São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2007
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bem-estar

Permanência prolongada em certas posturas e exercícios respiratórios podem levar à queda de pressão e gerar mal-estar em idosos que praticam a atividade; a dica é adotar estilos suaves, como a hatha ioga clássica

Ioga sob medida

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Power, ashtanga, hatha, raja, swasthya... A lista de estilos de ioga é longa e serve até de trava-línguas. Mas, para quem está na terceira idade, é bom aprender esse vocabulário o quanto antes: as diferenças de um estilo para o outro podem ser cruciais no resultado -positivo ou negativo- que a prática gera em idosos.
O pesquisador Marcio de Moura Pereira, do Grupo de Estudos e Pesquisas da Atividade para Idosos, da UnB (Universidade de Brasília), comparou três tipos de ioga com alunos de mais de 60 anos. Por seis meses, alguns grupos praticaram a hatha ioga tradicional, mais suave, e um grupo, com 34 idosos, fez aulas de power ioga e de swasthya -método compilado pelo mestre De Rose.
No grupo que praticou power e swasthya ioga, houve 12 casos de queda de pressão e de síncope (desmaio) -a síncope é a segunda principal causa de quedas entre idosos, atrás da osteoporose, segundo o pesquisador.
Entre os alunos que praticaram hatha ioga tradicional, não houve nenhum problema desse tipo. No semestre seguinte, quando todos os alunos só praticaram hatha ioga, nenhum caso de queda de pressão ou desmaio foi constatado.
Segundo Pereira, a power ioga tem muitos exercícios respiratórios (pranayamas) que podem levar à hiperventilação. Isso é inócuo em jovens, mas pode afetar idosos. Já a swasthya exige a permanência em algumas posturas de 20 segundos a três minutos. "Se a postura for sentada, não há perigo. Mas, se o idoso ficar numa postura estática, de pé, por mais de dez segundos, há o risco de síncope."
Outro estilo de ioga também considerado dinâmico é a ashtanga, que deu origem à power, diz Pereira. Entre os estilos mais suaves estão a ayengar, a raja e a hatha ioga clássica.
"A ioga tem mais de 6.000 anos. Ela começou como uma ginástica para guerreiros. Os monges a adotaram e a suavizaram um pouco. Depois, hospitais passaram a utilizar a ioga na recuperação dos doentes. Isso tudo foi levando a estilos diferentes. Nenhum é bom ou ruim: cada um tem uma indicação específica", afirma Pereira.
Entre as posturas mais arriscadas, estão os alongamentos de tronco (tocar os pés com as mãos) e de pescoço. "O de tronco comprime o abdômen. Aspirar nessa posição pode levar à síncope", avisa o pesquisador. Já alongar o pescoço, levando a orelha em direção ao ombro, comprime o nervo vago, o que leva a um bloqueio da circulação. "O efeito é o mesmo de um golpe de caratê: a diminuição da oxigenação do cérebro."
Já pessoas com problemas cardíacos devem evitar fazer pranayamas durante algumas posições, como a da vela (erguer os pés e o tronco na direção do teto), para não ter uma descompensação arterial. A dica também vale para jovens com deficiências cardíacas.
Por isso, é importante avisar o professor sobre qualquer problema de saúde e ficar atento a possíveis avisos do organismo, como sensações de náusea, formigamento ou dormência, mesmo que elas ocorram horas depois da aula. Segundo Pereira, em pessoas com problemas cardíacos, por exemplo, os efeitos adversos podem acontecer até seis horas após a atividade.
Quem já pratica ioga há muito tempo não precisa levar esses alertas ao pé da letra, pois já tem um bom condicionamento. As pessoas mais vulneráveis são aquelas com um histórico de sedentarismo que iniciaram a atividade há menos de três anos. Essas devem adotar os estilos mais suaves.
Todas, porém, devem prestar atenção aos próprios limites, diz Márua Pacce, do Núcleo de Yoga Ganesha, em São Paulo. "O corpo tem de estar firme e confortável. Você não deve seguir o outro, mas o seu processo, sem se violentar para chegar à postura", afirma.
Praticada adequadamente, as vantagens da atividade são muitas. "Eu me sinto outra pessoa depois da aula, com auto-estima e autoconfiança muito grandes. No meu caso, a ioga até ajuda a estabilizar a hipertensão", afirma Cecília Barros, 87, que pratica hatha ioga.


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