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coluna social
Antigo lixão vira palco de festa e sede de ONG
ELKA ANDRELLO FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ex-empregada doméstica, Maria Aparecida de Carvalho, 34, virou "pizzaiola",
no pequeno negócio que montou, e educadora voluntária! Ensina culinária, capoeira e artesanato para crianças da favela Zaira, em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo. Sua ONG, que ainda não
tem nome, nasceu de uma quermesse
que ela resolveu promover num terreno
onde funcionava clandestinamente um
lixão.
A idéia surgiu como forma de levar um
pouco de diversão para uma área extremamente carente e mergulhada no tráfico de drogas, segundo ela. Era uma forma de retribuir a ajuda que ela recebeu na
infância. "A mesma força que me deram
quando era criança, eu tento agora ajudando essa molecada", diz.
A idéia da quermesse se transformou
em ONG e, neste Natal, haverá uma grande ceia para 300 crianças. Para Carvalho,
já não importa mais se é quermesse ou
Natal, as crianças são agora a sua grande
festa. Leia a entrevista abaixo.
Folha - Como começou seu projeto?
Maria Aparecida de Carvalho - Morei a
vida toda em Cidade Ademar. Como era
um lugar sem nenhuma opção de lazer,
tive a idéia de fazer uma quermesse nos
finais de semana de junho, julho e agosto.
Iam por volta de mil pessoas. Hoje, o projeto funciona no mesmo terreno da quermesse, onde era um lixão. Na época, limpamos o terreno e entramos. O dono ficou sabendo e apareceu, mas emprestou
para a quermesse. Hoje pagamos aluguel.
Folha - E como a quermesse virou ONG?
Carvalho - Existe uma favela próxima ao
terreno da quermesse, e as crianças ficavam comigo, ajudando nos preparativos
para a festa. Às vezes, umas até dormiam
no terreno, e eu comecei a ajudá-las informalmente. Até que, naturalmente,
acabamos montando uma entidade, que
ainda não tem nome, mas o espaço é conhecido como quermesse.
Folha - Como funciona o seu projeto?
Carvalho - As crianças de sete a 14 anos,
moradoras da favela Zaira, vêm todos os
dias, das 13h às 17h, para fazer artesanato
e aula de capoeira, teatro e culinária. Em
janeiro, vão ter aula de costura. As pessoas que trabalham na ONG são todas
amigas e trabalham como voluntárias.
Folha - E como é a vida delas?
Carvalho - A maioria não sabe ler nem
escrever. Essa é a primeira preocupação.
Na porta da favela, tem tráfico de drogas,
prostituição. As minhas crianças, eu peguei antes de se envolverem com essas
coisas. Mas já perdi duas que foram assassinadas por traficantes da região.
Folha - Você acredita que esse trabalho
melhora a auto-estima delas?
Carvalho - Elas estão mais vaidosas. Ensino coisas de higiene, como cortar unha,
andar com cabelo preso, tomar banho,
escovar os dentes, coisa que elas não faziam. Vinham muito sujas.
Folha - Quais os seus próximos planos para ONG?
Carvalho - Vou fazer jardinagem junto
com as crianças nas praças e áreas abandonadas para o bairro ficar mais bonito.
E elas vão aprender e poderão passar essas coisas boas para as outras crianças.
Neste ano, pela primeira vez, vou fazer
uma festa de Natal. Vamos arrecadar presentes com os vizinhos e comidas gostosas para as 300 crianças da região.
Para doações: tel. 0/xx/11/5564-5121, com Maria
Aparecida de Carvalho
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