de pressão ou
desmaio foi constatado.
Segundo Pereira, a power ioga tem muitos exercícios respiratórios (pranayamas) que podem levar à hiperventilação. Isso é inócuo em jovens, mas pode afetar idosos. Já a swasthya
exige a permanência em algumas posturas de 20 segundos a
três minutos. "Se a postura for
sentada, não há perigo. Mas, se
o idoso ficar numa postura estática, de pé, por mais de dez segundos, há o risco de síncope."
Outro estilo de ioga também
considerado dinâmico é a ashtanga, que deu origem à power,
diz Pereira. Entre os estilos
mais suaves estão a ayengar, a
raja e a hatha ioga clássica.
"A ioga tem mais de 6.000
anos. Ela começou como uma
ginástica para guerreiros. Os
monges a adotaram e a suavizaram um pouco. Depois, hospitais passaram a utilizar a ioga
na recuperação dos doentes. Isso tudo foi levando a estilos diferentes. Nenhum é bom ou
ruim: cada um tem uma indicação específica", afirma Pereira.
Entre as posturas mais arriscadas, estão os alongamentos
de tronco (tocar os pés com as
mãos) e de pescoço. "O de tronco comprime o abdômen. Aspirar nessa posição pode levar à
síncope", avisa o pesquisador.
Já alongar o pescoço, levando a
orelha em direção ao ombro,
comprime o nervo vago, o que
leva a um bloqueio da circulação. "O efeito é o mesmo de um
golpe de caratê: a diminuição
da oxigenação do cérebro."
Já pessoas com problemas
cardíacos devem evitar fazer
pranayamas durante algumas
posições, como a da vela (erguer os pés e o tronco na direção do teto), para não ter uma
descompensação arterial. A dica também vale para jovens
com deficiências cardíacas.
Por isso, é importante avisar
o professor sobre qualquer problema de saúde e ficar atento a
possíveis avisos do organismo,
como sensações de náusea, formigamento ou dormência,
mesmo que elas ocorram horas
depois da aula. Segundo Pereira, em pessoas com problemas
cardíacos, por exemplo, os efeitos adversos podem acontecer
até seis horas após a atividade.
Quem já pratica ioga há muito tempo não precisa levar esses alertas ao pé da letra, pois já
tem um bom condicionamento.
As pessoas mais vulneráveis
são aquelas com um histórico
de sedentarismo que iniciaram
a atividade há menos de três
anos. Essas devem adotar os estilos mais suaves.
Todas, porém, devem prestar
atenção aos próprios limites,
diz Márua Pacce, do Núcleo de
Yoga Ganesha, em São Paulo.
"O corpo tem de estar firme e
confortável. Você não deve seguir o outro, mas o seu processo, sem se violentar para chegar
à postura", afirma.
Praticada adequadamente,
as vantagens da atividade são
muitas. "Eu me sinto outra pessoa depois da aula, com auto-estima e autoconfiança muito
grandes. No meu caso, a ioga
até ajuda a estabilizar a hipertensão", afirma Cecília Barros,
87, que pratica hatha ioga.
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